sexta-feira, 22 novembro

Enfim, a primavera! Estação das flores, dos amores, da floração da alma, da vida que renasce da resistência; dos pássaros que encantam com seus cantares; das estrelas, pois elas brilham mais, trazendo luzes de mudanças; das mil fontes e bandeiras a revoar pelo país. Adiante vamos, todos, com a esperança dos jovens e as geografias de rios e caminhos que cortam mãos calejadas pelo tempo.

Que importa se insistem eles em nos tirar o sonho de um país justo, igualitário, construído com palavras de paz e de amor. Um país do sentimento estendido ao outro em solidariedade. Que venham ventos desnorteados e palavras insensíveis, agregadas em ódio e violência. Nada nos fará enfraquecer. A nossa utopia continua viva a nos embalar.

O país tem a democracia, sempre parceira na busca da verdade e de dias melhores. Foi por meio dela que alcançamos a Constituição Cidadã. É com ela que buscamos o respeito às diferenças e às diversidades, o combate à intolerância, ao racismo e à discriminação, a igualdade de direitos e de oportunidades, a saúde e a educação, o emprego e a renda.

A democracia brasileira está se consolidando, reafirmando a nossa condição de país livre e contrário a qualquer aventura irresponsável. Não há nenhum sistema melhor. Apesar das imperfeições, a democracia ainda é a melhor estrada para se combater a pobreza e a miséria, para se alcançar o crescimento, o desenvolvimento sustentável com soberania.

Mas é preciso muita vigilância. Governos instáveis, que atacam os direitos humanos, incentivam o ódio ideológico, que só buscam o poder para manter viva uma estrutura de dominação de uma minoria, que se isolam do mundo, de nada contribuem para o fortalecimento da democracia e da governança do país. E, quando isso acontece, a sociedade entra em descaminho; os poderes constituídos acusam desconforto.

Temos enormes desafios pela frente. Cuidar do povo, acalentar suas angústias, lágrimas, insônias; semear, observar a chuva caindo, acarinhar o que está nascendo e crescendo, repartir o pão que da terra brotou. Há de se ter muita indignação para fazer o bom combate e lutar a boa luta. São tão somente nossas inquietações que farão com que os nossos passos pisem firmes no chão.

Para sermos um grande país é preciso que tenhamos justiça social. Ela se estabelece, primeiramente, pela vontade política; segundo, pela coalizão das forças populares, humanistas e progressistas. De alguns anos para cá, perdemos o rumo. Está na hora de retomarmos a nossa condição histórica que, até bem pouco tempo, deu início a grandes transformações sociais e econômicas.

Retomemos um projeto que olhe para todos: homens e mulheres, brancos e negros, indígenas, descendentes de imigrantes, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade; empreendedores com responsabilidade social. Uma proposta que valorize o salário mínimo, a indústria nacional e as micros e pequenas empresas, a ciência e tecnologia, a agricultura familiar, que cuide do meio ambiente.

Enfim, a primavera! Estação para se deixar de lado as desavenças, os desentendimentos, as brigas internas. É hora de não mais esperar o sol nascer; é o tempo preciso para voltar a amassar o barro com os pés e com as mãos, de se construir um projeto que traga luz e esperança ao nosso povo, não como mais uma opção, mas um caminho de felicidade para que o Brasil se efetive como nação.

21 de setembro é o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, oficializado pela Lei 11.133/2005, de nossa autoria. É também o Dia da Árvore. Nunca esta data fez tanto sentido. A pandemia escancarou as desigualdades e as dificuldades que atingem essas pessoas, como falta de acesso a recursos tecnológicos, indispensáveis ao estudo e ao trabalho, entre outros. Sem acessibilidade universal não há cidadania.

Os nossos biomas sofrem com as queimadas e a devastação provocadas pela insensibilidade do homem. Santuários da natureza estão ameaçados. A Amazônia arde em fogo. No Pantanal, onde há uma das maiores biodiversidades do mundo, animais em extinção morrem carbonizados e queimados. Onde vamos parar com tanta falta de responsabilidade e de ação do Estado? Essa omissão está fazendo com que o Brasil sofra retaliações internacionais.

Enfim, a primavera, 23 de setembro… vida, fraternidade, inclusão, perseverança, busca incansável por cidadania, beleza das cores do país, prelúdio de resistência.

Senador Paulo Paim (PT/RS) é presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado.

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