A incapacidade e a incompreensão de autoridades governamentais de conduzir a crise sanitária produzida pela covid-19 em solo brasileiro, que por si só já tinha um potencial letal enorme, amplificou a tragédia humana que infelizmente nos assola.
Da irresponsável previsão inicial de que era uma “gripezinha”, passando pela inanição na busca de vacinas, chegando à postura de autoridades zombarem do distanciamento social e do uso de máscaras, o que vimos foi uma intencionalidade em frustrar as medidas mínimas de prevenção que o momento crítico exigia.
Desafortunadamente, este é o lamentável estado a que chegamos, números enormes de perdas de vidas humanas, absolutamente inaceitáveis, com previsões de crescimento geométrico ainda pela frente, jogando no cesto de lixo nosso capital histórico e de sucesso nas vacinações em massa, que construímos como referencial e imagem universal.
A decorrência disto é que esta descrença nas evidências científicas só amplificou nossas já frágeis possibilidades de enfrentamento do potencial pandêmico. E exatamente quando a importância da ciência na vida das pessoas, nas relações de trabalho, nos resultados da economia e na soberania do país passou a ocupar um papel fundamental, sobretudo nestes tempos de valoração de ativos intangíveis, está em curso pelo Executivo nacional o aprofundamento da interferência na política de contingenciamento no principal instrumento de financiamento à pesquisa brasileira, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT. Que poderá vulnerabilizar o principal instrumento de fomento que nos trouxe até aqui, que formou cientistas, que produziu talentos e criou um capital científico-tecnológico invejável, referência mundial, que nos posicionou em fronteiras digitais, quânticas, inovativas, sustentáveis e farmacológicas, dentre outras, e nos conferiu também capacidade para testar e produzir vacinas, ou mesmo fazer mapeamentos genéticos de novas variantes.
E quando mais precisaríamos deles, os recursos que já estavam escassos, parecem também estar contaminados pela soturna combinação de vivermos tempos sem chão e submetidos ao obscurantismo, onde malfadadamente coabitam duas pandemias: a covid-19 e o negacionismo.
Adão Villaverde, engenheiro e professor de gestão do conhecimento e da inovação