Veja aqui a íntegra do discurso de posse do deputado Valdeci Oliveira como presidente da Mesa Diretora que irá conduzir o 4º ano da 55ª Legislatura da Assembleia Legislativa gaúcha.
Antes de começar este discurso de posse, eu gostaria de externar minha sincera e profunda solidariedade às mães, pais, avós, irmãos, filhos e filhas das mais de 620 mil brasileiras e brasileiros, vítimas fatais da covid-19.
Meu carinho muito especial também aos familiares daqueles que nos deixaram há nove anos, completados no último dia 27, por conta da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, algo que nunca mais pode e deve se repetir.
Parto dessas lembranças, que são tristes, mas que precisam ser reiteradas, para também recordar, no início desta manifestação, uma coincidência muito feliz e especial para mim e para minha família.
Hoje, o meu querido pai, o Seu Joreci, que assiste esta posse pela TV Assembleia, lá em Santa Maria, completa 88 anos de vida/ Parabéns, pai. O senhor não faz ideia do orgulho que sinto em ser teu filho. Tu e a Dona Lenir, minha mãe, são os maiores responsáveis por este dia.
Obrigado, pai e mãe, pela criação simples, mas honesta e justa que vocês me proporcionaram e proporcionaram aos meus queridos irmãos Nilza, Valdir e Valmir.
Sou grato pelas sementes da esperança e da justiça plantadas em mim e que continuam a brotar. Obrigado pela consciência de que a nossa condição social, por vezes dura e não menos injusta, não era motivo para andarmos de cabeça baixa
E por termos seguido esses conselhos, imagino o orgulho de vocês ao verem um filho assumindo hoje a presidência do Parlamento gaúcho, e outro, o Valdir, à frente, neste ano também, do Legislativo Municipal de Santa Maria. O Valdir, que também está aqui hoje conosco e que no ano passado lhes deu um imenso alívio ao vencer a covid depois de 118 dias internado, sendo 71 destes intubado.
Um verdadeiro guerreiro, um verdadeiro sobrevivente, que escapou do pior graças a sua perseverança, às orações, ao excelente trabalho dos profissionais da saúde e também a um punhado de sorte.
A vocês, meu pai e minha mãe, meu muito obrigado pelo carinho, amor e apoio que venho recebendo de vocês há 64 anos.
Também agradeço à minha companheira de vida, Elaine, pela paciência e pelo ombro que nunca me faltaram nesta jornada, e às minhas filhas Tamara e Diossana, que, por vezes, não entendiam a minha ausência na maior parte dos seus dias.
Meu carinho mais do que especial às minhas netas Bethina e Maria Luísa e ao meu neto João Bento. Vocês são como aquele SOPRO NA BRASA que mantém a lenha queimando, aquecendo, iluminando à noite por vezes escura demais. Amo muito vocês.
Agradeço também a muitos companheiros e muitas companheiras pela confiança estabelecida em quase quatro décadas de lutas. O meu aprendizado aconteceu errando, corrigindo e acertando. Aprendi ao optar sempre pela ação ao invés da omissão.
Em nome do companheiro e amigo Paulo Pimenta, também aqui conosco hoje, parceiro de inúmeras jornadas de luta e militante que formou comigo a primeira bancada de vereadores do PT em Santa Maria, e em nome da companheira Juçara Dutra, vice-presidente estadual do meu partido, eu saúdo todos esses companheiros e companheiras de caminhada, mulheres e homens que oportunizaram a minha participação na construção dos seus sonhos, cujo fazer é coletivo e constante.
E nessa estrada aprendente e ensinante, como diz a amiga Irmã Lourdes Dill – referência permanente para o meu trabalho e amiga que também está aqui presente nesta cerimônia – eu acumulei conhecimentos como vereador, deputado federal, prefeito por duas oportunidades da minha querida Santa Maria e, por três vezes, como deputado estadual.
Não menos importante, meu agradecimento, em nome do líder e colega Pepe Vargas, aos meus companheiros e a minha companheira da bancada do Partido dos Trabalhadores, que depositaram em mim a sua confiança para representá-los na presidência desta Casa no último ano da 55ª legislatura.
