O deputado Luiz Fernando Mainardi (PT) ocupou o período do Grande Expediente da Assembleia Legislativa, na tarde desta quinta-feira (23), para defender a valorização do salário dos trabalhadores gaúchos. O parlamentar, que coordena uma subcomissão sobre o tema, aproveitou o espaço institucional para defender o projeto protocolado pela bancada do PT, que estabelece uma política permanente de valorização do piso salarial regional, com reajustes automatizados com base no IPCA do ano anterior, agregado ao crescimento do PIB de dois anos antes, tendo como data-base 1º de fevereiro.
Instituído no governo Olívio Dutra, o piso regional chegou a equivaler a 1,3 salários mínimos pagos no âmbito nacional. Mesmo pagando melhor, o Rio Grande do Sul, primeiro estado brasileiro a adotar o mecanismo, cresceu acima da média nacional. Depois de Olívio, lembrou o deputado, o piso regional “foi perdendo valor, repetindo os ciclos do passado que estabelecem a valorização do salário em períodos de governos progressistas e desvalorização em governos conservadores”. Na gestão de Tarso Genro, a valorização do salário voltou à agenda governamental e o piso chegou a valer 1,28 salários mínimos pagos em nível nacional.
Hoje, o Rio Grande do Sul tem o menor piso da Região Sul e, de acordo com o parlamentar, perde também “na metodologia participativa de definições anuais dos índices do reajuste”. “Enquanto Santa Catarina e Paraná debatem em formato tripartite, reunindo trabalhadores, empresários e governo numa mesma mesa e respeitam os prazos legais, nosso Conselho de Trabalho e Renda, embora exista, não é consultado, e o índice de reajuste brota da cabeça de sabe lá de quem, em conversas pouco nítidas”, declarou.
Mainardi classificou a situação no atual governo de trágica, argumentando que o piso não foi reajustado em 2019 e 2020, o que ocasionou perdas para cada trabalhador que ultrapassam a R$ 2 mil. “E em 2021, o governo queria conceder um reajuste quase criminoso de 2,7%. Com luta e mobilização foi possível chegar a um compromisso de reposição de pelo menos a inflação de 2000. Mas ficou a dívida, que agora está sendo cobrada”, revelou.
Para 2022, o parlamentar defendeu um reajuste de 15,58%, que equivale à inflação de 2019 a 2021.
Ciclo virtuoso
Mainardi contestou as alegações de que a valorização salarial inibe investimentos produtivos, gera desemprego e reduz a competitividade da economia. “O Brasil já teve uma experiência nacional de valorização sistemática do salário mínimo, durante os governos Lula e Dilma, com um aumento real de 75%. E a economia, ao contrário do que sugeriam os anarco-liberais, viveu um ciclo virtuoso, ampliando investimentos e postos de trabalho’, apontou.
Ele sustentou que, quando os trabalhadores de remuneração mais baixa elevam a sua renda, tendem a utilizá-la em consumo básico, gerando benefícios para toda a cadeia de pequenos e médios negócios, que são os principais setores que geram emprego.
Conquista dos trabalhadores
O parlamentar apresentou também um panorama histórico da instituição do salário mínimo no Brasil e uma breve análise dos movimentos do capital e trabalho no país desde o início do século passado. Mainardi lembrou que o salário mínimo não foi uma dádiva, mas uma conquista da classe trabalhadora, obtida no governo de Getúlio Vargas. “Desde a histórica greve-geral de 1917 que a reivindicação da instituição de um limite mínimo para o pagamento do trabalho estava no programa do movimento sindical e operário. Getúlio percebeu que era o momento de virar uma página na história brasileira, em que o Estado renunciava a seu papel fundamental de regramento e mediação das relações entre o capital e o trabalho, deixando para o já famoso mercado a definição dos valores mínimos a serem pagos, muitas vezes um salário que sequer permitia a reprodução da própria força de trabalho do trabalhador. A CLT e o salário mínimo deram nova feição para as relações trabalhistas e proporcionaram aos trabalhadores brasileiros um instrumento chave para unificar suas lutas”, analisou.
Instituído em 1º de maio 1940, o salário mínimo nacional englobava 14 valores diferentes. Só três anos depois, houve o primeiro reajuste, apesar de a inflação corroer seu poder de compra. Cinco meses depois, houve outro aumento, antes de o salário mínimo ficar oito anos congelado e sofrer uma queda real de 65%. A próxima correção só ocorreria com o retorno de Getúlio ao Palácio do Catete. Entre 1951 e 1961, houve seis reajustes, evidenciando, segundo Mainardi, o que ficaria muito claro em toda a história brasileira, ou seja, a relação entre os governos socialmente progressistas com a valorização do salário dos trabalhadores.
Desafio
Na tribuna, Mainardi criticou ainda as tentativas de mutilação da legislação trabalhista e desafiou os colegas parlamentares a viver um mês com piso regional, que equivale a pouco mais do que R$ 1.300,00, como fazem cerca de 1,5 milhão de trabalhadores gaúchos. Lembrou também que a Constituição Federal estabelece que o valor do salário precisa atender as necessidades vitais básicas do trabalhador e de sua família, com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene e transporte. “Esta cláusula também garante reajustes periódicos a fim de preservar o poder aquisitivo deste salário. Então nos perguntamos: estaremos cumprindo a Constituição?”, questionou.
O Grande Expediente foi acompanhado por lideranças sindicais. O deputado Edegar Pretto (PT) se manifestou por meio de apartes.
Fonte: Agência de Notícias ALRS