quarta-feira, 16 abril

 

 

A constituição de uma Comissão Permanente para Acompanhamento das Obras na RSC-287, o compromisso da concessionária Sacyr de reduzir já as filas decorrentes dos “para e siga” existentes na saída de Santa Maria e a construção de uma rua secundária ao trecho que está sendo duplicado no município de Tabaí foram alguns dos resultados da audiência pública realizada nesta terça-feira (15), na Assembleia Legislativa. Proposta pelo deputado Valdeci Oliveira, a atividade reuniu diversos prefeitos, vereadores e lideranças dos municípios que ficam na área de abrangência da 287, estrada que liga às regiões Central, Vale do Rio Pardo e Vale do Taquari à Região Metropolitana de Porto Alegre. Outra forte cobrança realizada na audiência foi sobre o cronograma de reconstrução da ponte sobre o Arroio Grande.

Nem o representante da Secretaria Estadual da Reconstrução Gaúcha (SERG), Diego de Campos (que representou o titular da pasta, Pedro Capeluppi), nem o diretor da Sacyr presente, Leandro Conterato, anunciaram datas, apesar da insistência do deputado Valdeci, que questionou isso com ênfase no final da audiência. Mas Campos foi taxativo sobre o assunto. “A ponte (sobre o Arroio Grande) está liberada para iniciar a obra. Não existe nenhuma restrição por parte do Estado para o início da ponte, sentido oeste, de Arroio Grande”, afirmou. Já Conterato, da Sacyr, afirmou que existe ainda a necessidade de adequação de uma etapa complementar do projeto técnico da ponte, que é o trecho de acesso à estrutura que será reconstruída, o que levará mais algum tempo. “A obra inicia quando antes, desde que vencida a questão da aprovação do projeto (da 2ª etapa)”, afirmou.

O deputado Valdeci afirmou que a ideia da audiência foi ouvir todos atores envolvidos e atingidos pelos desdobramentos das obras da 287. “Não temos nenhuma contrariedade à duplicação. Ela é fundamental para a região para a ligação com a região central do estado. O que achamos é que uma empresa da importância da Sacyr precisa esclarecer uma série de questões junto às comunidades, que pagam cinco pedágios de Santa Maria até Porto Alegre. É preciso ter uma relação de transparência e um cronograma organizado”.

Valdeci também criticou a falta de organização na execução das obras. “É inadmissível que ainda não esteja pronto o projeto para a construção de uma ponte que caiu há quase um ano. Nunca vi um pare e siga tão desorganizado quanto ao próximo à chegada de Santa Maria. Na região de Santa Maria e da Quarta Colônia, nem a duplicação está sendo realizada. A parada de uma hora ali, como aconteceu comigo nesta semana, ocorre em função de obras pontuais”, apontou, defendendo um planejamento.

Já o prefeito e Agudo, Luiz Henrique Kittel, entende que o principal gargalo da obra da RSC-287 é em Santa Maria e reforçou que a comunidade não é contrária aos pedágios, mas sim com a morosidade na obra. “Precisamos de uma abertura melhor para saber de fato o que está acontecendo. Toda obra causa transtorno, mas por enquanto está muito embaçado. Em um trajeto que demorava 50 minutos, hoje levamos mais de duas horas até Santa Maria”, relatou.

O prefeito Lucas Michelon, de Pinhal Grande e presidente do Consórcio de Desenvolvimento Sustentável da 4ª Colônia, reclamos dos impactos negativos gerados para o turismo da Região da Quarta Colônia, que recentemente foi reconhecida como um dos geoparques da Unesco. “Só queremos que a a nossa região seja lembrada pela Sacyr assim como foi lembrada na colocação do pedágio, que foi instalado de maneira estratégica, pegando todo o desafogo da Quarta Colônia. Não somos contra o pedágio nem contra a obra, mas precisamos um plano B”, justificou.