Vou cumprir essa tarefa com muito orgulho e dedicação, como o fizeram os amigos e parceiros de caminhada Ivar Pavan, Adão Villaverde e Edegar Pretto em legislaturas passadas. Esse trio deixou um legado muito importante para a nossa atuação em 2022.
Meu agradecimento especial pela presença nesta solenidade ao amigo, companheiro e ex-governador Olívio Dutra, com quem também muito aprendi nas últimas quatro décadas. Obrigado por estar aqui e obrigado pelas muitas lições, Mestre Olívio, o nosso Galo Missioneiro.
Também cumprimento com muito carinho o ex-governador Germano Rigotto, aqui presente, que era chefe do executivo estadual quando fui prefeito de Santa Maria, período em que estabelecemos uma relação republicana e de respeito mútuo.
Obrigado ao meu ex-colega de Parlamento e atual prefeito da nossa querida Santa Maria, Jorge Pozzobom, acompanhado aqui do vice-prefeito Rodrigo Décimo. Eu e o Pozzobom prezamos os interesses do “Coração do Rio Grande” acima das nossas diferenças políticas, sempre com respeito e cordialidade.
Obrigado pela presença, reitor Luciano Schuch, que há pouco, assumiu o comando da Universidade Federal de Santa Maria e a quem desejamos muito êxito nessa grande missão. Aqui, na Presidência do Parlamento gaúcho, reafirmamos em alto e bom som o nosso compromisso com a defesa das universidades, institutos de educação e da educação em geral, especialmente da educação pública. A educação continua sendo o melhor caminho para o futuro das nossas crianças e da nossa juventude.
Senhoras deputadas, senhores deputados, amigos e público que nos assiste neste dia.
Se somos a soma de todas as nossas experiências, nessa matemática tive muito mais adições que subtrações.
Ainda guri, em São José da Porteirinha, hoje território de Dilermando de Aguiar, na Região Central do Estado, eu passava bastante tempo na lida da lavoura para ajudar os meus pais, que eram pequenos agricultores. Mas, nos intervalos de descanso, eu e o meu irmão Valdir, aproveitávamos o pouco tempo livre para imitar programas de rádio e ensaiar como se fôssemos uma dupla sertaneja. No final de semana, apresentávamos o que foi ensaiado para os amigos e parentes que se reuniam no saudoso galpão do Tio Darci.
Do meio rural para a vida na cidade, eu tive a felicidade também de acumular uma inesquecível experiência profissional e pessoal ao passar pelo balcão das famosas casas Jaraguá, no centro de Santa Maria, no início dos anos 1980. A identificação foi tanta com a função que, por longo tempo, fui campeão de vendas de tecidos naquele estabelecimento. Em seguida, tornei-me o metalúrgico que se envolveu com o sindicato e com os movimentos sociais. Essas foram só algumas das oportunidades iniciais que a vida me deu e que só tenho a agradecer.
Principalmente, porque, a partir dessas oportunidades, o jovem Valdeci começou a entender como se davam as relações sociais e de trabalho e se encantou com as possibilidades de transformação social que podiam ser levadas adiante a partir da consciência e da organização do povo trabalhador, um aprendizado que estará sempre comigo e que sempre busco compartilhar.
Assumo a presidência deste Parlamento, espaço político mais importante do nosso Rio Grande, num momento em que todos, mundo a fora, precisam estar ainda mais unidos, atentos e prontos a darem respostas.
Assumo a presidência de um Parlamento que dá voz a diferentes e muitas vezes antagônicas parcelas da sociedade e cuja condução é feita de forma compartilhada, plural e colaborativa desde 2007.
Aqui se define conjuntamente, e não pela mera vontade do presidente, desde os temas básicos da administração da Casa até o que vai à votação neste plenário. Assumo a presidência de um parlamento onde não há vencidos nem vencedores. Aqui há debates duros, defesa firme de posições, conversas, convencimento e necessidade de votos.
Assumo a presidência deste Parlamento num momento desafiador a todos e todas, afinal está posta a necessidade de retomadas, a necessidade de conjugarmos o verbo esperançar. Num momento em que a presença da justiça social fará toda a diferença para a sobrevivência de parcela significativa de nossos irmãos e irmãs. Assumo a presidência num momento em que este Parlamento precisará estar ainda mais próximo dos anseios e necessidades da população.
