Guedes, o parasita

Guedes, o parasita
Foto Joaquim Moura

Paulo Guedes é o principal eixo de sustentação do governo de Bolsonaro frente ao chamado mercado (os muito ricos, que manejam a política econômica conforme seus interesses). Na campanha, o atual presidente chegou a chamá-lo de “Posto Ipiranga”, numa referência a uma propaganda sugerindo que qualquer coisa poderia ser resolvida no referido posto. Por esta condição, tornou-se uma espécie de fiador do poder. É ele que opera o que realmente interessa ao projeto que o atual governo pretende realizar.

Em 2019, Guedes foi pessoalmente ao Congresso cumprimentar os deputados e senadores pela aprovação da reforma da previdência. Não foi Bolsonaro, mas ele que materializou, a partir da própria presença, o agradecimento dos donos do poder à disposição dos parlamentares de enfrentar o desgaste público de votar a favor de medidas que, em certos casos, inviabiliza a aposentadoria de trabalhadores de baixa renda, obrigando-os a 40 anos de contribuição, o que, como se sabe, é impossível para determinados tipos de trabalho, que exigem esforço braçal.

É Guedes, também, que coordena a formulação de uma reforma administrativa que prevê medidas para diminuir e baratear a máquina pública, de forma a economizar recursos na sustentação do Estado. Foi neste contexto que comparou servidores públicos a parasitas. Parasitas, como se sabe, é um organismo que vive de e em outro organismo, dele obtendo alimento e, às vezes, causando-lhe dano. Pejorativamente, como foi o caso, refere, segundo os dicionários, a um indivíduo que vive às custas de outro, por exploração ou preguiça.

Ficou feio e o ministro precisou se desculpar publicamente. As desculpas, entretanto, não diminuem a gravidade da manifestação, primeiro porque revelam uma concepção, o conteúdo político e ideológico que subjaz o projeto de Estado e de nação que vem sendo praticado por este governo. Para eles, e Guedes é, certamente, um dos primeiros da fila, quanto menor o Estado, quanto mais espaço tiver o setor privado na prestação de serviços que deveriam ser públicos, melhor. A pergunta, evidentemente, é: melhor para quem? A própria condição de classe de Guedes, um banqueiro acostumado a viver da especulação financeira e agiotagem, já deveria ser uma resposta suficiente.

O problema, evidentemente, não é apenas a revelação de uma opinião que já sabíamos e que se revela de forma reiterada nas práticas administrativas deste governo, que tem ojeriza a tudo o que é público, a tudo que é uma política pública de inclusão social. O problema, talvez maior até do que a opinião expressa pelo ministro, é o uso de dados inverídicos para sustentar o mito de que o Estado brasileiro é inchado, de que o Brasil gasta muito com os seus funcionários públicos, etc, etc. É essa cantilena mentirosa, repetida, muitas vezes, sem apuração técnica, pela própria imprensa, que acaba por sustentar as medidas de austeridade e de desmonte de serviços que são fundamentais para o desenvolvimento do Brasil de forma independente e mesmo para a qualidade de vida da sua população.

Dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do próprio IBGE demonstram que o Brasil é um dos países que tem um dos menores números de funcionários públicos em relação a sua população. Para se ter uma ideia, no Brasil o índice é de 1,6%, enquanto nos Estados Unidos esse índice chega a 15,3%, na Turquia é de 12,4% e na Noruega, um país referência em qualidade de vida, estabilidade econômica e civilidade política, o número de servidores públicos chega a ser 30% do total da população.

Ainda segundo a OCDE, no Brasil, o Estado emprega pouco mais do que 10% do mercado de trabalho, nos países escandinavos (de novo, os mais citados quando se fala em desenvolvimento econômico e humano) chegam a empregar mais de 30% do total de trabalhadores do pais e mesmo o Chile, que até a sua grande revolta que ainda perdura, era sempre citado como exemplo de Estado bem-sucedido do ponto de vista neoliberal, emprega uma parcela 50% maior do que a do Brasil.

Então, fica evidente que o mito do Estado inchado serve apenas para realizar um projeto simplesmente ideológico, que pretende deixar a sociedade à mercê de interesses privados, que, quando o Estado falta, ocupa o espaço, em geral com preços maiores e qualidade menor, o que demonstra recentes privatizações na área da energia e saneamento.

Guedes ataca, com suas palavras, a honra de milhões de brasileiros que atuam em hospitais, colégios, universidades, polícias, exército, limpeza urbana, infraestrutura, administração, justiça, etc, etc. Esses servidores não são parasitas, mas, ao contrário, os que fazem com que a nossa vida seja possível e pelo menos tenha um pouco de dignidade e justiça. Parasita é o senhor, ministro e banqueiro.

Líder da bancada do PT na AL, Luiz Fernando Mainardi