Grupo de trabalho vai atuar para garantir fornecimento de sensor de glicemia para diabéticos

Grupo de trabalho vai atuar para garantir fornecimento de sensor de glicemia para diabéticos

Um grupo de trabalho, formado por médicos, pacientes, familiares, deputados e representantes de entidades e de órgãos públicos, terá a missão de convencer a Secretaria Estadual de Saúde a assegurar gratuitamente aos pacientes com diabetes o FreeStyle Libre, sensor de glicemia que livra os portadores da doença das incontáveis picadas de agulhas nos dedos durante o dia. Este foi o principal encaminhamento da audiência pública realizada na noite desta segunda-feira (11), na Assembleia Legislativa, para discutir o assunto. A proposição foi do deputado Valdeci Oliveira (PT), que presidiu o encontro. “Esta audiência não é terminativa, é o primeiro passo. E quem está na luta sabe que são vários os passos a serem dados. Mas tenham certeza que este é um processo absolutamente unificado na sua compreensão”, afirmou o parlamentar na abertura dos trabalhos. “Em julho passado, tivemos a oportunidade de visitar o Instituto da Criança com Diabetes (ICD), vinculado ao Grupo Hospitalar Conceição (GHC), estrutura federal 100% SUS, e verificamos a excelência do trabalho realizado pela equipe. E a principal demanda apresentada naquele momento foi justamente discutir esse tema, a relevância e importância do protocolo praticado aqui no RS prever a oferta, principalmente porque também estamos falando de um grande contingente de crianças”, justificou Valdeci à realização do encontro.

Nas falas dos presentes – de familiares de pacientes a representantes da OAB, do Ministério Público e do próprio ICD, se trata de salvar vidas, oferecer qualidade e segurança no dia a dia a quem já enfrenta uma rotina difícil. Além de dialogar com a secretária Arita Bergmann, o grupo pretende fazer contato com o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, que representa os usuários na Comissão de Incorporação de Tecnologias ao SUS, para que ele seja o porta-voz do movimento em nível nacional. Outra tarefa será a elaboração de um projeto piloto para contemplar os pacientes do ICD e a busca de emendas parlamentares para financiar a compra dos sensores. “Sabemos que a liberação precisa passar pela Conitec, mas nada impede que o Estado e os municípios instituam políticas para garantir o sensor, como já acontece em diversas cidades brasileiras. Estamos convencidos que a medida representa uma economia, pois a prevenção sempre custa menos do que tratar as complicações”, defendeu Valdeci.

O sensor fica grudado na parte superior posterior do braço e faz, sem picadas ou dor ao paciente, leituras contínuas a cada um minuto, armazenando até 8 horas de dados de glicose e dura 14 dias. O custo, porém, fica próximo a R$ 300 por quinzena para o usuário. “Este é o preço para o consumidor final. No entanto, se for adquirido em escala, o valor cai”, apontou o vice-presidente do Instituto, Balduíno Tschiedel.

Qualidade de vida
No Brasil, 14,3 milhões de pessoas convivem com o diabetes. Deste total, 700 mil estão no Rio Grande do Sul, o que faz do estado o terceiro com maior prevalência com diabetes tipo 1 nacionalmente. O Brasil é o quarto país do mundo com mais crianças com diabetes tipo 1, somente atrás da China, Índia e dos Estados Unidos. São 30,9 mil crianças diabéticas, na faixa de 0 a 14 anos, sendo cerca de nove mil no RS. A endocrinologista pediátrica Márcia Puñales alertou que o Diabetes Mellitus (tipo 1) está entre as doenças que mais matam. Trata-se de uma enfermidade metabólica caracterizada pelo aumento anormal de glicose (açúcar) no sangue para a qual ainda não haja uma cura definitiva, mas que pode ser controlada pela aplicação de insulina, plano alimentar adequado, prática de atividade física e monitorização da glicose. Se não for tratada, se transforma na causa mais comum de amputações de membros inferiores não-traumáticas, cegueira irreversível e doença renal crônica. A grande vantagem do FreeStyle Libre, segundo Márcia, é a monitorização contínua, permitindo a exposição do perfil glicêmico no decorrer de 24 horas. “O sensor mostra mais do que a glicemia estática, obtida pelos testes, indicando os tempos em que a glicemia esteve na meta, abaixo ou acima”, explicou.  A representante da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes, Vanessa Pirolo, ressaltou que o uso do sensor pode retardar ou evitar complicações da diabetes e que reduz cerca de 33% das hospitalizações por conta da doença.

Conitec
A representante da Secretaria Estadual de Saúde, Karine Amaral, apresentou as etapas do processo de incorporação de tecnologia ao SUS, via Conitec. Ela disse que o processo é demorado e que o primeiro passo é a elaboração de um dossiê, contendo os benefícios e o impacto financeiro do tratamento, entre outros aspectos. Também se manifestaram a defensora pública Liziane Paz Deble; as promotoras Cristiane Della Mea e Carine Viana Borges; a presidente da Associação dos Diabéticos de Novo Hamburgo, Rosana Blankenheim; o representante da OAB Lucas Lazzretti; pais e pacientes com diabetes, que lotaram o Plenarinho da Assembleia Legislativa. Mais de cem pessoas acompanharam a reunião por meio virtual.

Urgência
O Instituto da Criança com Diabetes comunica que cerca de 135 pacientes da instituição vivem na região afetada pelas enchentes dos últimos dias no Vale do Taquari. Segundo a nota, como muitos estão incomunicáveis e sem acesso a recursos básicos, equipes estão identificando todos e fazendo uma busca ativa nos endereços cadastrados para levar insulinas, glicosímetros e outros insumos necessários até suas respectivas cidades. Quem foi afetado ou tem familiares nesta situação pode entrar em contato através do WhatsApp (51) 98168-1654.

Texto: Tiago Machado – MTE 9.415 e Marcelo Antunes – MTE 8.511
Fotos: Christiano Ercolani