Trata-se de um momento que, infelizmente, não nos oferece o luxo do tempo, não nos oferece a chance de errar ou esperar.
2022 é o ano em que teremos de superar muitas dificuldades, principalmente com o passivo de sequelas deixado pela pandemia junto à população, o que irá demandar ainda mais atendimentos e tratamentos na rede pública.
2022 é um momento de defesa da saúde pública, cujos profissionais, mais que aplausos, que são sempre bem-vindos, merecem o reconhecimento e a valorização do seu trabalho.
Uma valorização que corrija injustiças, uma vez que em alguns estados, como aqui no RS, quem atua na enfermagem chega, em alguns casos, a ganhar menos de dois salários mínimos mensais, e técnicos, auxiliares e parteiras têm remunerações ainda mais baixas, com jornadas estafantes, triplas, pois a maioria da categoria, 85%, são mulheres.
2022 é um momento de defesa da ciência. A ciência que salvou muitas vidas e continuará salvando. 2022 deve ser um momento em que não sejamos mais pegos pelo falso dilema entre economia versus vida. A vida e a economia, a economia e a vida têm que caminharem lado a lado e jamais em sentidos opostos.
2022 vai exigir muito de nós. E a Assembleia Legislativa não pode se furtar de fazer esse debate.
Aqui nesta Casa, com a aprovação de projetos, ou na sua recusa, se decide os rumos das vidas de cada gaúcha e cada gaúcho.
Mal ou bem, é aqui deste parlamento que, mesmo sem a chamada, abre aspas, “caneta na mão”, fecha aspas, saem os votos para aquilo que será aplicado pelo governo em saúde, educação, segurança pública, cultura, infraestrutura, etc.
Daqui saem os votos para o reajuste do mínimo regional, daqui saíram os votos para o auxílio emergencial gaúcho. Daqui podem sair também os votos para mais propostas de incentivo à geração de trabalho e renda. Daqui podem sair também os votos para o crédito emergencial da agricultura familiar, iniciativa da minha bancada que visa auxiliar um segmento que reúne mais de 290 mil estabelecimentos, que responde por quase 70% da mão-de-obra que trabalha no campo e que foi fortemente atingido pela pandemia.
Daqui podem e devem sair propostas em contribuição a ações que minimizem os efeitos destruidores da forte estiagem sobre as lavouras do estado, principalmente junto àqueles com mais dificuldade de acessarem crédito. Aliás, ajudar na amenização dos reflexos da estiagem é uma tarefa INADIÁVEL também deste Parlamento e com a qual me comprometo desde já. E essa ação, registre-se, vem sendo trabalhada, mesmo durante o recesso, pelos deputados e deputadas que atuam no setor.
Desta Casa podem sair propostas para a garantia da manutenção de recursos a hospitais e à atenção básica e daqui podem sair novas e mais arrojadas propostas para a garantia da subsistência de quem está abaixo da linha da pobreza.
Deste Parlamento podem sair os votos para que a disputa por espaços na vida real seja mais justa, com condições de igualdade para quem busca a tão óbvia e necessária cidadania. Como parlamento, temos espaços para protagonismos. Como parlamento, temos espaços para sermos ainda mais propositivos.
Assim como em diferentes momentos da nossa história, e mais explicitamente nos últimos três anos, 2022 é um momento de defesa incontestável da democracia. Não da democracia como simples imposição da vontade da maioria sobre a minoria.
Mas da democracia verdadeira e ampla, em que as minorias não sejam obrigadas a se curvar, mas que sejam ouvidas, participem, tenham vez e voz.
Uma democracia que a gente também mede pelo que falta no prato de cada cidadão e de cada cidadã, especialmente dos homens e mulheres mais simples, daqueles que são invisíveis à maioria da sociedade.
O cinturão da fome no Rio Grande do Sul, SENHORES E SENHORAS, já está em mais de um milhão e meio de vidas, vidas que ficaram desassistidas, que perderam o auxílio emergencial de um ano para outro, sem que a economia tenha se recuperado completamente.
Como presidente da Assembleia, tenho a obrigação, não apenas política, de ser coerente com aquilo que sempre defendi e de somar esforços pelo melhor e necessário a ser feito neste novo enfrentamento que se avizinha, que traz consigo ainda muitas dúvidas e muito trabalho.
