sábado, 23 novembro
Crédito Raquel Wunsch

O deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) homenageou, no Grande Expediente da Assembleia Legislativa desta quinta-feira (25), o artista plástico Danúbio Villamil Gonçalves, falecido no último domingo (21), aos 94 anos. “Felizmente, os grandes artistas nunca nos deixam integralmente. Suas obras permanecem, e as reflexões contidas nelas se mantêm a martelar os nossos espíritos no decorrer dos anos. Danúbio e seus parceiros do Grupo de Bagé são desta estirpe. Nos deixam, mas não morrem; sobrevivem em nossas memórias e em nossos compromissos de transformar permanentemente o mundo para melhor”, declarou.

O artista homenageado nasceu em Bagé, onde passou a primeira infância. Aos 10 anos, após perder a mãe, foi viver no Rio de Janeiro, onde estudou no ateliê de Cândido Portinari, conjuntamente com Iberê Camargo, e frequentou o ateliê do famoso pintor e paisagista Burle Marx, influências que marcaram sua trajetória. Aos 19 anos, retornou ao município gaúcho para sua primeira exposição.

Em viagem pela Europa em 1950, mudou a perspectiva de seu futuro artístico, agregando, por influência dos pintores e da realidade social do pós-guerra, preocupações sociais em sua obra. Ao voltar da viagem, encontrou as mesmas preocupações estéticas e sociais nos também jovens pintores Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti e fundou com eles um ateliê. “Estava lançada a raiz do que veio a ser conhecido como Grupo de Bagé”, relembrou Mainardi.

A obra de Danúbio e do Grupo de Bagé está presente em inúmeras coleções particulares, em acervos de museus e pinacotecas de todo o mundo. “Sem dúvida, os maiores disseminadores da produção cultural gaúcha de todos os tempos. Mesmo que eventualmente desconsiderados, pela condição de críticos da arte vanguardista e abstrata, ou pela condição de críticos do sistema econômico e social, estes verdadeiros heróis gaúchos continuarão a ser a maior referência das artes plásticas do Rio Grande do Sul”, considerou o deputado.

Universal X regional
Gravurista, pintor, desenhista, escritor, poeta e professor, Danúbio foi, conforme o parlamentar, o último de uma linhagem de artistas plásticos que marcaram época e a produção artística gaúcha, brasileira e mundial. Suas xilogravuras, eternizadas na série Xarqueadas, em que retrata o cotidiano dos trabalhadores das antigas charqueadas rio-grandenses, e também na Mineiros de Butiá, que também eterniza em tintas o esforço dos trabalhadores mineiros, gerou não apenas uma marca de seu trabalho, cujo conceito se alinhava à ideia de uma arte realista, engajada, humanista e socialmente posicionada. Produziu também um movimento artístico, mundialmente conhecido como o Grupo de Bagé, que reuniu intelectuais das letras e das artes plásticas que ocupam um lugar central na produção artística brasileira.

Ao analisar a obra de Danúbio Gonçalves, Mainardi afirmou que o artista bajeense tem, “um pouco por acaso, um pouco certamente não por acaso, um vínculo ainda mais forte com nossa cultura regional. Trineto de Bento Gonçalves, representou, talvez, a continuidade da faceta libertária daquele herói farroupilha e, do seu modo, através de sua arte e do seu engajamento, mostrou ao mundo um jeito de ser gaúcho, tão regional, mas ao mesmo tempo, tão universal”, comparou.

Influenciado pelo pintor mexicano Diego Rivera, Danúbio Gonçalves se notabilizou igualmente na arte mural, que ele achava que favorecia o diálogo direto do artista plástico com o público. O mais importante mural de sua autoria é a Epopeia Rio-Grandense, Missioneira e Farroupilha, montagem de 555 azulejos na Estação do Metrô em frente ao Mercado Público de Porto Alegre. O mural, que tem 16,5 metros de largura por três de altura, narra a História gaúcha desde a origem indígena, passando pelas guerras com os espanhóis e a Revolução Farroupilha.

Mainardi lembrou ainda que, além de retratos do cotidiano regional, o Grupo de Bagé se envolveu com temáticas universais, como a questão da paz mundial. “No mundo do pós-guerra e com o início da guerra fria, lá estavam os bajeenses fazendo História e, melhor, fazendo História do lado certo, em busca da justiça, da beleza e da paz para humanidade. Por esses trabalhos, a coleção de gravuras em defesa da Paz e da Cultura, ganharam, em 1950, o prêmio nacional Pablo Picasso da Paz”, lembrou o parlamentar.

O petista ressaltou ainda que a crítica social expressa na obra de Danúbio e do Grupo de Bagé se assenta na denúncia e na democratização da arte. “Creio que é, fundamentalmente, isso. Democratizar, denunciando. Denunciar, democratizando. A crítica social que o Grupo de Bagé sempre pretendeu fazer, desde os seus primórdios, sintetizada muito bem pelos trabalhos de Danúbio, paradoxalmente o mais aquinhoado de todos, é uma crítica que denuncia a realidade, sugerindo, evidentemente, sua superação, e, ao mesmo tempo, democratiza o acesso à produção artística. Para isso, produzem com simplicidade, com traços claros e realistas, com o objetivo focado em comunicar, não apenas em serem admirados”, apontou.

Por fim, Mainardi ressaltou o papel do Grupo na formação de novos artistas plásticos por meio de suas aulas no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “A simplicidade e a disposição de compartilhar de Danúbio Gonçalves é visível também aí, quando ocupa boa parte de seu tempo para ensinar e repartir suas técnicas, conhecimentos e experimentos”, frisou.

A deputada Sofia Cavedon (PT) se somou à homenagem por meio de aparte.

Fonte: Agência de notícias da ALERGS, texto de Olga Arnt (MTE 14323)

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