Dentro do contexto do anúncio feito pelo governo Federal de retomar os investimentos para ampliação e fortalecimento da rede federal de educação profissional e tecnológica no país, a comunidade de Caçapava do Sul realizou uma importante audiência pública que buscou debater a criação de um campus do Instituto Federal Farroupilha (IFFar) no município. A principal deliberação foi pela criação de um grupo de trabalho, uma coordenação constituída por representações das diversas instituições e entidades da região presentes ao encontro para a organização das informações, avaliação das possibilidades e realização de reuniões de planejamento para a formatação de um projeto a ser posteriormente encaminhado para análise do Ministério da Educação (MEC). A prefeitura local também ofereceu uma área ou prédio para o projeto, a depender da avaliação e necessidade do Instituto.
O encontro aconteceu nas dependências do Instituto Municipal de Educação e foi resultado da proposição do deputado Valdeci Oliveira, que aprovou o requerimento junto à Comissão de Educação da Assembleia Legislativa. A atividade contou com forte presença e participação da comunidade local e dos municípios de Santana da Boa Vista e Lavras do Sul – que lotaram o espaço do encontro, com parte considerável dos presentes em pé – e diversos agentes políticos e sociais, gestores públicos da região, entidades sindicais e empresariais, além de professores, estudantes.
“A expansão do IFFar está diretamente ligada ao acesso dos jovens ao ensino de qualidade, formação de mão-de-obra qualificada e ao desenvolvimento regional. Esse tema interessa demais ao interior do Rio Grande, e a Assembleia Legislativa novamente cumpre o papel de aprofundar esse debate junto à sociedade”, disse Valdeci durante a abertura dos trabalhos. Na avaliação do parlamentar, “Caçapava e região, já vitoriosas por conta da Unipampa e do reconhecimento em relação ao seu Geoparque – com o certificado do selo de territórios mundiais da Unesco -, estão entre as grandes candidatas a mais esta conquista”, avaliou. Para o deputado, aquele momento só estava acontecendo por conta da disposição e compromisso do governo do presidente Lula em retomar os investimentos em educação, principalmente na formação técnica e profissional. “E aqui, para que essa conquista se efetive, a conjugação do verbo deve ser feita pelo ‘nós’ e não pelo ‘eu’. Fazer o que fez o vereador Boca Torres, aqui de Caçapava, que teve a grandeza e procurou os três prefeitos e vereadores dos respectivos legislativos e unificou todas as forças políticas e econômicas em torno de um objetivo”, disse Valdeci. “Mas isso não é para mim nem para os prefeitos, mas para os nossos jovens”, declarou Torres, que também é professor.
“A nossa população está mostrando a vontade de seguir se desenvolvendo, de forma sustentável, através da educação de qualidade”, destacou o prefeito Giovani Amestoy da Silva, diante do auditório completamente lotado.”E se trata de um desenvolvimento não só local, mas regional”, frisou. “Temos desenvolvimento através do agro, da agricultura familiar, pecuária, turismo. O que nos falta é mão de obra especializada. Se conquistarmos o Instituto tenho certeza que será um divisor de águas”, assegurou o chefe do executivo municipal de Santa da Boa Vista, Garleno Alves. “Estou farto de ouvir que vivemos na metade pobre do RS, que somos o primo pobre. Nós somos o celeiro da metade sul. E a melhor política pública é a educação, trabalho e renda. Desenvolvimento traz felicidade e investimentos”, vaticinou Sávio Johnston Prestes, prefeito de Lavras do Sul.
Nídia Heringer, reitora do IFFar, que fez uma apresentação do perfil do Instituto, a presença da instituição nas diferentes regiões gaúchas, os cursos e eixos tecnológicos oferecidos, falou da importância de que a expansão da instituição seja discutida através de audiências públicas, com as comunidades. “A organização (das ofertas dos cursos) se dá a partir da necessidade da região. Se Caçapava for contemplada, faremos uma pesquisa para saber e poder atender melhor a vocação (local). Pela lei, temos de oferecer 50% de cursos técnicos. E isso faz uma diferença muito grande”, frisou Nídia. Nas audiências de que tem participado, a reitora tem destacado também que “educação pública e política pública a gente faz com transparência, com a presença e com a discussão com toda a comunidade para a proposição de instalação de um campus”.
Organizados pela Comissão de Educação, os encontros vêm sendo feitos desde junho em várias regiões do estado, a partir do interesse manifestado pelas próprias comunidades. Ijuí, Santa Maria, São Luiz Gonzaga, Santiago, Cachoeira do Sul, Tenente Portela, Santa Cruz do Sul e São Gabriel já realizaram audiências. As cidades de Cruz Alta e Sobradinho são as próximas que deverão realizar audiências com este objetivo. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o plano inicial é entregar, de forma paulatina, 320 campi até 2026 e chegar a mil unidades espalhadas pelo Brasil. Atualmente o país conta com 680 instituições em pleno funcionamento. Sobre o IFFar em particular, o RS conta com 11 unidades. E de acordo com o previsto no seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o estado poderá chegar a 15 unidades nos próximos três anos.
A criação das unidades no Rio Grande do Sul deve seguir parâmetros nacionais, envolvendo, entre outros quesitos, a viabilidade de contrapartidas dos municípios, como a disponibilização de edificação ou terreno para o funcionamento do Instituto e transporte público para a localidade. A partir da implantação, o custeio para a manutenção do campus fica a cargo do MEC, com repasses de recursos federais.
Mobilização –
A mobilização da comunidade caçapavana teve início em julho passado, quando acompanhados de Valdeci, prefeitos e autoridades de Caçapava do Sul, Lavras do Sul e Santana da Boa Vista estiveram reunidos na sede da reitoria do IFFar, em Santa Maria, para defender as potencialidades da região – econômica, turística e a posição geográfica estratégica – que, segundo os gestores públicos, trouxe para a cidade a universidade Unipampa. Com o mesmo objetivo, em agosto, uma comitiva organizada pelo vereador Boca Torres, também esteve em Brasília, na Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação, defendendo a proposta, cujo objetivo, segundo as lideranças políticas que integraram o grupo, é o de suprir a necessidade de formação de mão de obra qualificada, proporcionando uma melhor qualidade de vida para os jovens, que não precisarão deixar sua cidade natal em busca de conhecimento e emprego. Além disso, a iniciativa visa impulsionar o desenvolvimento econômico e social dos municípios do entorno.