A Assembleia Legislativa instalou, no início da tarde desta quarta-feira (21), a Frente Parlamentar em Defesa da Reforma Psiquiátrica. A iniciativa partiu dos deputados Valdeci Oliveira e Zé Nunes, ambos do PT, que consideram a lógica dos grandes manicômios responsável pela exclusão de pessoas em sofrimento mental e pela violência contra a dignidade humana, transformando a loucura em motivo para segregação social.
A Reforma Psiquiátrica, que completa 30 anos em 2023, possibilitou, de acordo com os petistas, a inserção social e adoção de cuidados humanizados de pacientes que antes tinham como destino o cárcere perpétuo por sua condição de sofrimento mental. “O fechamento de grandes hospitais psiquiátricos não significa desassistência, mas o redirecionamento de recursos para uma ampla e complexa rede de serviços para substituir o encarceramento dos pacientes. Nenhum tratamento permeado pela violência e segregação é aceitável”, frisou Valdeci.
Nunes manifestou preocupação com os retrocessos ocorridos nos últimos quatro anos no campo do tratamento de transtornos mentais. Ressaltou que os grandes manicômios voltaram a ser financiados, assim como instituições que realizam abordagens não científicas e ineficazes, baseadas no isolamento do indivíduo e na tutela forçada.
“A Frente é, acima de tudo, uma ferramenta de vigilância ativa e um instrumento de conexão com os governos estadual e federal, a fim de promover e proteger os alicerces dispostos na Reforma Psiquiátrica. Nossa posição é, e sempre será, pelo fim dos manicômios em todas as suas formas, reafirmando o compromisso com os usuários e usuárias, familiares, trabalhadores e trabalhadoras da saúde mental, militantes da luta antimanicomial, todos e todas que contribuem para a permanência do modelo de cuidado que promove a cidadania, emancipação e dignidade do ser humano”, destacou Zé Nunes.
Por meio virtual, a diretora do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Sônia Barros, afirmou que, apesar de retrocessos nos últimos anos, caracterizados pela valorização de práticas já ultrapassadas e sem comprovação científica, a política pública para a saúde mental no Brasil está consolidada na legislação, que prevê uma rede de ações e serviços para garantir cuidados terapêuticos e reinserção social. “A política de saúde mental voltou a ter a marca da democracia inclusiva para uma população que há séculos foi marginalizada”, frisou, anunciando que o governo federal deverá ampliar a rede de atendimento.
A representante do Fórum Gaúcho de Saúde Mental, Sandra Mara, falou sobre sua experiência como usuária da rede de atendimento. A psicóloga e ex-secretária de Saúde, Sandra Fagundes, também se manifestou.
O lançamento da Frente ocorreu no Salão Júlio de Castilhos com a participação de psicólogos, membros da comunidade acadêmica, representantes da geração que lutou pela Reforma Psiquiátrica, pacientes e familiares. A cerimônia foi encerrada com a apresentação do Grupo de Arte Nau da Liberdade.
Texto: Marcela Santos
Foto: Mauro Mello