A originalidade investigativa da pesquisa e a competência científica fazem parte da história do desenvolvimento da humanidade. E esta época da infeliz tragédia pandêmica que nos aflige evidencia mais ainda este aforismo.
A primitiva ciência e os rudimentares conhecimentos que descortinaram caminhos para sucessivas revoluções industriais jogaram luzes na travessia do gênero humano para evitar a barbárie e optar pela civilização.
Portanto, a reafirmação do compromisso com o conhecimento deve ser sempre também uma obrigação explícita com o processo civilizatório e toda a dimensão ética da história humana.
Na cronologia do conhecimento, ele esteve sempre associado de forma implícita à ética, que era considerada como algo congênito ao saber, que por sua vez era entendido como um sinônimo lógico de desenvolvimento.
Infelizmente, foi a tragédia da bomba de Hiroxima – e a perpetuação de suas sequelas sobre gerações e gerações – que fez com que fosse percebido amargamente que o conhecimento não contém naturalmente possibilidades civilizatórias. E despregado da dimensão ética, também pode ser um produtor de barbárie.
Vale o mesmo para o nosso tempo, não fosse a velocidade com que o desenvolvimento científico-técnico e sua ética chegaram às produções de vacinas para enfrentar a covid-19, mesmo em meio às tentativas de interdições negacionistas, a tragédia que já foi inaceitável, teria sido muito pior.
A verdade é que vivemos sob permanentes riscos de desvarios bélicos, de fenômenos (des)naturais que assolam a humanidade e de enormes tragédias sanitárias e bélicas, capazes de multiplicar Hiroxima e a pandemia por muitas e muitas vezes. Mas, felizmente, não acalentamos mais a ingênua ideia de que o conhecimento é sinônimo de belas intenções, que embalado por naturais virtudes, impulsiona espontaneamente nossos propósitos civilizatórios.
É imprescindível agregar explicitamente a dimensão da ética ao conhecimento, sem perder sua perspectiva crítico-inconformista, razão de sua existência. Pois só assim, ele será implementado de forma digna e responsável, em uma perspectiva de avanço e melhora do gênero humano, sobretudo na defesa de seu bem maior, a vida no planeta.
Adão Villaverde, Engenheiro e professor de gestão do conhecimento e da inovação