Desde 2014, a Central Única das Favelas de Montenegro organiza o evento “O Dia
Seguinte”. O dia 14 de maio, data que marca o calendário brasileiro sobre a
Abolição da Escravatura, é simbólica também na história da luta negra, revelando
que há 136 anos essa população segue vivendo o dia seguinte após a abolição. O
debate que reúne diferentes figuras e ativistas da luta do povo negro, colocou em
diálogo reflexões sobre os dias atuais e mostrou a importância da busca pela
igualdade e pela justiça para todas as pessoas negras.
Neste ano, o evento completa 10 anos e a deputada estadual Laura Sito (PT) foi
uma das convidadas para participar da roda de conversa “Vidas Negras Importam”
no seminário, que aconteceu nesta quinta-feira, 25, na cidade de Montenegro.
Jornalista formada pela UFRGS com ingresso através das cotas, servidora pública
de Porto Alegre e uma das primeiras deputadas negras do estado, a parlamentar
contou que o racismo cotidiano perpassou a sua militância e a fez compreender a
importância de participar da luta.
Laura Sito conta que, apesar das mudanças na sua vida, os casos de racismo
continuam atravessando, inclusive, o seu papel como parlamentar na Assembleia
Legislativa. “Hoje, presidindo a Comissão de Direitos Humanos, me vi em outro
lado, que é estar como agente do Estado, do Poder Público dentro do Legislativo
gaúcho. No dia a dia, vemos a dimensão do problema. Em um ano e meio, foram
muitos os casos de violência policial sobre os corpos de pessoas negras, como foi o
caso do motoboy Everton, que repercutiu nacionalmente”, apontou.
Entre os questionamentos levantados durante o debate, a deputada estadual
discorreu sobre a relevância da população negra na contribuição de cidades mais
desenvolvidas e de um país melhor. Para ela, investir em educação, garantir renda
e cidadania são fundamentais para atingir outra condição da juventude, de mulheres
negras e de homens negros. “Acredito que esse é o passaporte do Brasil para
atingir outro Estado. Somos mais de 50% da população brasileira. Se não
pensarmos sobre isso, estamos comprometendo o desenvolvimento do nosso país.
Ou a sociedade compreende isso (violência) como limitador ou não vamos
conseguir completar um ciclo mais justo para a população brasileira”, argumentou
Laura Sito.
Além da deputada estadual, participaram da roda de conversa Antônio Padilha,
secretário-executivo RS Seguro, Gabinete do Governador; MC Pedrão – rapper,
ativista social; Abayomi Mandela, escrivão de polícia na Delegacia de Combate à
Intolerância e o narrador Kanhanga, mentor, youtuber, articulador de migrantes e
refugiados. A mediação do debate foi realizada pelo ativista social, locutor e
produtor do grupo RBS, Marck B. Cruz.
Texto e foto: Thanise Melo