Mas diante das certezas, enxergamos este Parlamento sempre como um anteparo vigoroso ao discurso de ódio, que joga irmão contra irmão, e como um anteparo ao racismo, que mata e exclui por conta da cor da pele.
Que este Parlamento nunca se cale diante da violência contra a mulher, uma chaga e uma vergonha que temos de encarar e combater de frente, todo o santo dia, em todos os espaços.
Como presidente da assembleia, vou trabalhar para que este parlamento nunca se apequene diante de atos de preconceito e violência contra a população LGBTQIA+, da mesma forma que vou trabalhar para que este parlamento nunca feche seus olhos aos direitos e ao respeito às populações indígenas.
Que este parlamento repila sempre a visão de que o oponente de hoje é o inimigo a ser aniquilado. E que este parlamento atue diuturnamente para que enxerguemos o outro como um igual.
Que este parlamento veja a saúde, a educação e a assistência social como investimentos e não como meros gastos em planilhas contábeis.
Que a defesa da vida esteja acima de todas as outras aspirações.
Aliás, muito orgulho senti desta Assembleia, colega Gabriel Souza, quando, no auge da crise da covid, num momento em que os sistemas público e privado de saúde atravessavam seu pior momento, esta Casa, sob a sua coordenação e da presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente, a colega Zilá Breitenbach, e articulada com entes dos demais poderes, destinou extraordinariamente recursos para os hospitais gaúchos. Essa atitude, que ilustra bem a força desta Casa, evitou o colapso e salvou inúmeras vidas.
Vou trabalhar para que, neste Parlamento, se faça o debate amplo e não reducionista sobre o papel do estado. E lembro que estou entre aqueles que não defendem o estado mínimo nem o estado máximo, mas, sim, o estado necessário para dar conta desse verdadeiro mosaico em termos de carências e de dívida social que existem para com o povo gaúcho e brasileiro.
Vou trabalhar para que este Parlamento, respeitando sempre aqueles que pensam diferente, incorpore ainda mais a defesa do serviço público, pois esta reflete diretamente sobre o que é prestado para a população lá na ponta.
O sucateamento do serviço público não gerou desenvolvimento em lugar nenhum, senhores e senhoras, muito pelo contrário. E nunca é demais lembrar o trabalho excepcional dos nossos servidores nessa pandemia, sejam os trabalhadores do SUS, da Anvisa, do Butantã, das universidades, da Fiocruz e de tantas outras instituições ligadas à ciência e à saúde. Se temos vacina no braço hoje é porque contamos com servidores públicos comprometidos com seu trabalho.
E ao mencionar o serviço público, saúdo também os servidores e servidoras da Assembleia Legislativa, de todos os setores, que prestam e vão seguir prestando uma grande contribuição profissional a esta Casa e ao Rio Grande.
Lembro a todos e todas que os reflexos da crise sanitária também atingiram fortemente esta Assembleia, mas o nosso corpo de servidores, de forma muito ágil, atuou e evitou que a prestação dos serviços legislativos fosse PRECARIZADA ou descontinuada.
Faço questão de também de afirmar que este Parlamento vai, sim, dar continuidade ao controle e a racionalização dos seus gastos. E, nesse ponto, é importante registrar e recuperar o trabalho já em curso nesta Casa. As despesas com pessoal dessa instituição, ao final do 2º quadrimestre de 2021, equivaleram a 0,80% da Receita Corrente Líquida, índice bastante inferior aos limites exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
A participação da Assembleia no bolo orçamentário do Estado é de 1,36%. As despesas com diárias, por exemplo, caíram mais de 90% nos últimos 14 anos, e as com a indenização veicular foram reduzidas em mais de 70% no mesmo período.
Em 2006, as despesas da Assembleia eram cobertas com o equivalente a 10 dias de arrecadação de ICMS do Estado. Em 2020, esse índice caiu quase pela metade, ou seja, para 5,2 dias no ano.
