Submetidas a um processo de extinção lento e gradual, as quatro escolas abertas do Rio Grande do Sul que conseguiram sobreviver aos cortes de recursos dos últimos anos lutam, em meio a inúmeras dificuldades, para atender a 300 alunos em Porto Alegre, Cruz Alta e Santa Maria. São crianças com necessidades especiais, abrigadas, rejeitados por outros estabelecimentos de ensino, destituídas da família e, muitas vezes, vítimas de abuso e violência. O drama dessas instituições chegou à Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, que realizou uma audiência pública, na tarde desta segunda-feira (11), para discutir alternativas e reverter o quadro de desmonte das escolas abertas que ainda restaram no Estado.
Um documento elaborado pela Comissão expondo a situação será apresentado ao conjunto dos deputados. A presidente do órgão legislativo, Sofia Cavedon (PT), acredita que é possível conseguir assinaturas de parlamentares de todos os partidos em apoio à luta da comunidade pelo não fechamento dos estabelecimentos de ensino. “Temos que unir esforços para impedir que quem já perdeu tudo perca também o direito à educação. A experiência mostra que as escolas abertas recompõem vidas”, declarou Sofia.
Professores e pais denunciaram que a tática do governo gaúcho tem sido “matar as escolas à mingua”. Segundo o diretor da Escola Aberta Ayrton Senna, de Porto Alegre, Adroaldo Ramos, a Secretaria de Educação não autoriza a abertura de novas turmas desde 2018, “conduzindo os estabelecimentos à extinção”. O turno integral foi suspenso, e faltam servidores em várias áreas. “A escola regular não tem preparo no acolhimento dos nossos alunos. Sem a escola aberta, para onde nossas crianças irão?”, questionou, depois de criticar a ausência de representantes do Executivo na audiência.
O representante de dois abrigos conveniados da prefeitura de Porto Alegre Deúbio Soldatti fez coro às queixas do diretor. “As crianças de nossos abrigos são o público típico das escolas abertas. Quando chegam até nós, já estão em estágio de profundo sofrimento. E as escolas abertas têm feito um trabalho fundamental para reconstruir o que foi tirado dessas crianças, que muitas vezes já passaram por mais de dez escolas regulares sem conseguirem se adaptar”, revelou.
Maria Luísa Fermandes, mãe de dois alunos da Ayrton Senna, disse que é inadmissível o que o governo está fazendo com as crianças, os pais e os professores. “Não sabemos onde vamos colocar nossos filhos se fecharem a escola, que tem preparo para tratar com crianças que tem todo o tipo de dificuldade”, apontou.
Texto: Marta Resing (MTE 3199)