sábado, 23 novembro

 

Fotos: Bruno Lemos

 

“Há dois anos e três dias eu internava o meu filho, Diego, com 34 anos, na UTI Covid-19. Uma doença desconhecida, mas a gente sabia que estava matando. O nosso líder maior disse que era uma gripezinha. Virou uma gripe sem volta. Minha dor é de muitos, mas mãe perder um filho é triste. Minha netinha, de 7 anos, agora vai tomar vacina e diz que o pai dela não teve tempo”. A fala de Maria de Lourdes, a Pope, marcou a sexta audiência pública da Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas da Covid-19, realizada na noite de terça-feira, 19.07, na Câmara de Vereadores, de Passo Fundo.
A Frente Parlamentar, presidida pelo deputado estadual Pepe Vargas (PT) ouviu lideranças políticas e ligadas à área da saúde, vítimas e parentes, em busca de contribuir para o enfrentamento imediato, de médio e de longo prazo, dos efeitos causados pela doença. O deputado Pepe esclareceu que muitas pessoas depois de passarem pelo quadro agudo da Covid-19, ficaram com sequelas graves e outras possuem os chamados sintomas persistentes. Segundo o parlamentar, pesquisas já chamam atenção para a Covid longa.
Pepe também destacou os impactos econômicos e psicológicos na vida das pessoas. “São inúmeros impactos que temos identificado. Pessoas perderam familiares, outras vivenciam sofrimento psíquico, fecharam os seus negócios ou estão com dificuldades tributárias, ou não tiveram acesso ao benefício previdenciário por não ser identificada a contaminação no ambiente laboral”, revelou.
Junta-se o cenário o aumento das “filas” por consultas especializadas, exames diagnósticos, procedimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas – represados durante os períodos de restrição dos serviços de saúde. Pepe reafirmou ainda a necessidade de implantar um protocolo de orientações de identificação e atendimento aos pacientes pós-Covid-19, a exemplo da experiência de Belo Horizonte (MG).
O deputado elogiou as recomendações elaboradas pelo Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) aos profissionais da área de fisioterapia e terapia ocupacional, como forma de orientar o atendimento dos pacientes pós-Covid-19. O material foi apresentado pelo representante da entidade, Leonardo Calegari, durante a audiência. “Cada caso é diferente. Um paciente, por exemplo, com comorbidade ao adquirir o vírus tende a ser mais prejudicado. Portanto, é importante atuar no monitoramento desses pacientes no sentido de fortalecer, tranquilizar e ensinar a respirar novamente”, explicou Calegari. Por fim, Calegari destacou a necessidade de atenção dos gestores em aumentar o número de fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos nas Unidades Básicas de Saúde.

“Falta ambulatório de atendimento Pós Covid-19”

A Frente tem mapeado as realidades regionais, considerando os impactos da pandemia na vida da população e nos sistemas de proteção social, sobretudo o SUS e, por isso, busca escutar as lideranças locais. Entre elas a vereadora de Passo Fundo, Eva Valéria Lorenzato (PT) que contou que os cidadãos do município vêm sofrendo com as sequelas da Covid-19, pela falta de um ambulatório específico para o atendimento desses pacientes. Eva relatou o caso de uma amiga que há dois anos aguarda o atendimento psicológico. “Ela perdeu o pai durante o período em que estava internada com Covid-19 e hoje vive em sofrimento psicológico. Precisamos debater a construção de políticas públicas na garantia do atendimento”, afirmou.

“Município deixou de aplicar recursos no enfrentamento à Covid-19”

A presidente do Conselho Municipal da Saúde de Passo Fundo, Leonilde Zamuner, denunciou que o município deixou de aplicar R$2 milhões no enfrentamento à Covid-19. O Conselho agora reivindica que esses recursos sejam usados na instalação de um ambulatório multidisciplinar. Seguindo a fala de Leonilde, Ésio Francisco Sabetti, do Conselho Estadual dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, completou que é impossível enfrentar uma pandemia e um pós-pandemia com congelamento de orçamento público. Sabatti destacou que as consequências da Covid-19 são múltiplas, como o alto índice de evasão escolar apresentado recentemente pela Secretaria Estadual da Educação, o qual trará consequências futuras.
A representante do Conselho Regional de Enfermagem, Sônia Coradini, presente em modo virtual, contou que esteve na linha de frente durante a pandemia e viu muitos profissionais perderam a vida, e até hoje não existe um protocolo de orientações no atendimento do pós-Covid. As iniciativas de sociedade, segundo ela, se mobilizam para construir redes de assistência, recomendações como a apresentada pelo CREFITO. “É importante pressionar pela implantação de protocolos”, enfatizou.
A Frente Parlamentar foi constituída a partir da aproximação com o Comitê Estadual em Defesa das Vítimas da Covid-19, que reúne entidades como o Conselho Estadual de Saúde Brasil e Conselho Regional de Enfermagem e a Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 – Vida e Justiça. A próxima audiência acontece em Caxias do Sul, no dia 25.07. Ao final desses encontros, no dia 10 de agosto, será realizado um seminário em Porto Alegre, culminando com a produção de um relatório a ser entregue à Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, aos governos federal e estadual e à bancada gaúcha no Congresso Nacional.

 

Texto: Silvana Gonçalves (MTB 9163)

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