Esse zelo com a gestão fiscal, colegas deputados, colegas deputadas, prosseguirá, estará sempre no nosso horizonte e no horizonte de vigilância da Superintendência Administrativa e Financeira. / Mas, da mesma forma, nós também não vamos engessar o funcionamento e a realização das atividades fundamentais desta Casa. O Parlamento, lembro, não funciona apenas nos gabinetes bem refrigerados do Palácio Farroupilha, aqui na capital.
O Parlamento é ESTADUAL e deve funcionar também na ponta, também no barro, também junto às comunidades que ficam distantes da Praça da Matriz, em Porto Alegre.
Mais do que simples sonhos ou desejos, o que digo aqui tratam-se de opções políticas reais e que podem e devem ser perseguidas, buscadas.
No jogo democrático, o Parlamento tem papel fundamental na formatação de propostas que combatam as deficiências e injustiças por vezes produzidas e ignoradas pela sociedade.
Ao mesmo tempo em que sei dessas possibilidades, me causa angústia observar a não compreensão do relevante papel desta Casa junto a parcelas dessa mesma sociedade. A vida dos gaúchos e gaúchas, a vida real, passa pelas decisões e encaminhamentos desse Parlamento.
E isso precisa ser demonstrado, de forma cada vez mais explícita pelas nossas ações de comunicação, que contam com o suporte qualificado da TV Assembleia, da Rádio Assembleia, da Agência de Notícias, da Radioweb e das redes sociais.
A democracia, corretamente, na Era da Informação e do Conhecimento, tem de ser ativa, interativa e deve ser livre de notícias falsas, as fake news, como propôs corretamente a gestão 2021 desta Casa Legislativa.
Mas a democracia, principalmente a nossa, tão jovem e frágil, me leva a citar um grande brasileiro, o saudoso educador Paulo Freire.
Para ele, abre aspas, “nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia. E a luta por ela passa pela luta contra todo tipo de autoritarismo”, fecha aspas. Isso tem mais de trinta anos, mas é tão atual quanto verdadeiro.
Tenho certeza de que este Parlamento tem muito a contribuir nesse debate, lapidando as divergências, desnudando o que por vezes parece invisível, principalmente as desigualdades de muitos e os privilégios de poucos.
Esta é uma casa de diálogo, de debate e de ação política com P maiúsculo. E isso muito me orgulha, afinal é pela política, é pela boa ação política, e JAMAIS PELA NEGAÇÃO DELA, que vamos crescer enquanto sociedade.
As coisas avançam com maior naturalidade e qualidade na Assembleia quando são construídas em conjunto, de forma solidária e plural.
Isso eu vivenciei muito de perto, entre os anos de 2012 e 2014, durante a liderança do governo do companheiro Tarso Genro aqui no Parlamento, o que me deu muita experiência para assumir esta presidência.
Tenho a plena noção de que o desafio de estar à frente do legislativo estadual é bem diferente de estar à frente de um mandato. O desafio é outro.
O desafio é o de representar 55 homens e mulheres das mais diferentes vertentes políticas e que contarão com meu apoio às iniciativas parlamentares como um todo, sempre tendo o regimento interno como guia.
Porém, isso não significa que nossas convicções devam ser escamoteadas.
Não vou deixar de lutar pela implementação do teste do pezinho ampliado, direcionado aos recém-nascidos e que pode salvar muitas vidas. Trata-se de um projeto por nós apresentado e aprovado em março do ano passado neste plenário e que ainda carece de implementação na rede pública de saúde do estado.
Não vou deixar de lutar também pela implementação de uma política estadual de renda básica às camadas mais vulneráveis. E, da mesma forma, vou continuar vigilante à situação dos nossos hospitais, casas de saúde e hemocentros regionais e do nosso Sistema Único de Saúde.
Também não vou desviar a minha atenção do cenário das estradas, do meio ambiente, do saneamento, da educação, da cultura, da inovação e da economia solidária do Rio Grande do Sul, entre tantas outras demandas importantes para nossa população.
E será com este mesmo princípio que iremos construir as condições necessárias para trabalharmos sem nos afastarmos das pessoas, interiorizando, levando o Parlamento onde for preciso estar, da forma que for possível ser feita, mas sempre com o mesmo compromisso que é o de integrar ainda mais a Assembleia no cotidiano das gaúchas e gaúchos.
