sexta-feira, 22 novembro

 Sofia Cavedon (*)

Era dia 27, dois depois do Natal, entre os feriados de fim de ano, quando um caminhão encostou em frente ao prédio da escola e as caixas com materiais pedagógicos, as cadeirinhas, os balanços e os livros de literatura infantis foram sendo retirados, dando adeus ao riso das crianças, às correrias, rodas e cantorias infantis. A EMEI Unidos da Paineira foi fechada . Sim, ela que nasceu ao lado de uma paineira pela união de moradores na luta por moradia e pelos direitos de suas crianças, sucumbiu ao governo municipal que faz conta de subtração quando se trata de políticas sociais e carreiras públicas tentando passar serviços e patrimônio público para a iniciativa privada explorar.

Cada escola é uma fome a menos, escreveu Carlos Nejar. Fome de ser gente, fome de felicidade, fome que manifesta a barriga vazia. Que importa isso para os que propagam o estado mínimo? Mistificam a concentração de renda e patrimônio pela falsa meritocracia, controlam ideologicamente com sua riqueza, a consciência coletiva para naturalizar essa concentração e a exclusão da grande maioria.

Eles condenam a infância a ficar sem escola ao abrir mão da soberania sobre o pré sal, ao favorecer sonegação e ofertar incentivos reduzindo receitas que financiariam a educação.

Não tem problema pagar taxas bem superiores à inflação pela dívida pública para garantir lucros indecentes do capital especulativo e pagar salários miseráveis às professoras e professores que garantem a educação pública brasileira – única porta de entrada para a dignidade humana da maioria do povo pobre brasileiro.

Os mesmos defensores do estado mínimo que fecham escolas, falam pejorativamente da bolsa família que nem acode todos os 55 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, enquanto 70% dos juros da dívida pública vão para os 0,1% mais ricos do país: bolsa-rico define Cattani em seu livro “Ricos, podres de ricos”. Dívida Pública esta que compromete 50% dos impostos arrecadados pelo governo, estima o estudo do mesmo autor.

Então, para o povo não entender isso, fecham escolas, atacam a carreira, terceirizam e contratam professor temporário – querem voltar a entregar educação pobre para pobre,   e amordaçada, para que reproduza a versão dos vencedores.

Pois bem, a educação estará no centro da luta de classes – que nesse momento tem no novo presidente do Brasil um grotesco representante das elites econômicas que vivem da exploração da classe trabalhadora cada vez mais precarizada e do conservadorismo repressor das liberdades – e terá que decidir para que serve o conhecimento que produz.

Mães da Escola Infantil Unidos da Paineira que testemunham com a vida de seus filhos e filhas o valor de uma educação pública de qualidade e emancipatória, decidiram resistir e persistir na luta por sua reabertura! Vamos com elas fazer o mesmo pela educação pública brasileira!

(*) Vereadora de Porto Alegre eleita deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Publicado no Sul21 em 02.01.2019

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