sexta-feira, 22 novembro

Uma boa forma de marcarmos este novo tempo é agora, no dia 1º de janeiro, voltarmos às ruas, às praças onde construímos nossa vitória.

 

Foto: Leandro Molina

 

Miguel Rossetto (*)

Foi uma batalha política histórica, gigante, e vencemos. Foi desigual e foi difícil. Nunca se usou tanto a máquina pública numa eleição. Nunca os donos do dinheiro o usaram tanto sem pudor ou freio. Nunca a violência e intimidação foram tão recorrentes para calar os adversários. Nunca tantos valores básicos da civilização estiveram em jogo como agora. Quando a história nos pediu coragem, entregamos coragem. Nossas bandeiras foram às ruas para construir esta vitória extraordinária. Se a batalha foi gigante, a vitória também foi gigante. Vencer a Presidência da República nos permite, enfim, respirar um país democrático, antever a reconstrução de políticas destruídas pela fúria fascista e a criar novas. Nos permite enxergar a construção de um país mais justo e democrático. E isto não é pouco. Quem derrotou o fascismo foi o PT, foi a esquerda, que, sob a liderança de Lula, foi capaz de ampliar alianças com o restante campo democrático do país.

A Presidência tem a iniciativa política na construção da agenda nacional, mas, é importante reconhecermos que as forças conservadoras venceram outras batalhas eleitorais importantes: o Congresso Nacional e os governos na Região Sul e Sudeste do país. Esta força política conquistada, e a aliança empresarial preservada, permitem à direita sustentar um padrão de disputa política forte. A pobreza e a fome para milhões, o desemprego alarmante, a suicida destruição ambiental, o isolamento internacional não são capazes de alterar a unidade desta “elite do atraso” em torno do programa neoliberal e da visão elitista e autoritária. Que ninguém imagine que será fácil retirar os privilégios e a riqueza acumulados, no período bolsonarista, nem que esta turma tem algum compromisso democrático; não tem.

A partir do golpe que tirou Dilma da Presidência, ficar quatro anos governando é uma possibilidade, não uma certeza. Vitórias eleitorais (ou derrotas) são momentos de uma correlação de forças em permanente disputa (vide a derrota da nova constituição no Chile). É preciso nos prepararmos para um cenário da continuidade de uma grande disputa política sobre os rumos do país, o que vai exigir do governo, dos partidos de esquerda, da nossa militância uma posição política ativa, com  capacidade de mobilização e de debate permanente. Isto será decisivo para ampliarmos nossa base social e popular e sustentarmos a agenda de transformação do Brasil: debates abertos com a sociedade sobre as novas políticas públicas, sobre os programas do governo; cuidado, qualidade e zelo com a gestão pública, convocação para a participação popular em todos os atos de governo.

Uma boa forma de marcarmos este novo tempo é agora, no dia 1º de janeiro, voltarmos às ruas, às praças onde construímos nossa vitória. Milhares irão à Brasília, na histórica posse de Lula. Os que por aqui ficarem também sairão às ruas, levarão suas bandeiras, vozes e alegria para as praças e ruas onde a vitória foi construída; estaremos assim, conectados com o futuro que em Brasília começa a ser anunciado. Feliz 2023!

(*) Deputado estadual eleito pelo PT, foi vice-governador do RS e ministro nos governos Lula e Dilma 

** Artigo originalmente publicado no Sul21

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