sábado, 23 novembro
Foto: Carol Ferraz/Sul 21/Reprodução

O frio e a chuva que não deu trégua durante todo o dia em Porto Alegre não contribuíram, mas uma multidão tomou as ruas no final da tarde desta quinta-feira (30) para protestar contra a reforma da Previdência e os cortes na educação promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). “Tem mais ou menos gente do que no dia 15?”. Em uma era em que tudo é comparação, é difícil precisar se as milhares de pessoas que lotaram a Esquina Democrática, avançando até a Borges de Medeiros, somavam um contingente maior do que aquele que participou da grande manifestação com o mesmo tema no dia 15 de maio, mas permitia dizer que estavam em número superior àquelas que foram ao Parcão em apoio ao governo na ensolarada tarde do último domingo (26).

A história do ato desta quinta precisa ser contada em duas partes. Enquanto uma parte dos manifestantes começou a se concentrar e a lotar a Esquina Democrática, ponto de encontro da convocação do ato no Centro, a partir das 17h, outro contingente numeroso se reunia simultaneamente na frente da Faculdade de Educação (Faced), no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Perto das 18h, esse segundo grupo, liderado por um pequeno caminhão de som, iniciou uma primeira caminhada do local em direção à Esquina, puxando palavras de ordem como “Não vai ter corte, vai ter luta” e “A nossa arma é a educação, a nossa arma é edu-ca-ção”. À frente eles, um grupo de jovens fazia uma encenação simbolizando os cortes na educação e na Previdência, liderados por um deles fantasiado de Edward Mãos de Tesoura com uma faixa presidencial.

Ao passar pela Rua Lima da Silva, os estudantes pediram aos moradores que acompanhavam o ato em seus apartamentos que piscassem a luz em apoio, sendo correspondidos por um número não muito grande de janelas. Quando essa primeira caminhada passou sob o viaduto Otávio Rocha, na Av. Borges de Medeiros, já era possível perceber que, mesmo tratando-se de apenas uma das duas partes do ato, o contingente já era grande.

Ao chegar na Esquina Democrática, esse grupo vindo da UFRGS encontrou a segunda parte do ato, que reunia outras milhares de pessoas e contava com o apoio de um caminhão de som, de maior porte, coordenado pelo Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (CPERS) e pela União Nacional dos Estudantes (UNE). “Unificou, unificou, estudante, trabalhador e professor” cantava a multidão que a essa altura já percorria um espaço que tomava a Esquina Democrática em todos os sentidos e se estendia até a esquina da Borges com a Salgado Filho. Unificado, o ato seguiu então com poucas falas e diversos cantos, animados por uma série de grupos de estudantes com instrumentos. Na pauta, também, cantos contra a reforma da Previdência. “O Bolsonaro, vai se f…, eu não vou trabalhar até morrer”.

Não era o vídeo divulgado horas antes pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, mas o local também tinha sido tomado por guarda-chuvas. Enquanto a chuva alternava momentos de maior e menor intensidade, a organização de uma das partes do ato tentava decidir qual o trajeto a ser percorrido pela caminhada, que seguiria este momento de concentração de todos os manifestantes no Centro de Porto Alegre. Após uma breve confabulação entre representantes de entidades ali presentes, decidiu-se por uma caminhada descendo a Borges, dobrando a esquina no Mercado Público e seguindo pela Av. Júlio de Castilhos na direção do Túnel da Conceição.

Nesse momento o ato voltou a se dividir em dois. Enquanto uma parte expressiva, de fato, desceu a Borges, acompanhando o caminhão maior, outra, seguindo o caminhão menor, virou as costas e rumou para o outro lado, retornando pela mesma avenida. Como o ato, a equipe do Sul21 se dividiu em duas, com a fotógrafa Carol Ferraz seguindo o segundo grupo e este repórter acompanhando o primeiro. Como eram grandes os dois grupos de manifestantes que tomaram rumos opostos, a divisão só seria percebida mais tarde, quando uma das multidões ocupava inteiramente o Túnel da Conceição, em um momento em que os estudantes aproveitaram a proteção da chuva para acender sinalizadores, e a outra encerrava a sua caminhada no Largo Zumbi dos Palmares, por volta das 19h30. Cerca de meia hora depois, os demais manifestantes chegavam ao mesmo local, para também encerrar o seu ato.

Texto: Luís Eduardo Gomes/Sul 21

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