A Assembleia é e deve continuar sendo a Casa dos Grandes Debates, da busca pela convergência onde for possível, onde for necessário, sem se furtar de encarar os problemas de frente. E sei que contarei com o apoio imediato dos meus colegas que integram a qualificada Mesa Diretora que vai gerir de forma colegiada e democrática este parlamento.
E esses mesmos princípios, GOVERNADOR EDUARDO LEITE – o diálogo, a transparência e a postura republicana e colaborativa – serão norteadores da relação que vamos praticar com o governo do Estado e com os demais poderes. A divergência ideológica nunca foi empecilho para se construir pontes e buscar consensos.
Enquanto prefeito de Santa Maria, estabeleci relações e diálogo com o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem eu era oposição em nível federal, e da mesma forma com o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como prefeito durante oito anos, dialoguei e sempre mantive os canais políticos abertos com os três diferentes governos estaduais na época, fosse com o companheiro Olívio Dutra, com quem espraiamos importantes parcerias, fosse com Germano Rigotto e Yeda Crusius, com os quais também mantivemos relações cordiais e republicanas e também realizamos ações conjuntas.
Eu acredito que o diálogo e a busca da concertação política existam não para anular nossas próprias convicções. E vimos isso na prática quando das qualificadas presidências exercidas pelos colegas Luiz Augusto Lara, Ernani Polo e Gabriel Souza, que muito bem me antecederam nesta Legislatura e cujas autenticidades nunca impediram que a harmonia se fizesse presente e o respeito fosse uma constante.
O diálogo é o momento, eu diria, tanto para ouvir como para reafirmar aquilo em que se acredita. / Se a ação política é, abre aspas, “a arte do possível”, fecha aspas, que se busque realmente esse possível, até mais do que ele próprio muitas vezes se mostra.
Um possível que tem nome. Na verdade, vários nomes, como saúde, educação, emprego, segurança, renda, mas também tolerância, inclusão, empatia e solidariedade.
Como presidente, vejo a chamada Casa do Povo sempre de portas abertas, mas atenta às regras e protocolos de segurança. Vejo a Casa do Povo com nenhum debate sendo interditado, nenhuma voz sendo calada. Que nossas diferentes matrizes produtivas encontrem espaço equânime na agenda política do RS.
Como presidente, vejo a Casa do Povo debatendo firmemente com a sociedade a política industrial, as nossas cadeias regionais, a inovação, a economia criativa, o microcrédito e o fortalecimento da nossa vocação agrícola, especialmente da agricultura familiar, que carece de apoio para seguir colocando comida de qualidade na mesa da população.
Mais do que isso, vejo a necessidade do debate sobre o desenvolvimento econômico, dos grandes projetos aos pequenos negócios, tão necessários, dialogar com a urgência da geração de trabalho e renda.
Vejo que o desenvolvimento do nosso estado deve dialogar com as mulheres, a juventude, as crianças, a terceira idade, a primeira infância e também com a educação e com a cultura, pois a cultura é, não esqueçamos, uma fonte significativa de geração de empregos e de receitas.
Todavia, por não sermos uma ilha, por não sermos alienados, não há como ignorar, senhores e senhoras, que nunca, no Brasil, pelo menos no passado recente, tantas pessoas perderam sua própria dignidade, tantos perderam a própria vida por conta da ignorância e do descaso com a saúde, tantos voltaram à drástica realidade da fome e milhões de outros passam o seu dia assombrados pelo fantasma do desemprego e da falta de moradia. Como Poder Legislativo, reitero: não podemos ficar inertes diante de patamares tão baixos de desenvolvimento humano. A realidade posta é de uma pandemia sanitária, mas também de uma “Pandemia de Desigualdade”.
Que este parlamento ouça a voz do Papa Francisco, para quem, abre aspas, “não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade”, fecha aspas.
PARA ISSO, tenhamos menos indiferença.
POR ISSO, tenhamos mais igualdade.
E ao falar em “Menos Indiferença e Mais Igualdade” – essa que é a bandeira que propomos para a nossa gestão – quero registrar, ainda de forma preliminar, mas também de forma convicta, a pretensão de nos engajarmos em uma ação concreta neste sentido.
