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O economista Marcio Pochmann fez uma análise da conjuntura política e social no Brasil, durante reunião virtual com a bancada do PT na Assembleia, na tarde desta quarta-feira (10). Conforme o pesquisador e professor da Unicamp, o Brasil vive um momento de grande divisão na classe trabalhadora com fragmentação das ocupações informais sem uma perspectiva futura.
Para Pochmann, é preciso fazer oposição às análises difundidas na grande mídia de que o Brasil está vivendo em um mesmo período histórico com mudanças que vem de fora do país, pois temos dificuldade de atuar e de se acomodar às mudanças externas. Também contrapôs o argumento dos críticos progresso tecnológico como destruidor de empregos. “Estudos mostram que os países que investem em desenvolvimento tecnológico são os que apresentaram os menores índices de desemprego. Ao passo que os que menos investiram, mais desemprego apresentaram”, argumentou.
Segundo o economista, estamos vivendo uma mudança de épocas, da industrial para a digital, a qual influencia a política, a economia, a cultura, o modo de vida dos brasileiros. “Isso pode ser comparado com as décadas de 1980 e 1930 (quando o país saiu do mercantilismo e entrou no capitalismo). Não dava para o país continuar sendo um país agrário. Precisava haver uma transição para a produção industrial. Demos um salto enorme em 50 anos. O país mudou materialmente, mas trouxe ranços do passado”.
Os acontecimentos que estamos vendo hoje, afirma Pochmann, são consequências dos últimos 200 anos. Por volta do ano 1800, 35% da população mundial vivia no império Hindu, que respondia por 55% da riqueza do mundo; e a partir da primeira revolução industrial, o Reino Unido transforma-se no centro do mundo e a América Latina passa a ser fornecedora de matéria prima para a Inglaterra. Já os EUA, com dólar, forças armadas e mudanças tecnológicas, é um país que não depende tanto de matéria-prima quanto a Inglaterra. Já na década de 80, 2/3 das exportações do Brasil são de manufaturas. “É inegável que hoje a China se transforma no centro produtivo, mas o país tem um déficit comercial e de alimentos e matérias primas. Com isso o Brasil passa a ser fornecedor e a viver um neo-extrativismo”.
De acordo com Pochmann, houve um inchamento do setor terciário e como a economia não cresceu, mas a população continuou crescendo, o que a política terminou fazendo foi tentar gerir a massa sobrante”. As tentativas de gestão levaram essa massa sobrante a ser incorporada em benefícios que vinha do orçamento. Ou seja, recursos públicos. “Em 85 tínhamos 2,7% da população que dependiam de transferência de renda do estado. Em 2019, passamos a ter 27% da população vivendo da transferência de renda. No passado chegamos a ter 40% da população. Obviamente que isso tem limite em uma economia que não cresce. Estamos vivendo uma fase de decrescimento”.
Outra forma de gerir a massa sobrante, afirmou o economista, foi através do estado policial, com a prisão de parte da massa que não se enquadra nas políticas de transferência de renda. Ao mesmo tempo, em que houve uma multiplicação da população carcerária, o crescimento da violência e o número de homicídios explodiram no Brasil. “Se formos analisar quem está sendo assassinado é negro e pobre. A massa sobrante que não tem espaço no capitalismo”.
Texto: Claiton Stumpf – MTb 9747