segunda-feira, 09 junho

A política é um imenso palco onde a construção de pactos e transformações sociais convivem com as contradições humanas. E uma das grandes contradições que vejo no cenário brasileiro – não que seja exclusividade nossa – é termos uma imensa maioria de trabalhadoras e trabalhadores eleitores, formada por pobres, classe média e classe média baixa que, mesmo vivenciando suas duras situações, são atores que escolhem representantes que atuam contra seus próprios interesses, direitos e necessidades. Essa não é uma discussão de hoje e provavelmente continuará a nos acompanhar enquanto existirmos. Mas cabe a cada um de nós, queiramos ou não, atores que somos, fazer no dia a dia essa disputa, externar o papel que cada um e cada uma têm neste imenso latifúndio que é a vida e suas escolhas.

Mas tem uma contradição relacionada à política que não me entristece como o exemplo acima, mas me revolta e me envergonha enquanto brasileiro: agentes públicos eleitos pela via democrática que buscam, falseando o conceito de liberdade, minar nossas estruturas, principalmente as democráticas, em busca da impunidade e da quebra das regras do próprio contrato social pensado por filósofos como Hobbes, Locke e Rousseau, tenha o custo que tiver.  

Autointitulados ‘patriotas’, enaltecem um passado que nunca existiu, mudam a História brasileira para encobrir os atos de violência estatal, como do período da Ditadura Militar de 1964, fogem do país para conspirar contra o Brasil e suas instituições e, mais do que tudo, para não responder por seus atos e continuar a cometer crimes com apoio de um poderoso sistema de algoritmos voltados a mentiras e desinformação.

‘Patriotas’ que, no seu afã ufanista e reacionário, ignoram o real sentido do termo, tão bem definido nos dicionários Houaiss e Aurélio, pois, para eles, basta vestir o verde e amarelo, entoar o Hino Nacional e odiar qualquer pauta inclusiva e humanitária para se qualificar ao posto. Não esqueçamos, foi em nome da ‘defesa do Brasil’ que ‘patriotas’, há 60 anos, tiraram um presidente do cargo, perseguiram, prenderam, torturaram e mataram milhares de, vejam só, compatriotas, nascidos e criados neste mesmo solo, que cantavam o mesmo hino e falavam a mesma língua. E os ‘patriotas’ de hoje buscam uma anistia para, a exemplo dos seus pares daquela época, não serem responsabilizados por seus crimes.

Com sinal trocado, os ditos ‘patriotas’ enaltecem o modo de vida de nação estrangeira e fogem do alcance da Justiça para conspirar contra nossa soberania, para impor a aqui a lei e a vontade de outro país, para que este nos dite os rumos e atitudes a tomar, numa clara mostra de subserviência política. Aqui, o ‘nacionalismo’, tão próprio e próximo do termo ‘patriota’, inexiste.

Esse modelo de ‘patriota’ busca, a partir de sanções econômicas estrangeiras, cercear nossas instituições, para que estas pensem duas vezes antes de proferir alguma medida contra essa turma, não importando o que tenha feito, não importando as provas mostrando isso.

Esse modelo de ‘patriota’ se vende como vítima de um ‘sistema opressor’, apesar de vivermos em plena liberdade de direitos civis e o país no qual buscam ‘auxílio’ ser hoje um dos símbolos da intolerância e da agressividade contra os mais fracos, que persegue universidades, empresas, jornalistas e juízes que se opõem aos seus desmandos, que deporta imigrantes que outrora construíram sua nação e sustentaram seu modo de vida.

Os ‘patriotas’ brasileiros não se incomodam e se aliam no estrangeiro a quem enaltece o chamado ‘poder branco’, fazem saudações nazistas, cortam ajuda humanitária a crianças com AIDS, cessam recursos à educação e a pesquisas médicas e científicas, tentam controlar manifestações artísticas, isentam de impostos os mais ricos enquanto impõe altas taxas a países pobres da África.

Esse modelo de ‘patriota’ invoca a ‘liberdade de expressão’ para esculachar pessoas, trajetórias, espalhar desinformação contra a saúde pública e nosso sistema eleitoral. Para eles, a ingerência de outra nação sobre as nossas leis, Constituição e Justiça é parte aceitável de uma ‘guerra’ que existe apenas para iludir incautos e ignorantes que, alimentados por ‘informações’ de redes sociais, busca um inimigo comum para despejar sua ira e frustração com os rumos de suas vidas insignificantes.

Esse modelo de ‘patriota’ estava disposto a ‘matar meio mundo’ para impedir a posse do presidente Lula, tentou explodir aeroporto em véspera do Natal, trancou estradas, derrubou linhas de transmissão de energia e defendeu a ruptura da nossa ainda frágil e nova democracia.

Esse modelo de ‘patriota’, que vende ideias simples para temas complexos, é o mesmo que fatiou e vendeu nacos lucrativos da maior empresa brasileira, a Petrobras, retirou direitos do povo nas reformas Trabalhista e da Previdência, negou vacina contra a covid e queria dar apenas R$ 250 de auxílio na pandemia.

Ser patriota de verdade é defender os interesses do Brasil e dos brasileiros. O resto é conversa mole para boi dormir.

Deputado estadual Valdeci Oliveira 

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