O Brasil bate recordes assustadores e encaminha para se tornar o novo epicentro da Covid-19, com mais de 745 mil casos e próximo de 40 mil mortos, atrás apenas dos EUA, que concentram 2,05 milhões de casos e mais de 110 mil mortos, e Reino Unido que, ao que tudo indica, será ultrapassado nos próximos dias. A falta de políticas de socorro aos trabalhadores e os diversos transtornos na liberação do auxílio emergencial, convidam os brasileiros a romperem o isolamento social – única medida de contenção do coronavírus – e se aventurarem nas ruas em busca de renda.
Diante disso, alguns governos estaduais, abandonados à própria sorte e carecendo de insumos, testes rápidos e de uma metodologia unificada para notificação de casos, cedem às pressões e decidem por flexibilizar o isolamento social, na contramão de epidemiologistas do mundo inteiro, mesmo com esforços tímidos para ampliação das redes de assistência em saúde, que além de já não estarem sendo capazes de mitigar a ascensão da curva de casos, ainda têm que lidar com velhos inimigos como doenças cardiovasculares e cânceres, as duas maiores causas de morte do planeta.
No Brasil, dados do INCA apontam que o câncer matou mais de 1,06 milhão de pessoas nos últimos anos. No RS, foram mais de 92 mil óbitos. Não bastassem os números assombrosos, foi registrada a queda de 75% nos atendimentos de pacientes com câncer na rede pública, na rede privada chegam a 85%.
A Sociedade Brasileira de Patologia estima que nos últimos três meses, mais de sete mil pacientes não tiveram seus diagnósticos de câncer de mama, tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil.
Importante lembrar que lei dos 90 dias prevê um máximo de três meses para diagnóstico e início do tratamento de câncer, tendo em vista toda a situação que estamos vivendo, a pandemia dará uma lição amarga ao Brasil: não se faz saúde sem investimentos em saúde pública.
Zé Nunes
Deputado estadual (PT), vice-presidente da Assembleia Legislativa