Dois terços dos leitos abertos para Covid já foram fechados, alerta especialista

Dois terços dos leitos abertos para Covid já foram fechados, alerta especialista

O coordenador geral da Rede Brasileira de Cooperação em Emergências (RBCE), Armando de Negri Filho, criticou o fechamento dos leitos hospitalares para tratamento da Covid-19 no Brasil, em plena pandemia, e com o número de casos em uma crescente. O alerta foi realizado na reunião da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia, durante os assuntos gerais. O médico, especialista em emergências e doutor em Políticas e Sistemas de Saúde, disse que esses dados publicados na imprensa hoje são muito preocupantes. Ele compareceu à reunião da comissão atendendo convite do deputado estadual Valdeci Oliveira (PT).

Na sua exposição sobre “Os direitos humanos na atenção às urgências e no acesso hospitalar do SUS em tempos de Coronavírus: pacientes e profissionais no centro da crise e seus papéis na construção do futuro”, Armando Filho lembrou que todas as habilitações de leitos para Covid-19 foram temporárias. Encerrado o prazo de habilitação, o Ministério da Saúde deixa de aportar recursos para manter estes leitos. A notícia sobre o fechamento acontece na semana em que o RS volta a ter UTIs lotadas em algumas regiões com novos casos da doença.

O médico oficializou o convite aos parlamentares titulares da Comissão de Saúde para participação no I Congresso Brasileiro de Política e Sistemas de Atenção às Urgências e Acesso Hospitalar, que está sendo realizado pela RBCE. De acordo com o especialista, o Brasil deve aproveitar este momento da pandemia para debater uma reforma da estrutura hospitalar. Ele lembrou que a estrutura brasileira é um arranjo de pré-SUS. “Precisamos enfrentar, como fizeram Alemanha e Canadá, o tempo de espera de atendimento nas urgências e emergências. Nestes países fica entre quatro e oito horas no máximo. Hoje, em Porto Alegre, tem mais de 200 pacientes nos serviços de urgência esperando hospitalização para tratamento”, destacou.

Armando Filho ressaltou que esse tempo de espera é decisivo no agravamento de doenças e nos riscos de óbitos. Diante disso, defendeu a manutenção das estruturas abertas para tratamento da Covid-19. “Nossa bandeira é termos quatro leitos hospitalares para cada mil habitantes. Hoje, se contarmos só os utilizáveis no país, temos 0,7 leitos para cada mil habitantes”, apontou. Outro ponto abordado pelo médico foi o tema da transparência. “Precisamos avançar neste debate estrutural para que possamos ter, assim como hoje temos o Painel Covid diário, o painel diário da ocupação de leitos, de emergências, de filas de espera”, defendeu.

Para o deputado Valdeci Oliveira, é muito preocupante ver leitos sendo desativados, quando as notícias do dia apontam altas taxas de ocupação em UTIs, que em algumas cidades chegam a 100%. “Fechamento de leitos, volta às aulas, retomada de diversas atividades que incentivam aglomerações, rejeição de vacinas, crescimento no número de casos, mortes diárias na casa das centenas são fatores que formam uma equação macabra”, comentou Valdeci.

Eliane Silveira – MTB 7193