Foto: Bruno Lemos
A Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas da Covid-19 deve finalizar, durante Seminário em Porto Alegre, no dia 10 de agosto, a produção do relatório sobre os impactos da pandemia na vida da população e nos sistemas de proteção social, sobretudo o SUS, no Estado. A data foi anunciada durante a audiência realizada na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul nesta segunda-feira, 25 de julho. Ao todo aconteceram sete encontros nos municípios das consideradas macrorregiões: Porto Alegre, Santa Maria, Lajeado, Pelotas, Santa Rosa e Passo Fundo. O documento final será encaminhado aos governos estaduais e federais. Em Caxias do Sul os impactos na educação, o atendimento precarizado na saúde, ausência de protocolos de atendimento estiveram em debate.
No encontro em Caxias do Sul, o coordenador da Frente Parlamentar, o deputado estadual, Pepe Vargas (PT), contou que a Frente foi constituída a partir da aproximação do Comitê Estadual em Defesa das Vítimas da Covid-19 da Assembleia Legislativa. O Comitê reúne entidades como o Conselho Estadual de Saúde Brasil e Conselho Regional de Enfermagem e a Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 – Vida e Justiça. Pepe ressaltou que a Frente tem procurado retirar o tema da invisibilidade para, deste modo, contribuir no enfrentamento imediato, de médio e de longo prazo, dos efeitos causados pela doença. O deputado Pepe esclareceu que muitas pessoas depois de passarem pelo quadro agudo da Covid-19, ficaram com sequelas graves e outras possuem os chamados sintomas persistentes. Segundo o parlamentar, pesquisas já chamam atenção para a Covid longa.
Pepe Vargas destacou ainda os impactos econômicos e psicológicos na vida das pessoas. “Pessoas perderam familiares, outras vivenciam o sofrimento psíquico, fecharam os seus negócios ou estão com dificuldades tributárias, ou até mesmo, há aqueles que não tiveram acesso ao benefício previdenciário por não terem reconhecidas a contaminação no ambiente laboral”, lamentou. Ao cenário dos pós Covid-19 soma-se o aumento das “filas” por consultas especializadas, exames diagnósticos, procedimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas – represados durante os períodos de restrição dos serviços de saúde.
Falta de Protocolo de Atendimento
O deputado reafirmou também a necessidade de implantar um protocolo de orientações de identificação e atendimento aos pacientes pós-Covid-19, a exemplo da experiência de Belo Horizonte (MG). A vereadora Estela Balardin (PT) complementou ao destacar a inércia dos governos em relação a implantação de um Protocolo de Atendimento às vítimas da Covid-19. “Dos 3,8 milhões de pessoas contaminadas, segundo Conselho Nacional de Saúde, metade sofrem sequelas. Além do sofrimento, afoga o Sistema Único de Saúde e estamos vivenciando isso em Caxias do Sul”, destacou.
A saúde em Caxias do Sul
A presidente da Câmara de Caxias do Sul, Denise Pessoa (PT), destacou o quanto é essencial o debate público na construção de alternativas para enfrentar as sequelas da Covid-19. “Nas últimas 24 horas, o município registrou mais de 300 casos de Covid-19, e precisamos lançar um olhar sobre essa situação e sobre as sequelas da doença”, completou. A vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde, Samanta Nascimento dos Santos, relatou que a Saúde em Caxias do Sul, vive em situação de emergência, e que nos pós Covid quem não foi a óbito vive com sequelas. Samanta demonstrou preocupação em relação à terceirização dos serviços do SUS, o que tem precarizado o atendimento às pessoas. “Precisamos fortalecer o SUS, seus serviços e garantir o atendimento qualificado, de proximidade à comunidade”, afirmou.
Para o vereador Rafael Bueno (PDT), os danos causados pela Covid-19 precisam ser reparados. “São mais de 700 mil mortes, esses números precisam ser reparados, a dor das famílias precisa ser reparada”, destacou. Além disso, o vereador lamentou que o governo federal tenha acabado com o Programa de Saúde da Família, o que causou danos ao atendimento à população.
Impactos da Covid-19 na educação
Os impactos da pandemia na educação também estiveram em destaque durante a audiência. A advogada, professora e suplente de vereadora, Rose Frigeri (PT), relatou a situação das escolas, onde a contaminação tem sido recorrente. “Não há mais restrições, não existe um protocolo”, criticou. Ela lembrou também a necessidade de o Estado ter um olhar específico no atendimento às crianças e adolescentes órfãos em virtude da Covid-19. Está em tramitação na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, um projeto de autoria de Frigeri quando ocupou uma cadeira no Legislativo, sobre o tema. O deputado Pepe Vargas, completou a fala, ressaltando que também existe na Assembleia um projeto de lei, da autoria dele, com o objetivo de atender a o número de órfãos deixados pela Covid-19.
A educação também esteve na fala da servidora pública, Karina Santos, que ressaltou o prejuízo educacional causado pela pandemia, que manteve durante meses alunos longe das salas de aula. “Para resolver esse prejuízo educacional, vamos precisar de investimentos públicos”, afirmou.
O tema ensino também foi destacado pela ex-reitora do Instituto Federal de Bento Gonçalves e professora, a professora Cláudia Schiedeck. Membro da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19 – Vida e Justiça, a professora destacou a necessidade de garantir o investimento em pesquisa para produção de dados reais sobre as sequelas da Covid-19 na população e, consequentemente, estabelecer políticas públicas de atendimento.
A representante da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Fernanda Stalivieri, contou a experiência da instituição na garantia do atendimento educacional dos alunos, via online, desde o início da pandemia. “Fomos a primeira instituição pública em atividade remota, já em junho de 2020, pois conseguimos subsídios de acesso à internet e viabilizamos compra e doações de computadores e tablets aos alunos. Além disso, atualmente, a UERGS tem promovido o atendimento aos alunos e professores que sofrem com o luto pelas perdas de familiares.
Outro ponto importante apresentado na audiência de Caxias do Sul, foi a ausência de campanhas para vacinação. A falta de campanhas sistemáticas foi criticada pelo integrante da Associação Vida e Justiça, Alceu Cardoso. “ As mortes passaram a ser banalizadas e deixou de ser importante para os governos campanhas para vacinação”, disse.
Texto: Silvana Gonçalves