O Rio Grande do Sul ruma para uma grave crise sanitária. Desde a semana passada, o Estado está oficialmente em situação de emergência em saúde pública. Em 2025, foram registrados 4.871 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), com 366 mortes — sendo um terço delas de crianças com menos de cinco anos, o que evidencia uma tragédia silenciosa e crescente, com impactos profundos no presente e no futuro da população. Além disso, a fila de espera por cirurgias eletivas no SUS cresce de forma exponencial.
No início deste ano, mais de 670 mil pacientes aguardavam por procedimentos médicos em diversas especialidades, 2,4 mil pessoas perderam a vida antes de serem atendidas. A consequência é trágica e devastadora: famílias vendem bens ou recorrem a empréstimos para garantir o mínimo de cuidado e dignidade. Tudo isso diante do descumprimento do artigo 196 da Constituição, que define a saúde como dever do Estado e direito de todos os brasileiros, sem exceção.
A crise é tão grave que o Grupo Hospitalar Conceição vai propor a destinação R$ 1,5 bilhão do Fundo do Plano de Reconstrução Rio Grande (Funrigs) para reforçar o financiamento do SUS no que tange a reativação de leitos, ampliando a capacidade hospitalar em diversas regiões. Enquanto a saúde pública do Estado entra em colapso, Eduardo Leite é acusado de utilizar recursos públicos para autopromoção. Um exemplo é o documentário “Todos Nós por Todos Nós”, que tenta retratá-lo como protagonista da reconstrução, omitindo a expressiva ajuda do governo federal, especialmente do presidente Lula.
A justificativa de que a produção foi paga com “recursos próprios” da Secom não se sustenta: todos os recursos no exercício de um cargo público devem seguir os princípios constitucionais da moralidade e impessoalidade, pilares essenciais da administração pública e da democracia. Falamos desse problema há tempo no Legislativo. Em março, nosso mandato apresentou o PL 74/2025, que autoriza o uso do Funrigs para diminuir o contingente de filas para cirurgias do SUS.
Uma alternativa imediata para um dos maiores gargalos da saúde pública do Estado. É inadmissível que verba pública seja utilizada para autopropaganda, enquanto milhares aguardam por procedimentos que podem salvar vidas. É preciso que o FUNRIGS seja utilizado para reconstruir de fato o nosso Rio Grande – começando pela vida, pela saúde e pela dignidade das pessoas!
* Deputado Zé Nunes
Foto: Nathan Oliveira
Artigo publicado originalmente no Jornal do Comércio em 29 de maio de 2025