Não existe remédio, precisamos radicalizar no isolamento, afirma Temporão

Não existe remédio, precisamos radicalizar no isolamento, afirma Temporão
Foto Claiton Stumpf

O pesquisador e ex-ministro da saúde José Gomes Temporão foi o convidado da bancada do PT na Assembleia Legislativa para um bate papo virtual na tarde desta quarta-feira (29). Temporão é médico sanitarista, foi ministro da Saúde durante boa parte do segundo mandato do governo Lula e atualmente é pesquisador da Fiocruz, fundação que recebeu deferência da Organização Mundial de Saúde (OMS) para promover estudos sobre a evolução dos contágios do coronavírus na América do Sul. A instituição faz a avaliação do contágio, do crescimento da curva de contaminação e tem apresentado estudos diários sobre a pandemia.

Temporão abriu sua fala relatando a escalada de casos no Brasil. “Até agora o Brasil testou 1500 por 1 milhão de habitante, número bem abaixo se compararmos com países como EUA e Itália, o que configura uma subnotificação. Para termos um número próximo do real deveríamos multiplicar o atual número de casos confirmados por 10 ou até 15 e assim chegaremos próximo da realidade brasileira hoje” afirmou. Segundo ele, as projeções da Fiocruz e da Universidade Federal da Bahia, que tem trabalhado em conjunto, no dia 4 de maio haverá o dobro de número de casos comparados com esta terça-feira (28).

Conforme relato do ex-ministro, para enfrentar a pandemia da Covid-19 o único remédio existente é o isolamento e para alcançar um bom resultado esse isolamento deveria estar num patamar de 70% no Brasil e hoje está abaixo de 50% da população, o que é preocupante.

“Em 2009 tivemos a H1N1, mas naquela época tínhamos uma vacina e no início de 2010 havíamos vacinado a metade da população brasileira. A gravidade e a letalidade de coronavírus é bem maior” lembrou ele. Entre as medidas preventivas para o momento Temporão destacou que é o isolamento social, a higiene e o uso de máscaras. “É importante ressaltar que muitas vezes somente o uso de máscara dá uma falsa sensação de proteção, por isso é importante não relaxar nas outras medidas”.

Interiorização da Covid-19

Temporão afirma que, segundo pesquisas, existe um deslocamento acelerado do vírus dos grandes centros para o interior. “Essa descentralização combinada com a escalada da curva que deve ocorrer agora em maio pode ser letal. Hoje, os municípios com mais de 100 mil habitantes todos tem casos. Municípios com 80 até 50 mil habitantes, 80% tem casos. Já os com 50 a 20 mil habitantes, são 40% com casos. Ou seja, haverá uma pressão destes municípios pequenos na busca por leitos de UTI e respiradores”. Na conversa ele lembrou que o Brasil tem hoje 7 leitos de UTI para cada 10mil habitantes via SUS e os planos privados têm cinco vezes mais. “Se nada for feito veremos pobres morrendo em frente aos hospitais e ricos com leitos garantidos”.

Temporão lamentou a desigualdade e a falta de informação da população brasileira. “O grande obstáculo do isolamento é a desigualdade. As pessoas precisam sobreviver, se alimentar e acabam saindo para trabalhar. Existe pessoas que não tem acesso a água e o único preventivo que temos é achatar a curva, que é diminui a propagação do vírus”.

Com a chegada do inverno e pelo RS ter um clima mais severo neste período, Temporão alertou sobre os cuidados redobrados para este momento. “Neste período muitos outros vírus estão circulando e são comuns, podendo levar a intervenção por problemas respiratórias. Por isso precisamos perseverar com mais medidas de contenção social” finalizou.

Participaram da reunião os deputados Luiz Fernando Mainardi, Pepe Vargas, Fernando Marroni, Zé Nunes, Valdeci Oliveira e Jeferson Fernandes.

Texto: Raquel Wunsch (MTE 12867)