sábado, 23 novembro
Fotos: Bruno Lemos

A cidade de Santa Maria abrigou a segunda audiência pública da Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas da Covid-19. O encontro realizado na Câmara de Vereadores, nesta quarta-feira, 22 de junho, foi aberto pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Valdeci de Oliveira (PT). Os encontros são realizados em diferentes cidades consideradas polos nas macrorregiões do Estado. Nesta quinta-feira (23.07) o debate acontece na Câmara de Vereadores de Lajeado e ainda serão realizadas audiências nas cidades de Pelotas, Santa Rosa, Bagé e Caxias do Sul. A proposta é que sejam ouvidas lideranças políticas e ligadas a área da saúde, buscando contribuir para o enfrentamento imediato, de médio e de longo prazo, dos efeitos causados pela doença.

Segundo o deputado estadual Pepe Vargas (PT), presidente da Frente Parlamentar, a ideia é contribuir com a sociedade gaúcha no mapeamento das realidades regionais, considerando os impactos da pandemia na vida da população e nos sistemas de proteção social, sobretudo o SUS. “Existem demandas relacionadas à Atenção à Saúde da população que apresenta danos crônicos, permanentes ou temporários, causados pela doença, que implicam em novos arranjos assistenciais” destacou.

O deputado explica que as pessoas depois de passarem pelo quadro agudo da doença, algumas pessoas ficam com sequelas graves e outras possuem os chamados sintomas persistentes. Algumas pesquisas, inclusive, já chamam isto de Covid longa. “São pessoas que depois de três ou quatro semanas curam do quadro agudo mas permanecem com os sintomas às vezes mais do que 12 semanas. Ou seja, três meses depois elas ainda possuem os mais diversos sintomas. Ainda existe um certo desconhecimento por parte das equipes de saúde e a ausência de protocolos no sistema para a identificação, o encaminhamento e o correto tratamento destes pacientes”, explica.

O deputado salientou que soma-se a este cenário o aumento das “filas” por consultas especializadas, exames diagnósticos, procedimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas – represados durante os períodos de restrição dos serviços de saúde. “É preciso dimensionar, construir estratégias urgentes para alterar esse cenário de invisibilidade, desatendimento e sofrimento”, completou. Pepe destacou ainda a necessidade do Estado garantir o destino à saúde dos 12% do orçamento definidos por Lei, o que não vem acontecendo. Pepe lembrou da necessidade do Estado apresentar um protocolo de orientações de identificação e atendimento aos pacientes pós-Covid-19, a exemplo da experiência implantada em Belo Horizonte (MG). “Até o presente momento o Ministério da Saúde não apresentou nenhuma proposta de protocolo de orientações e serviços”, criticou. O parlamentar elogiou a iniciativa do município de Santa Maria que constituiu um Núcleo de Atenção Pós-Covid-19. A boa notícia, segundo o deputado, é que durante encontro na Secretaria Estadual de Saúde, foi informado que o Estado vai realizar a capacitação de equipes da área da saúde para atender pacientes Pós-Covid-19.

Presente de forma virtual, o presidente do Conselho Estadual de Saúde, Cláudio Augustin, relatou que estudos de várias instituições nacionais e internacionais apontam que 70% das pessoas infectadas pelo coronavírus apresentam alguma sequela e 20% apresentam sequelas graves. Augustin, que é também vítima das sequelas da Covid-19, denunciou que o governo ignorou sugestões feitas pelos Conselhos na adoção de medidas de prevenção, de atendimento à saúde e instituição de protocolos.

Inara Ruas, vice-presidente do Conselho Estadual da Saúde, falou sobre a necessidade de identificação do número de vítimas da Covid-19 que sofrem com as sequelas da Covid-19, bem como das patologias vividas por essas pessoas. Ela destacou o papel da Frente Parlamentar em estimular a formação de Comitês, Frentes e Núcleos no interior do Estado, para lutar por investimentos e políticas públicas em defesa das vítimas das Covid-19.

A fundadora e presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 – Avico Brasil, Paola Falceta, presente de forma online, criticou a falta de promoção e prevenção em saúde pelo Estado, o que é um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Ela apontou o Estudo da Fiocruz o qual informa que metade da população infectada pela Covid-19 apresenta sequelas, com duração de, no mínimo, 1 ano. Ela também apontou a falta de um protocolo nacional de monitoramento e de avaliação desses casos. A presidente da Avico Brasil indicou que o poder Legislativo deve auxiliar o Executivo para trabalhar com as informações científicas.

Para a coordenadora do Núcleo de Saúde da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19 – Vida e Justiça, Rosângela Dornelles, junto a luta pelos direitos dos pacientes e familiares de vítimas da pós Covid-19 é preciso lutar pela garantia dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). “É inadmissível ter um sistema que não garanta o atendimento básico à população”, frisou. Segundo ela, durante a pandemia, o SUS mostrou o quanto seus serviços são essenciais à população. “Nada nos tira deste caminho que mostra temos que ter vontade política para mudar”, enfatizou. Rosângela apontou ainda que a pandemia ainda segue em curso e as medidas de proteção e promoção da vacina foram deixadas de lado pelo Estado.

Vítimas da Covid-19

Durante a audiência também houve relato de pessoas que convivem com as sequelas da doença. Elas relataram o sofrimento vivenciado durante o período de internação e as dificuldades enfrentadas em conviver com as sequelas e na busca de serviços especializados. É o caso, por exemplo, da professora Maria Cândida, que chegou a ficar 54 dias internada, sendo 19 deles na UTI. “É um sofrimento muito grande e, por isso, é inadmissível dizer que é um gripezinha”, relatou. A professora atribuiu ao Sistema Único de Saúde (SUS) o fato de não ter havido mais mortes, sendo que o Brasil foi responsável pelas 10,58% das mortes no mundo. “Só não tivemos muito mais mortes porque o SUS está ativo ainda”.

O presidente do Legislativo de Santa Maria, Valdir de Oliveira (PT), se emocionou ao relembrar o tempo que esteve internado na UTI. “Completou um ano que estive internado na UTI, não tenho constrangimento em contar o quanto tenho chorado, seja de emoção, gratidão, ou por comoção ao encontrar amigos que perderam familiares”, relatou. Ele também destacou que as sequelas da Covid -19 são invisíveis, em grande número e precisam ser superadas. “A condição normal é possível, mas existem mudanças nas nossas vidas a serem feitas e outras que não tem mais como mudar” .

O presidente do Legislativo salientou a responsabilidade dos gestores em garantir orçamentos à saúde, ampliação das políticas públicas de orientação e destacou a importância do atendimento psicológico às vítimas e familiares. “Tenho encontrado muitas pessoas, famílias destroçadas pelas perdas de seus entes queridos, pela forma que se despediram dos seus familiares”. Por fim, o parlamentar cobrou do Estado uma melhor atenção aos pacientes de Covid-19, que têm sofrido com inúmeras sequelas que muitas vezes não conseguem identificar e tratar como consequência da doença, por falta de orientação.

A Frente Parlamentar foi constituída a partir da aproximação com o Comitê Estadual em Defesa das Vítimas da Covid-19, que reúne entidades como o Conselho Estadual de Saúde Brasil e Conselho Regional de Enfermagem e a Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 – Vida e Justiça.

Texto: Silvana Gonçalves (MTB 9163)

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