O genial escritor Mark Twain quando se viu confrontado com uma onda de boatos sobre sua morte enviou ao New York Journal apenas uma nota repleta de ironia. “As notícias da minha morte foram claramente exageradas”. Mais de 100 anos depois, a mesma nota poderia ser distribuída pelo PT de maneira absolutamente atual.
É mesmo engraçado ver manchetes como esta sobre um Partido que já foi morto tantas vezes e, no entanto, passa muito bem. Para ficarmos na última morte, tivemos uma presidenta cassada, um presidente preso, todas as lideranças implacavelmente perseguidas e uma onda de calúnia repetida ad nauseum durante anos. Não consigo encontrar paralelo no mundo em que um partido tenha sobrevivido a tal brutalidade. De ataques temos Getúlio e a campanha do mar de lama movida pela elite mais mesquinha do mundo. Mas como sabemos, Getúlio teve que dar sua vida para que o projeto vivesse.
O PT está vivo! E, como sempre fez, vai aprender, debater e fortalecer sua democracia e identidade como partido de esquerda.
Mas então, o que de fato ocorreu nas eleições municipais de 2024?
Na verdade, o mesmo que ocorre nos últimos 40 anos, ou desde a República Velha. As eleições municipais fecham em si um circuito que muito pouco influencia ou é influenciado pelos circuitos nacionais e estaduais.
Aqui é o território da gestão local, da evidência de características pessoais dos candidatos, mais que o enfrentamento de campos ideológicos e, é claro, da imensa influência das emendas parlamentares no resultado de cada eleição.
Este ano essa característica se destaca ainda mais pela ausência de fatos que nacionalizassem o debate (como foi a pandemia em 2020 ou o golpe em 2016). Esta foi a mais municipal das eleições municipais.
Assim, nossa análise de resultados deve também ser feita desta forma: municipalizada. Aprender com as vitórias que tivemos em grandes cidades do interior e com a dura derrota que tivemos em Porto Alegre, por exemplo.
Nestes termos, já que não tivemos uma derrota de morte do PT, nem temos um resultado capaz de influenciar cenários estaduais e nacionais, qual a razão de se querer tirar consequências imediatas e definitivas deste tão frágil escopo? A resposta envolve egos, planos de carreira política individuais, pequenas espertezas e grandes engodos (ou não é isto a precipitação dos nomes da mesa da Câmara?).
Não é este o debate que precisamos no PT. Precisamos nos preparar para a construção da segunda metade do governo Lula que já obteve sucessos brilhantes na sua primeira metade, colocando o país na rota do crescimento, do emprego, do aumento da renda do trabalho, e que agora quer ainda mais.
Nosso debate deve ser o plano estratégico para o Rio Grande. Nosso estado que foi beneficiado pelo maior auxílio da história da República e agora precisa decidir o que fazer com esta quantidade desconcertante de recursos.
Este é nosso terreno, este é o nosso desafio: público, luminoso, grávido de futuro e generosidade e nunca o local escuro e sussurrado de micro ambições eleitorais.
Vida longa e fértil ao Partido dos Trabalhadores!
Deputado estadual do PT-RS Miguel Rossetto
Artigo publicado originalmente em Sul21