O vereador Marcelo Bisogno, que é presidente da Comissão Especial da RSC-287 na Câmara de Santa Maria, avalia que Santa Maria e a Quarta Colônia estão vivendo o “total descaso e desprezo por parte do governo estado”. Ele recordou que Santa Maria é a quinta maior cidade do Rio Grande do Sul, representa o segundo contingente militar do Brasil e possui uma universidade federal, a UFSM, que possui milhares de estudantes e presta serviços para todo estado por meio do Hospital Universitário (Husm). “Essa rodovia é internacional, e o governo do estado não se deu por conta disso. Não olhou para a região Central, não olhou para a metade Sul e não olhou para o Mercosul. Essa rodovia nos leva a São Borja e é caminho para a Argentina. Hoje nós, santa-marienses, para irmos a dois distritos locais que não tem farmácia e mercado, precisamos pagar pedágio”, ponderou.

Também presente na audiência, o vereador Sidinei Cardoso lembrou que recursos não faltam para as melhorias e a agilização das obras na RSC-287. “Foi aprovado pelo governo federal, o não pagamento por 36 meses da dívida do estado com a União, o que representa R$ 14 bilhões, mais um fundo de R$ 6,5 bilhões (para a reconstrução). O estado tem que imediatamente aportar, via Funrigs, recursos nesse contrato, pois, do contrário, vai aumentar a tarifa, a concessionária vai pedir reequilíbrio”, reforçou.

 

Tabaí

 

A audiência também abordou as demandas trazidas pelo prefeito de Tabaí, Anderson Vargas, cuja cidade experimenta uma série de entraves gerados pelos serviços de duplicação da 287, que lá estão em andamento. Ele, que estava acompanhado de representantes da comunidade e de vereadores locais, reivindicou a construção de uma terceira passarela sobre a rodovia, a viabilização de um acesso secundário e a não substituição de uma ponte por galerias. Vargas avalia que substituir uma ponte com 50 metros de vazão por três galerias de 12 metros vai gerar graves problemas em qualquer grande chuva. Também apontou que comerciantes localizados na rua lateral precisam de um acesso. “As pessoas podem perder até a vida com essa substituição (da ponte) em razão das cheias que podem ocorrer. Outro ponto importante é a rua lateral, que precisamos garantir. Eles vão colocar guard rails (grades de proteção) para as pessoas não poderem acessar a 287. Ninguém quer invadir a 287. As pessoas só querem poder acessar a 287. Queremos que exista pelo menos uma entrada no bairro, onde vivem mais de 300 famílias. Tem comércio ali que vai fechar e outros que já fecharam”, afirmou.

Um dos pleitos de Tabaí, a inclusão da rua marginal ao projeto de duplicação, foi assegurado pela Secretaria Estadual da Reconstrução. Já a passarela e a ponte serão reavaliadas pela SERG. O deputado Halley Lino cobrou o governador do Estado, Eduardo Leite, sobre a situação registrada na 287. “A responsabilidade desta obra é do estado do Rio Grande do Sul, do governador e dos secretários que precisam escutar o clamor. É preciso sensibilidade, e o governo precisa entender que tem que tomar conta deste assunto. O governo não pode deixar que a Sacyr resolva as coisas. Ela não resolverá”.

Carlos Alvin, diretor-geral da Agergs, explicou que obras não realizadas no período apropriado do contrato têm o seu valor descontado da tarifa. As preocupações expostas pelo prefeito e pela comunidade de Tabaí têm o respaldo da Defensoria Pública do Estado, que já foi acionada para ajudar na resolução dos problemas (ponte, rua secundária e passarela). “Diante das mudanças climáticas, a defensoria entendeu que o projeto deve ser revisto, com a comunidade, para se avaliar se essas três galerias darão conta do escoamento da água”, complementou o defensor público, Rodolfo Malhão. 

 

Texto: Claiton Stumpf – MTb 9747 e Tiago Machado – MTE 9.415

Foto: Vanessa Vargas 

 

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