Olga Benário, Presente!

Olga Benário, Presente!

 

O dia 23 de abril marca 78 anos da execução de Olga Gutmann Benário Prestes com mais 199 prisioneiras, na câmara de gás, em um campo de concentração em Bernburg. Olga era uma jovem e preparada militante que veio ao Brasil, por determinação da Internacional Comunista, para apoiar o Partido Comunista Brasileiro e fazer a segurança de Luiz Carlos Prestes, em 1935. Lutou em nosso país até ser presa e enviada grávida para a Alemanha nazista em 1936, onde permaneceu até ser assassinada.

Ao lado de Prestes, Olga participou de um levante armado iniciado na cidade de Natal (RN) e que se estendeu ao resto do país. O episódio ficou conhecido como Intentona Comunista. Depois dela, Olga e Prestes viveram na clandestinidade por mais alguns meses, mas acabaram presos em 1936. Na prisão, Olga descobriu que estava grávida de Prestes. No mesmo ano, foi deportada para a Alemanha Nazista.

Confira abaixo a carta de despedida, escrita por Olga às vésperas da sua execução: 


“Queridos: Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora.

É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica… Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.

Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos.

Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha? Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível.

É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim.

Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até o ultimo momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã.

Beijos pela última vez. Olga”