O Teatro Dante Barone ficou lotado na noite desta segunda-feira (18) para o ato em defesa do plebiscito, que garante aos gaúchos o direito de decidir sobre o futuro das estatais Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás) e Companhia Rio-grandense de Mineração (CRM). O ato foi marcado pela mobilização de trabalhadores, sindicalistas e contou com a presença dos parlamentares do PT que também integram o Fórum em Defesa do Plebiscito, coordenado pelo ex-deputado Pedro Ruas.
O líder da bancada petista, deputado Luiz Fernando Mainardi chamou a atenção para o fato de que o governo de Eduardo Leite vem repetindo uma prática comum a outros governos não populares e nem democráticos como foram os governo de Antonio Britto, Yeda Crusius e de José Ivo Sartori. “Na essência são os mesmos. O programa é o mesmo. Querem retirar o direito do povo decidir. A subtração do direito da população debater levará à possibilidade de privatizar as outras duas empresas públicas”, analisou, observando que o governo tem pesquisa que mostra que a população é contra a venda das estatais e por isso não querem debater. “Governador, não fuja do debate e não traia a sua palavra dada durante a campanha de que realizaria o plebiscito”, apelou.
Para o deputado Jeferson Fernandes, o ato de hoje representa a arrancada da grande mobilização popular. Lembrou que foi na Assembleia Legislativa que o governador Eduardo Leite levou a primeira vaia do seu governo. “Ele disse que era preciso ouvir o silêncio das ruas, mas nós queremos que ele ouça as vozes das ruas, deixando o plebiscito acontecer. E porque esse medo de ouvir a população? Porque não se sustenta esse desejo de vender”. O deputado lembrou ainda que os próprios deputados Edson Brum (MDB) e Frederico Antunes (PP), que é líder de governo, sugeriram que nos uníssemos para denunciar a má qualidade dos serviços privatizados da RGE. Ou seja, eles querem privatizar, mas reconhecem que o serviço privado é ruim.
O ex-presidente da Assembleia, deputado Edegar Pretto, recordou que quando estava à frente do Parlamento gaúcho precisou posicionar-se com firmeza contra as tentativas do governo privatizar em dois momentos. O primeiro quando o governo tentou negociar para retirar a PEC e mandar o projeto do plebiscito. “Eles só queriam negociar por não ter votos suficientes para aprovar a PEC”. O segundo momento, lembrou Edegar, foi quando o propuseram que o governo colocasse grades no parlamento para impedir que o povo entrasse para acompanhar a votação. “Mas a minha formação política não permitia essas coisas, pois o parlamento é o espaço do povo”.
Outro que se manifestou em defesa da soberania do povo gaúcho nas decisões foi o deputado Fernando Marroni. “A população anseia pela volta do crescimento econômico, desenvolvimento, geração de emprego e renda e isso é o mais importante”. O colega de bancada, deputado Zé Nunes disse que haverá resistência e o povo que vai lutar contra a venda do patrimônio dos gaúchos é o mesmo que enfrentou a truculência das forças policiais do governo Sartori, que utilizou de bombas de gás, tropas de choque, metralhadoras apontadas de helicópteros. “O povo vai resistir bravamente a mais um governo que não cumpre com a palavra empenhada”.
A deputada Sofia, que participou hoje do almoço com a bancada federal, o governador e representantes do setor privado, observou que os empresários defenderam a reforma da previdência e a compra do patrimônio público, pois para ele o Estado não produz nada. “Como assim o estado não produz? Por que será que eles querem comprar a Sulgás, a CRM e a CEEE? Será que é porque a gente não produz nada ou porque a gente produz muito bem, é lucrativo e tem tecnologia e soberania energética?”, indagou. A lógica do empresariado, afirmou Sofia, é o capitalismo sem risco em que o povo paga a conta com isenção fiscal e sonegação, sem transparência e sem contrapartida.
Também estiveram presentes no ato o ex-vice-governador do RS, Miguel Rossetto, os deputados federais Henrique Fontana, Dionilso Marcon e Elvino Bohn Gass, deputada estadual Luciana Genro, a ex-deputada Jussara Cony (PCdoB) e Abigail Pereira (PCdoB) que esteve neste ato representando o senador Paulo Paim (PT). Além disso esteve presente o prefeito de Candiota, Adriano dos Santos e vereadores e vereadoras de diversos municípios gaúcho.
Ex-governadores lembram que não é preciso vender para governar
O ato da noite desta segunda-feira contou com a presença de dois ex-governadores que preservaram o patrimônio público e nunca atrasaram salários de servidores: Olívio Dutra e Tarso Genro. O primeiro a falar foi Olívio, que argumentou que a política democrática que consolida o estado de direito é o espaço em que o povo deve ser sujeito protagonista das decisões. “Nossas empresas públicas geraram e podem gerar ainda mais recursos para o Estado, por isso não são propriedades dos governos que se alternam, mas do povo gaúcho que utiliza os seus serviços públicos”, ressaltou. “Qualquer vontade de se desfazer das empresas deve partir do povo”.
Já o ex-governador Tarso Genro foi didático ao explicar que quando existe uma dívida pública, legitimamente o estado paga juros sobre ela, alimentados pelo mercado financeiro. Mas isso até o momento em que essa manipulação gera um tal compromisso que o país ou o estado público passa a trabalhar somente para pagar a dívida. “Nessa hora, quando a dívida não é honrada, o capital vem e diz que tem que vender. E quando não se pode vender por mecanismos como a constituição do Estado, o capital tenta garantir nos tribunais, mas em nossos governos do PT instituídos muitas empresas públicas eficientes como a EGR, que também está na mira dos privatistas”, explicou. Tarso pediu unidade na resistência, pois o poder de articulação do capital é grande. “Precisamos mostrar que a luz privada ficou mais cara, pois deixou de ser subsidiada”.
O ato também foi prestigiado por sindicalistas e trabalhadores ligados às três empresas públicas. Entre elas, Ana Spadari, presidente do Sinergisul, afirma que o povo uniu forças para defender o setor energético, bancário e de energia. “Temos um compromisso que a iniciativa privada não tem. Mesmo sucateando a CEEE, conseguimos nos manter e chegamos em primeiro lugar em distribuição”. As empresas públicas tem o compromisso com o social, com tarifas mais baixas para quem não pode pagar. As privadas não terão mais isso. “Não podemos permitir esse ataque ao serviço público. Pagamos taxas simbólicas para manter hospitais. A CEEE não visa lucro. Ela está aí para realizar o papel social”, afirma Ana Maria Spadari.
Texto: Claiton Stumpf (MTB 9747)