sexta-feira, 22 novembro
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Thomas Mann foi o maior romancista da língua alemã e quiçá do século 20, reconhecido pela academia romana como quem “glorificava uma rara síntese de realização viva do espírito humanista”.

Em seu célebre livro Montanha Mágica, que se passa num sanatório, nas alturas geladas da Suíça, às vésperas da Primeira Guerra, o personagem Hans Castorp chega para visitar um primo e é aconselhado pelo médico de que nada perderia se ficasse um tempo por lá.

Aceitando tal orientação e no contato com os demais pacientes que ali habitavam, que expressavam variadas raças e credos humanos; entrelaçados por seus problemas, inquietações, sofrimentos, ilusões e nuanças psicológicas, também descobre estar “doente”.

Mergulhado naquela atmosfera, Castorp, além de deparar com a fenomenologia da alma dos que partilhavam o “nosocômio”, conhece duas invulgares figuras. Uma delas, um humanista culto, orientado pela ciência e pela razão, e outra, de tradições monárquicas, que sustentava a tortura e a pena de morte, com certa fleuma, deslumbramento e insolência.

Das contendas filosóficas e cotidianas decorrentes desse casual encontro, ainda que não deliberadas, já se descortinava um tempo de regressão e obscurantismo que rondava a humanidade naquela época, o nazi-fascismo.

De certo modo, guardadas as proporções, dizia um pensador, “os acontecimentos e os personagens históricos podem ocorrer por duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa”. E mais de cem anos depois, parece que aqui as coisas se repetem.

Mas lá, nas montanhas de Davos, aqueles tachados de “enfermos”, ao menos buscavam refletir filosoficamente para que seus angustiantes conteúdos existenciais superassem simplificadas frases.

Hoje infelizmente, mesmo em meio a um mundo derretendo por uma pandemia, persistem condutas individua- listas, egoístas e desalumiadas, que, para a sobrevivência cotidiana, preferem rasas e vulgares condutas aos complexos conteúdos baseados em evidências científicas, que a época que vivemos obrigatoriamente nos exige.

Professor, engenheiro, ex-secretário de Estado, ex-presidente da AL/RS

adaorrvillaverde@gmail.com

ADÃO VILLAVERDE

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