segunda-feira, 02 dezembro

 

O significado e o alcance dos 25 anos da presença da agricultura familiar na Expointer e as perspectivas para o futuro foram tema da audiência pública proposta pelos deputados Pepe Vargas, Miguel Rossetto, Adão Pretto, Zé Nunes e Luiz Fernando Mainardi, da Bancada do PT e do deputado Elton Weber (PSB) realizada na quinta-feira (29/08) pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo, no Parque Assis Brasil, em Esteio.

O líder da Bancada do PT, deputado Miguel Rossetto, que foi um dos responsáveis pela criação do Pavilhão da Agricultura Familiar, em 1999, durante a gestão de Olívio Dutra, quando ocupou o cargo de vice-governador, destacou a importância da agricultura familiar para a melhoria da qualidade de vida no meio rural, gerando emprego, renda, produzindo alimentos e promovendo um modo de vida saudável. Como primeiro titular do Ministério do Desenvolvimento Rural (MDA), criado pelo presidente Lula em 2003, Rossetto também foi responsável pelos recursos que garantiram a construção e consolidação do Pavilhão no Parque da Expointer, hoje um dos mais visitados da exposição. “Nós estamos vendo uma agricultura familiar mais diversificada, homens, mulheres, a juventude também. Quando a gente visita o pavilhão a gente vai encontrar essas mulheres, lideranças, nós vamos encontrar uma juventude muito dedicada, que está estudando e que está produzindo com qualidade, são produtos muito bonitos. É uma alegria enorme. O Rio Grande que gente quer é assim. Com as pessoas felizes, trabalhando, com uma renda bem distribuída, uma terra e um meio ambiente, bem cuidados e alimento bom, de verdade, para garantir a saúde e a felicidade do nosso povo.”

O deputado Zé Nunes afirmou que ao ocupar um espaço público é preciso propor e ousar. A agricultura familiar é o sustentáculo do RS. Começou produzindo gado, mas a revolução agrícola no RS foi a produção de comida pela agricultura familiar e o Brasil nunca teve política pública para essa produção de alimentos. “O governo Olívio enxergou plenamente a agricultura familiar e foi um momento em que ela teve visibilidade”. Zé Nunes recordou da resistência do agronegócio em abrir espaço para os pequenos produtores na Expointer. “Fiquei muito chocado com aquilo, não entendi uma luta tão pesada contra uma coisa tão singela. Mas tudo se contornou, o governo (Olívio) teve uma posição firme, bancou e hoje a agricultura familiar está aqui consolidada”, disse.

Para o presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Gervásio Plucinski, o ingresso da produção agrícola familiar na Expointer foi um marco. “Passados 25 anos da iniciativa, hoje é possível observar não só o crescimento no número de expositores, mas a elaboração e diversificação dos produtos comercializados”. Gervásio assegurou que isso só foi possível porque as famílias conseguiram permanecer na propriedade produzindo.
Douglas Cenci, representando a Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura Familiar (Fetraf-RS) destacou a importância de dar visibilidade para a produção dos pequenos agricultores, na consolidação de uma identidade e na promoção de política públicas específicas para o setor.

O representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Zanetti destacou o resultado da abertura da Expointer para a participação da agricultura familiar, que hoje garante a independência das mulheres e a permanência dos jovens no campo. Zanetti contou que muitos desses jovens foram estudar engenheira de alimentos e aprimoraram as receitas tradicionais, para torná-las ainda mais atrativas comercialmente.

Marildo Mulinari, representante da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) destacou a importância da produção de alimentos saudáveis e afirmou que é a agricultura familiar, que em momentos de crise como aqueles vividos pelos gaúchos em maio deste ano, com as enchentes, é o trabalho dessas famílias que garantiu o abastecimento.

