domingo, 24 novembro
Foto: Guerreiro
O professor e pesquisador José Clóvis de Azevedo recebeu, na manhã desta quinta-feira (26), a Medalha do Mérito Farroupilha, maior honraria concedida pelo parlamento gaúcho. A iniciativa foi da deputada Sofia Cavedon (PT), e a entrega ocorreu em uma cerimônia no Salão Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa, na presença de familiares, deputados, sindicalistas, professores e alunos.

Citando o poema Expulso por um Bom Motivo, de Bertolt Brecht, Sofia transcorreu sobre a personalidade do homenageado, “sempre curioso, inquieto e amante da justiça e da verdade”. Nos 35 anos de atuação na rede estadual, o primeiro reitor da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul foi várias vezes transferido de escolas e uma vez expulso, “mas sempre foi leal à verdade e sempre esteve ao lado da dignidade humana”. “Zé Clóvis despertou em muitas meninas e meninos o desejo de lutar pela democracia e contra as injustiças. Freiriano, horizontalizou caminhos, problematizando a realidade escolar que naturaliza a exclusão e protagonizando grandes debates que foram fundamentais para a ruptura de um modelo herdado da ditadura militar”, apontou Sofia.
Hoje, conforme a parlamentar, o ex-secretário de Educação de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, durante o governo Tarso Genro, é uma das principais vozes do Brasil contra a militarização da educação, o projeto Escola sem Partido e a entrega de setores da educação à iniciativa privada. “Ele continua inconformado, buscando o novo, desmistificando conceitos que se naturalizam e  denunciando o desmonte da carreira do magistério. Continua sendo aquele que prima pelas construções coletivas, mas que instiga sempre a se dar um passo à frente”, frisou.
“Não falarei só de flores”
Mesmo emocionado e agradecido pela homenagem, Zé Clóvis avisou na tribuna que não falaria só de flores. E, no transcurso de seu pronunciamento, teceu duras críticas ao desmonte da educação no Rio Grande do Sul, ao ataque à dignidade pessoal e profissional dos educadores  e à destruição de carreiras, “sob a falsa alegação de que as vantagens do magistérios são penduricalhos que devem ser eliminadas” em nome do equilíbrio fiscal. “Um ataque discriminatório, que poupou outras carreiras cujas vantagens ultrapassam 30 vezes a remuneração dos educadores”, disparou.
O homenageado dedicou-se também a desmistificar conceitos disseminados para constituir um senso comum favorável à “mercantilização da vida e à naturalização de uma nova escravidão”. Um deles é a meritocracia que, segundo Zé Clóvis, esconde a desigualdade e, junto com o empreendedorismo, se transformou numa espécie de “nova religião”, alinhada às regras do mercado. Criticou também o incentivo à competitividade, que “vê o outro como alguém a ser eliminado”, e defendeu a formação humanista dos jovens.
Ele também apontou os equívocos da reforma do Ensino Médio, mencionando como exemplo a adoção de disciplinas sem base científica, como a denominada Projeto de Vida. “Obrigam os jovens pobres a uma definição precoce em uma rede de ensino precarizada, criando um falso direito de escolha”, alertou.
O presidente da Assembleia Legislativa, Valdeci Oliveira (PT), afirmou estar orgulhoso por presidir o parlamento no momento em que o ex-reitor recebe a Medalha do Mérito Farroupilha e revelou que se identificou, em muitos aspectos, com a trajetória do homenageado. “Parece que vi um filme. Também fui um menino pobre criado no interior que tinha que caminhar muitos quilômetros para chegar à escola. Mas fazia com vontade e determinação”, contou.
Valdeci afirmou ainda que o exemplo e o pensamento de Zé Clóvis devem servir de inspiração para fazer as mudanças necessárias e resgatar a educação do lugar onde se encontra atualmente, que é “no final da fila das prioridades”.
Os deputados Edegar Pretto (PT) e Jeferson Fernandes (PT) prestiagiaram o evento, ao lado do ex-governador Miguel Rossetto e do deputado federal Elvino Bonh Gass (PT/RS).
Fonte: Agência de Notícias ALRS
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