Enquanto o governo do Estado vira as costas para o meio ambiente, com um orçamento exíguo e sem cuidados com os recursos hídricos, a sociedade civil faz a sua parte para preservar a bacia do Rio Gravataí. Uma iniciativa da Associação de Preservação da Natureza – Vale do Gravataí (APN-VG), que completará 45 anos de fundação em 2024, está levando educação ambiental a alunos da rede pública. Na presença de representante do Ministério do Desenvolvimento Regional, os deputados Stela Farias e Miguel Rossetto (PT) fizeram uma viagem no barco-escola para conhecer o Projeto Rio Limpo.
O projeto começou em 2016, financiado pela Petrobras. Desde então, o “barco-escola” já realizou em torno de 300 viagens pelas águas do Rio Gravataí. A proposta é atender os nove municípios inseridos dentro da bacia hidrográfica do Gravataí (Santo Antônio da Patrulha, Glorinha, Gravataí, Taquara, Canoas, Alvorada, Porto Alegre, Cachoeirinha e Viamão) para que alunos de escolas públicas tenham aulas de educação ambiental e a oportunidade de entender a complexidade do sistema hídrico da bacia do Gravataí.
De acordo com o geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, 66% da bacia hidrográfica são Área de Proteção Ambiental (APA), a APA do Banhado Grande, a maior unidade de conservação do Rio Grande do Sul. Cerca de 1,3 milhão de pessoas moram no território da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí. “Nos preocupa muito a implantação do programa de revitalização, pois o Gravataí sempre foi visto como um projeto piloto, então estamos iniciando uma nova fase que é fazer o plano de revitalização para as 25 bacias. Mas nos deparamos com direções entristecidas e abandonadas.
A diretora do Departamento de Recursos Hídricos e Revitalização de Bacias Hidrográficas do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, Fernanda Ayres, disse ter ficado impressionada com o projeto. “É uma iniciativa muito importante que leva educação ambiental para a comunidade escolar e que sem dúvida merece todo o apoio do governo Lula”, disse.
Durante o passeio, os tripulantes do barco escola também navegaram pelo canal aberto pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) nos anos 70 com o objetivo de desviar água do Rio Gravataí para irrigar lavouras de arroz. Segundo a deputada Stela Farias, foi este canal que iniciou o processo de degradação do rio. “A partir deste canal se iniciaram as cheias no inverno e a falta de água para o abastecimento humano no verão”, disse a deputada, defendendo que se recupere a mata ciliar e o contorno do rio para que a vazão seja regularizada. “Não aceitaremos o abandono da captação de água do Rio Gravataí. A Aegea, que privatizou a Corsan, já diz que logo vai se livrar do Rio Gravataí e nós não aceitaremos. Traremos o Ministério Público Estadual e o Judiciário para um passeio técnico para que verifiquem in loco a necessidade de estarem atentos e não admitirem essa barbaridade que a Aegea quer fazer”.
A grandiosidade da Área de Proteção Ambiental do banhado Grande também chamou a atenção do deputado Miguel Rossetto que pode observar durante o passeio “um Rio Gravataí que poucos conhecem, um rio que está vivo” na maior área de preservação ambiental do estado. “Este passeio faz parte de um grande desafio da Frente das Águas que eu coordeno da Assembleia Legislativa para mudar padrão de acompanhamento, de defesa, de fiscalização e revitalização das 25 bacias hidrográficas do Estado”.
Rossetto lembrou que no Gravataí, todos os anos no verão há risco de desabastecimento da sociedade. A visita técnica realizada nesta segunda-feira, disse o deputado, tem objetivo de qualificar a capacidade de gestão e de cuidado da Bacia do Gravataí, que serve de referência para as outras 24 bacias. “Mais do que nunca é muito importante que a Secretaria Estadual do Meio Ambiente participe com mais força deste grande projeto. Infelizmente hoje os comitês de bacias estão abandonados e dependem do trabalho voluntário e dedicados de militantes”.
Também participaram da visita técnica autoridades regionais como o ex-prefeito de Gravataí, Daniel Bordignon; as servidoras da SEMA, Juliana Ferraz e Karolina Turcato; o professor associado do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, Guilherme Marques; o professor do IFRS de Viamão, Claudio Fioreze.
Na tarde desta segunda-feira, as Frentes da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí e dos Recursos Hídricos (Frente das Águas) realizaram uma reunião na Assembleia Legislativa para discutir a Revitalização de Bacias Hidrográficas.
Texto: Claiton Stumpf – MTb 9747
Fotos: Debora Beina