Para José Hermeto Hoffmann, secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Governo Olívio Dutra e responsável direto pela abertura da Expointer para a participação da agricultura familiar, a decisão tomada naquela época fazia parte de uma política pública daquela gestão, com crédito, assistência técnica e o uso dos espaços públicos para garantir a comercialização da produção. Hoffmann recordou a tentativa de boicote dos ruralistas da Farsul e destacou ainda o papel das primeiras famílias que aceitaram o desafio do governo e com isso demonstram a importância do setor na economia gaúcha. Por fim, o ex-secretário ressaltou a importância de proteger e fortalecer o selo “Sabor Gaúcho” que é a marca da agricultura familiar gaúcha.

A luta contra a resistência imposta pelos representantes dos grandes produtores do agronegócio também foi recordada pelo deputado Adão Pretto Filho. “Me passa um filme na cabeça. Eu tinha 13 anos, estava com meu pai, o Adão Pretto, que era um agricultor, e naquela época, era um pavilhão de lona. Hoje é o espaço mais visitado e mais comercializado da Expointer”. O parlamentar destacou que no pavilhão da agricultura familiar tem produtos de todo o território gaúcho e defendeu a necessidade de pensar alguma iniciativa por meio do Parlamento gaúcho para que o selo Sabor Gaúcho fique registrado como patrimônio do RS.

 

Homenagem aos pioneiros

 

Depois da audiência foi realizada uma cerimônia em homenagem às famílias pioneiras que se instalaram há 25 anos e consolidaram o espaço na Expointer. O deputado Miguel Rossetto disse que essa homenagem aos pioneiros, homens e mulheres, que é uma iniciativa do deputado Pepe Vargas, é uma homenagem a uma história de coragem, de trabalho e de vitória. Para o deputado, homenagear aos pioneiros da agricultura familiar é também reconhecer uma política pública, uma escolha correta liderada pelo governador Olívio Dutra. “Tive a graça de trabalhar como vice-governador desta equipe de trabalho no início deste pavilhão, que é uma conquista popular, que faz deste espaço um espaço plural, para todos e para todas e depois tive a oportunidade de continuar este trabalho conjunto com todos vocês, convidado pelo presidente do Lula para ser o ministro do Desenvolvimento Agrário em 2003 e, portanto, pude compartilhar com vocês esse esforço gigantesco e essa coragem da produção e da agroindústria”.

Conforme Rossetto, mais do que uma atividade econômica a agricultura familiar é um modelo de vida e de sociedade que garante renda. “Se a agricultura familiar do RS participa da Expointer, ela tem que participar de todas as feiras do RS e do Brasil inteiro”.

Presente na cerimônia e reconhecido por sua iniciativa, o ex-governador Olívio Dutra, afirmou que nesta edição já são 423 agroindústrias instaladas no pavilhão da Agricultura Familiar, o que ajuda a enriquecer a Expointer e o Rio Grande como um todo. Foi pensando em ajudar o setor se desenvolver que, há 25 anos, o então governador Olívio Dutra pensou em criar este espaço. “A nossa ideia era que o setor primário do RS pudesse se expressar na sua pluralidade e diversidade na Expointer. Não foi de primeira. Tivemos que insistir, pois a prefeitura de Esteio, as cooperativas e a agricultura familiar não participavam da coordenação e nós tivemos que insistir porque isso não ia enfraquecer a feira. Pelo contrário ia fortalece-la”, recordou. Olívio destacou também a importância da agricultura familiar que garantiram mais oportunidades a todo o setor. Salientou também a relação exemplar da relação da agricultura familiar com o meio ambiente. “A experiência e a forma com que a agricultura familiar trabalha a mãe terra nos ajuda a dizer que o futuro não é o da destruição da natureza, do estreitamento dos leitos dos rios ou o seu envenenamento. Tem esperança e ela está na agricultura de economia familiar, produzindo alimentos sadios para a fartura das nossas mesas, de quem produz e de quem consome”.

 

Texto: Adriano Marcello Santos e Claiton Stumpf
Fotos: Debora Beina

 

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