Com votos contrários da bancada do PT e outros oito deputados, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou na tarde desta terça-feira (28), por 35 votos a 15, a indicação do presidente e diretores do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). A votação foi pautada por questionamentos sobre a diferença dos índices utilizados pelo governo do Estado para reajustar os salários do presidente e diretores do Banco e o piso mínimo regional. Segundo informações divulgadas pela imprensa, os indicados para os cargos executivos terão salários reajustados em 74,5%, elevando os vencimentos do presidente do Banco de R$ 51 mil para R$ 89 mil, e o dos diretores, de R$ 40 mil para R$ 72 mil, enquanto que para o piso mínimo regional para os trabalhadores será de apenas 3,4%, índice inferior ao da inflação no período.
O líder da bancada, deputado Luiz Fernando Mainardi, observou que a matéria que estava na pauta há três semanas não tinha sido votada porque nem bancadas da situação concordavam com o suposto reajuste de mais de 100%, que elevariam os vencimentos do presidente de R$ 51 mil atuais para R$ 128 mil mensais e dos diretores, de R$ 40 mil para R$ 104 mil. “Primeiro nos preocupamos que a aprovação fizesse com que a discussão passasse a ser a privatização do banco. Depois não concordamos com o reajuste proposto inicialmente, por isso, derrubou-se o quórum por duas sessões e agora, o mesmo governador que não concorda com nossa proposta de reajustar o piso regional sequer pela inflação do período (4,61%) está propondo um reajuste de 74,5% nos salários do presidente e diretores do banco que já recebem um alto salário”, observou.
O vice líder da bancada, deputado Pepe Vargas, chamou a atenção que a entrega da presidência do Banrisul para uma pessoa que vem de uma instituição financeira especializada em privatizações é um “cheque em branco”, por isso há alguns dias a bancada do PT protocolou requerimento, solicitando que o presidente da Assembleia Legislativa atentasse para o cumprimento do regimento sobre matérias enviadas pelo governo. “Temíamos que o governo enviasse projetos genéricos, sem deixar claro quais a as finalidades e como seriam as modelagens dessas vendas, pois, hoje noticia-se que o governador teria comunicado que de fato os projetos vêm de forma genérica. Ou seja, vai ser um cheque em branco. Assim como será um cheque em branco a entrega a presidência do Banrisul a uma pessoa que vem de uma empresa especializada na terceirização”.
O indicado Claudio Coutinho, ouvido pela Comissão de Finanças, disse que fará uma gestão do banco público dentro de uma ótica de banco privado e para defender os interesses dos investidores, provavelmente preparando o banco para ser vendido. “Em todas as perguntas ficou evidente que ele vem defender os interesses dos acionistas minoritários que querem lucros. Nós queremos um banco que dê resultado, mas também entendemos que o resultado do banco não são só resultados para os acionistas, mas que ele seja um banco de fomento e seja um banco presente nas comunidades, para que elas possam se desenvolver”, argumentou Pepe.
Posicionamento do governador é criticado pela bancada do PT
A mudança no discurso do governador Eduardo Leite que inicialmente dizia que não tinha nenhum poder de intervir no salário dos executivos do banco também foi abordado pelos deputados petistas. “Já mudou um pouco o discurso porque antes se diziam que isso não seria discutido politicamente, mas sim no Conselho de administrativo e o aumento será de 74,5%, enquanto que o piso será de 3,4% e com isso, o presidente do banco em um ano vai ganhar mais de R$ 500 mil, enquanto que o trabalhador vai ganhar somente R$ 546 reais a mais por ano”, afirmou o deputado Zé Nunes, conclamando os deputados a manterem-se contra os altos salários, embora os reajustes sejam uma atribuição do Conselho Administrativo do banco, indicado pelo governador. “O presidente vai ganhar mais ou menos três vezes o que ganha o governador do Estado. Enquanto que o trabalhador terá 41 reais a mais.
O deputado Valdeci observou que o Rio Grande do Sul é um estado que parcela salários, que está com falta de professores, com escolas sucateadas e com dificuldade de manter as contas em dia, mas propõe a contratação de um presidente e diretores para o Banrisul ganhando altíssimo salário. Não estamos falando de aumento se salário mínimo nem de regional, nem aumentos de 2, 3 salários. Estamos falando de quem ganha acima de 40, 50 mil e aumento de 74%, que leva o salário a um patamar astronômico. “Só a diferença entre o salário que o governador Leite está propondo para o presidente e diretores do banco daria para comprar 28 ambulâncias. E só um salário do presidente daria para pagar mais de 70 pisos regionais. Ou seja, temos muitos milhares de professores que ganham, 2.400, com o salário do presidente daria para pagar 40 professores”, comparou.
O deputado Edegar Pretto comentou o governador Eduardo Leite, em um primeiro momento ignorou, dizendo que não podia se meter no salário dos executivos do banco, pois isso não estaria ao seu alcance. O que fez com que as bancadas, inclusive algumas situacionistas, não votassem e não aprovassem as indicações. Para Edegar, os deputados governistas estariam zombando do mínimo regional, ao propor R$ 41 de reajuste do mínimo. “Hoje o governador saiu do silêncio e fez recomendação de que o reajuste não fosse mais para R$ 128 mil, mas para R$ 89 mil. Se aprovarmos, estamos compactuando com essa zombaria. Governar em crise é fazer escolhas”, disparou.
Ao assumir para si o papel de definir o salário do presidente e dos diretores, Eduardo Leite estaria sinalizando que valoriza os altos executivos em detrimento dos trabalhadores assalariados. A opinião é do deputado Fernando Marroni, que argumentou que o governo escolheu a sua indicação um privatista do mercado financeiro, mas é a Assembleia que precisa decidir se o aceita. “Não é papel da Assembleia decidir salários do presidente do Banrisul, mas o governo precisava negociar. Eu não acredito que aqueles que fizeram obstrução por um salário de 128 mil concordam agora com o salário de R$ 89 mil. Então, qual é o sinal deste governo para a sociedade gaúcha? É 3,4% para os trabalhadores precarizados e 74,5% para o presidente e diretores do banco, que já ganham muito bem”.
A deputada Sofia Cavedon, também questionou a decisão do governador de priorizar os altos salários para os executivos do banco em detrimento de professores, engenheiros, policiais e técnicos, assim como não valoriza o salário mínimo regional. “O governador tentou esconder e alguns aqui tentaram se iludir. Diziam que os altos salários do indicado à presidência e seus diretores era fofoca e que não tinha influência do governador. Pois bem, essa mascara caiu. O governador é quem está aumentando os salários dos diretores do Banrisul em 75%, enquanto que para o trabalhador não dá nenhum reajuste. Os salários estão congelados e o servidor perdeu 30% do poder de compra”.
Texto: Claiton Stumpf (MTB 9747)