O risco de o RS ir na contramão do Brasil

Foto Joaquim Moura

O governador Leite precisa calçar as sandálias da humildade para fazer um bom governo. Deve se dar conta de que no primeiro turno eleitoral, mais de 75% dos gaúchos que votaram disseram NÃO à sua primeira gestão. Foi uma reeleição contingente, em que a transferência dos votos de Edegar Pretto e de outros candidatos foi decisiva. Votar nele era a única maneira de evitar uma sobrevida regional ao bolsonarismo. Não me arrependo de tê-lo feito.

Mas o reinício está ruim. Contraditoriamente ao que disse na campanha sobre a centralidade do Rio Grande do Sul em seu projeto político, nem começou seu novo mandato e, noticia-se, já aceitou assumir a presidência nacional do PSDB. Presidir um partido é assumir um lado, o que é contraditório com a pretensão de unir o Rio Grande. Governar o estado exige tempo integral, foco exclusivo e muita dedicação. Caso se confirme a condição de presidente nacional do PSDB, minha interpretação é que haverá uma meia renúncia, o que não é nada bom para iniciar um governo. Pior; Leite assumirá a pretensão de se transformar em um líder nacional de oposição, o que, evidentemente, não é o melhor caminho para o Rio Grande resolver os seus problemas. Um governador não se elege para ser oposição; ao contrário, precisa estabelecer, em nome de todos os gaúchos, as melhores relações possíveis com os outros entes federados.

As más notícias não param por aí. Ao apoiar a manutenção do calendário de privatização da Corsan, contra todas as mensagens vindas do novo governo federal, sugere que dará continuidade a uma política de entrega do patrimônio público, o que colocará nosso estado na contramão do Brasil. Um sinal, também, de que a tendência é termos mais do mesmo, o que, é bom lembrar, não obteve apoio majoritário na eleição. Aparentemente, essa ideia reiterada de que o mercado e a venda ou concessão dos ativos públicos resolvem os problemas do estado estará novamente no núcleo das políticas que serão desenvolvidas.

Leite não apresentou qualquer projeto de desenvolvimento até agora. Continuará confiando apenas nas forças do mercado para que o RS cresça? Essa política, como se sabe, ao contrário da expansão e qualificação de serviços públicos, aposta sempre em restringir ao máximo a presença do Estado. Assim, os limites do teto de gastos estadual, aprovado no âmbito das negociações do Regime de Recuperação Fiscal, devem ser a âncora da gestão, impedindo qualquer ampliação de investimentos em áreas fundamentais do estado, como saúde e educação. Esta mesma visão orienta, também, a ideia de que o piso salarial regional – que impacta 1,5 milhão de gaúchos – não pode ser valorizado, o que indica a continuidade da política de arrocho sobre os salários dos que mais precisam, ao contrário do que o novo governo federal anuncia, com uma política de crescimento real do salário mínimo nacional nos próximos quatro anos.

Para que não nos acusem de um ceticismo intolerante, importa ressaltar como positivo o compromisso do governador eleito com o processo democrático, o que é um valor importantíssimo. Mas o RS, como se sabe, precisa de muito mais do que um discurso em defesa da democracia, embora as práticas participativas de um passado recente, fossem, também, bem-vindas. É preciso cuidar dos que mais precisam, com políticas públicas inclusivas e garantidoras de direitos. Essa seria a nossa expectativa com um bom governo. A realidade, porém, sinaliza algo bem menos satisfatório.

 

Texto: Deputado Estadual Luiz Fernando Mainardi – Líder da bancada do PT 2023/2024