segunda-feira, 25 novembro
Foto: Reprodução Fotografia / ALRS

A implantação do método de alfabetização Alfa e Beto nos anos iniciais do Ensino Fundamental das redes públicas de ensino de municípios da Região Metropolitana foram contestadas pelos participantes da audiência pública promovida na sexta-feira (22) pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa. O debate foi coordenado pela deputada Sofia Cavedon (PT), que propôs o encontro.

O método é implementado nas redes públicas de ensino a partir do “Pacto pela Alfabetização”, uma parceria das prefeituras municipais com o Raiar Instituto. Este, adota o programa de alfabetização da Organização Não-governamental (ONG) Alfa e Beto. O programa é uma proposta pedagógica para alfabetização, baseada no método fônico e na teoria cognitiva da leitura. Esta teoria considera que, para compreender textos, é preciso desenvolver competências básicas como dominar o princípio alfabético e decodificar palavras. Este método pode ser visto como uma estratégia para a rápida alfabetização.

A deputada Sofia Cavedon informou que a Comissão encaminhará ao Ministério Público e a Famurs cópia do relatório da audiência e que continuará o debate sobre o tema. Ela disse ainda que encaminhou pedido na Assembleia Legislativa  para a constituição de uma Comissão Especial para monitorar o plano estadual de Educação.

Manifestações

Em seu depoimento, a professora Karla Renée disse que viveu um momento muito difícil na implantação do Alfa e Beto na escola onde lecionava em Viamão. A professora contou que o método foi imposto, sem diálogo com professores e direção da escola, e que além disso,  a tabela de atividades proposta imprimia um ritmo acelerado e que não levava em conta o processo de aprendizagem dos alunos. “Todas as crianças precisavam estar no mesmo ponto da cartilha do método. Eu trabalhava numa escola onde os alunos sofriam com os efeitos da guerra do tráfico e os alunos não estavam em condições de se adaptarem”, lamentou. Ela afirmou que, à época, procurou o Conselho de Educação e o Ministério Público para questionar a base legal da aplicação do Alfa e Beto, após observar a falta de base legal para a sua adoção. Karla disse ainda que o material didático de apoio às aulas continha erros gramaticais e contavam narrativas estranhas ao ambiente escolar, além de não apresentar conteúdos importantes. A professora também denunciou a invasão de monitores na sala de aula para vistoriar a implantação do trabalho. “Foi uma tragédia. Alunos não conseguiram ultrapassar suas dificultddes”, constatou.

Da mesma forma, o professor Raul Maia, da rede de ensino de Cachoeirinha, criticou a adoção do método. Ele argumentou que o Alfa e Beto não está em concordância com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação e com as lei municipais, ao promover a exclusão de alunos com deficiência, entre outros problemas. Raul relatou que procurou a Câmara Municipal da cidade e  pediu a anulação do contrato entre a prefeitura e o Raiar Instituto.

Também a professora Faby Dornelles, de Cachoeirinha, registrou sua contrariedade com a forma de adoção do novo modelo pela prefeitura que retira a autonomia das escolas. Além de lamentar a falta de diálogo, a professora disse que o método engessa o trabalho dos professores e conta com material didático ultrapassado.

O vereador de Cachoeirinha David Almanda (PT) avaliou negativamente o método de alfabetização. Para ele, a implantação do Alfa e Beto transforma os professores em meros reprodutores de conteúdos. Ele afirmou que as aulas em vídeo são maçantes, além de exigirem que os pais tenham internet.

A professora da Faculdade de Educação (Faced) da UFRGS, Sandra Andrade lembrou que esta diretriz metodológica já foi utilizada no estado. Ela destacou que o material didático entregue aos professores é um manual, com o mesmo cronograma para todas as escolas e ignora o conhecimento do professor. Sandra salientou, ainda, que o método não faz relação com outras áreas do conhecimento.

A professora Vera Peroni, da UFRGS,  avaliou que a aquisição do método pelas prefeituras é uma decisão política e está inserida em uma disputa de projetos para a sociedade, que contradiz o papel da escola na construção da democracia. “O que faz um agente público eleito repassar para a iniciativa privada uma solução educacional?”, questionou. Para ela, se forem aplicados recursos na escola pública, haverá uma educação de qualidade.

A gestora do Raiar Instituto, Jaqueline Machado, afirmou que o Pacto pela Alfabetização é uma parceria da sociedade civil com os entes públicos. Ela assegurou que no país o método obteve os melhores resultados. Ela citou as cidades de Sobral (CE) e Terezina (PI) como exemplo. “Como sociedade não podemos aceitar que alunos do 3º ano do ensino fundamental não consigam ler”, disse. Ela defendeu a utilização do método e acrescentou que o programa é baseado num processo fônico, com muita leitura de textos e prática de diálogos.

Também se manifestaram as professoras Cintia Teixeira, Estrela Vilanova, Isabel Medeiros e Simone Dornelles.

Fonte: Agência de Notícias ALRS

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