Nessa linha, desde já, quero convidar todas as instituições, movimentos e organizações do Estado que também compartilham desta preocupação para, juntos e juntas, prepararmos um MUTIRÃO SOLIDÁRIO DE PROTEÇÃO CONTRA A FOME NO RIO GRANDE DO SUL, UMA ESPÉCIE DE LIGA CONTRA A FOME EM NOSSO ESTADO.
Proponho isso, porque enfrentar a extrema pobreza e a fome é o grande desafio deste ano, é o grande desafio dos próximos anos aqui e no Brasil.
E isso só será possível, senhoras e senhores, unindo forças, unindo a sociedade para um objetivo comum que não tem VIÉS de esquerda, de direita ou de centro: tem o viés da humanização e da promoção da dignidade.
Não dá mais, senhores e senhoras, para ficarmos apenas olhando o número de CRIANÇAS E ADOLESCENTES PEDINTES aumentar, dia após dia, nas sinaleiras das nossas ruas e avenidas, no momento que elas deveriam estar na escola estudando.
Fazer acontecer um grande e plural movimento pela segurança alimentar da nossa população é fazer avançar a saúde, a assistência social, a educação e a inclusão.
Se há um sonho que eu gostaria de ver realizado, dentro de alguns anos, é tomar conhecimento que o meu Rio Grande se tornou um território livre de fome e livre da pobreza extrema. Esse desafio, eu acho, a sociedade gaúcha deveria “comprar” como um todo. As nossas crianças não vão aprender se tiverem fome. E não vão ter saúde se não se alimentarem ao menos três vezes por dia.
Por isso, o Parlamento gaúcho coloca, desde já, a sua força política e institucional à disposição dessa iniciativa, que, repito, para ter contundência, precisa ser coletiva, plural, solidária, organizada e precisa ter sequência.
Como sempre digo, não temos tempo para o lamento ou de correr em busca de culpados. Isso todos sabem, isso todos viram.
Iremos, no que estiver ao alcance deste legislativo e deste presidente, atrás de propostas que auxiliem o governo do Estado a enfrentar os percalços; iremos atrás da volta do sorriso, da esperança.
Reforçaremos o diálogo, explicitaremos a humanidade, buscaremos o otimismo e a empatia em cada coração e mente. Respeitaremos e comemoraremos a diversidade e compartilharemos nossas decisões, considerando sempre a pluralidade de ideias, a garantia da independência e da transparência.
Nesses últimos dois anos, um dos aprendizados que tiramos da pandemia, que infelizmente ainda não acabou, é que não podemos deixar ninguém para trás, não podemos largar a mão de quem quer que seja, só porque ela é preta, só porque ela é pobre ou só porque ela é gay, lésbica ou travesti.
E se depender de mim, com a franqueza e humildade que me são caras, este Parlamento, entre os diversos desafios deste 2022, irá bater na tecla de que PROMOVER A IGUALDADE É PROMOVER COMPETITIVIDADE, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO. Ao combatermos a fome, senhores e senhoras, estamos promovendo a igualdade entre quem faz três refeições por dia e aquele que sequer tem um pedaço de pão para comer.
Ao defendermos o nosso valoroso SUS, estamos promovendo a igualdade entre quem possui um plano de saúde privado e quem precisa ir para a fila para pegar uma senha de atendimento às 6h da manhã.
Ao defendermos a promoção da renda e do emprego, nós estamos investindo na igualdade entre quem está empregado com carteira assinada e quem vive na incerteza da informalidade.
Por isso, reforço: Menos indiferença e mais igualdade. E tenham a certeza que buscarei isso todos os dias, sem nunca desistir do diálogo e do respeito à frente da presidência da Assembleia Legislativa do estado Rio Grande do Sul.
Fecho a minha manifestação repetindo um provérbio africano que é, praticamente, o lema do Projeto Esperança/Cooesperança, lá de Santa Maria, uma grande iniciativa de inclusão social que existe há mais de três décadas e que tem a coordenação da Irmã Lourdes Dill, a quem novamente registro e abraço. Diz o provérbio: MUITA GENTE PEQUENA, EM LUGARES PEQUENOS, FAZENDO COISAS PEQUENAS, MUDARÃO A FACE DA TERRA.
Viva o parlamento. Viva o povo gaúcho.