Frente Antifascista debate perseguições a professores e censuras nas escolas

 

A Frente Parlamentar Antifascista realizou, na quarta-feira (20/03), audiência dedicada a abordar as perseguições e censuras que os professores têm enfrentado sob o pretexto da suposta “doutrinação ideológica”. O debate contou com as presenças do deputado Leonel Radde, organizador do evento, Valdete Dias representando o Cpers-Sindicato, Cristiane Johan representando a Defensoria Pública, Jussemar da Silva, professor e diretor de escola, e Renato Levin, professor e pesquisador sobre o fascismo no mundo.

Radde explicou que a audiência foi motivada por uma Frente que tem o objetivo de intimidar professores da rede pública. “A informação sobre essa frente que incentiva denúncias sobre o trabalho de educadores representa, inclusive, um desvio nas finalidades das frentes parlamentares e nos preocupa muito. Por isso decidimos construir este encontro”.

Valdete Dias saudou a iniciativa e falou sobre a preocupação do Cpers sobre o tema. “O extremismo que hoje divide a sociedade entre o bem e o mal chegou às escolas. A educação movimenta as estruturas, por isso se transformou em um território de disputa. Estamos vivenciando atitudes fascistas e a escola tem a obrigação moral de fazer o combate. Não podemos mais assistir professores sendo criminalizados e marginalizados pelo simples fato de exercerem sua profissão”.

Representando a Defensoria Pública, Cristiane Johan relatou que a Associação dos Defensores Públicos vem se organizando para apoiar professores. “Quando percebemos que os movimentos de extrema-direita e intolerância estava se fortalecendo implantamos o projeto de educação para direitos humanos para apoiar os professores. Identificamos que, nos últimos três anos, o número de células neonazistas aumentou em 200%. Por isso estamos visitando escolas para ouvir e orientar juridicamente a comunidade escolar que se sente ameaçada nos seus direitos”.

O professor e diretor de escola Jussemar da Silva falou sobre o direito de ensinar e de aprender. “Quando assistimos pais constrangendo professores quem perde é a sociedade. Para além das questões jurídicas precisamos garantir que o professor transmita o conhecimento. A atitude de amedrontar quem ensina faz com que o ambiente não seja propício para o desenvolvimento do aluno na sua cidadania ativa”.

O professor e pesquisador do fascismo Renato Levin explanou sobre o que chamou de trapaça de narrativa da extrema direita atual e outras estratégias. “Vemos atualmente o deslocamento do debate da educação para o pânico moral. Fazer com que o professor se sinta vigiado o tempo todo já é a vitória dos grupos extremistas. Passou-se a falar de ideologia quando alguns debates como o racismo, o machismo e a homofobia vieram à tona. A ideologia na escola só passou a ser um problema quando questões que atentam contra a estrutura moral de poder foram colocadas em cheque e trabalhadas em sala de aula. Portanto o jogo da extrema direita não é sobre educação e sim sobre pânico moral e pauta moral”.

Para finalizar, Radde destacou a falsa narrativa da ideologização nas escolas. “Se houvesse de fato uma ideologização no ensino médio ou fundamental, se os jovens estivessem sendo doutrinados a gente teria que debater que nunca existiu comunismo marxista no mundo ou veríamos jovens repetindo lemas nazistas como: Deus, Pátria e Família? Então, o fato é que os professores estão adoecendo e tendo que recuar de promover debater relevantes e científicos. Isso é típico do fascismo. Por fim, colocamos a Frente Parlamentar Antifascista à disposição para debater essa e outras pautas que precisam de apoio para enfrentar toda forma de repressão e censura no combate ao fascismo”.

 

Texto e foto: Luciana Fagundes – MTB 21087