domingo, 24 novembro

Deputado visitou municípios dos vales do Taquari e Rio Pardo, nesta quinta-feira, onde a estiagem já causa perdas de até 80% nas produções

Visita à propriedade de Clécio Weber, em Venâncio Aires. Foto – Brayan Martins

O deputado estadual Edegar Pretto (PT) cumpriu agenda de trabalho nesta quinta-feira (27), nos municípios de Teutônia, Paverama, Taquari e Venâncio Aires. O objetivo do roteiro é a mobilização que o parlamentar vem realizando por conta da grave estiagem que atinge o Rio Grande do Sul, em especial os agricultores que produzem alimentos. Pretto, que é presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Crédito Emergencial para Agricultura Familiar, na Assembleia Legislativa, está liderando uma série de conversas e debates para buscar soluções, junto aos governos Estadual e Federal, para os recorrentes problemas causados pela falta de chuva. Na semana passada, ele esteve em outros cinco municípios do Vale do Taquari e Alto da Serra do Botucaraí.

As agendas do deputado incluem visitas a propriedades e reuniões com prefeitos e lideranças dos movimentos do campo, que trabalham para mitigar as perdas irreversíveis na agricultura. Os diálogos com as regiões também reforçam a mobilização pela aprovação do Projeto de Lei 115, que trata de crédito emergencial para que o setor da agricultura possa enfrentar os prejuízos causados pelas últimas estiagens.

O PL foi apresentado pela bancada petista ainda no ano passado e já tem parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça. Agora tramita na Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa. A casa encerra o recesso parlamentar na próxima segunda-feira, dia 31, e Edegar Pretto defende a votação urgente do projeto.

“As famílias estão sem água, sem alimentos para os animais e perderam a produção. A tendência de alguns agricultores familiares é passar fome. O crédito é prioridade absoluta”, afirmou.

Até o momento, mais de 370 municípios gaúchos já decretaram situação de emergência. Nos municípios do Vale do Taquari, 26 estão com decreto. Já no Vale do Rio Pardo, 14 decretaram. O montante das perdas na agricultura gaúcha já passa dos R$ 36 bilhões, conforme informação da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro).

“A estiagem tem se agravado diariamente e o que temos visto até agora, por parte do Governo do Estado, são reuniões e planos que não se concretizam. É o terceiro ano consecutivo que temos seca, e esta de agora já estava prevista. A impressão que temos é que o governador só pensa nos problemas de estiagens quando para de chover. Não adianta atacarmos só o problema, se não eliminarmos a causa. Se sabemos que o estado é propenso a ter seca, temos que pensar durante o ano anterior, como tratar a situação. Até quando o povo do campo vai sofrer com as estiagens? Essa é uma atividade sagrada, porque leva o alimento para as nossas mesas. Precisamos proteger esses agricultores para que eles não desistam de plantar. E isso é urgente”, cobrou Edegar Pretto.

Paverama contabiliza perdas de 80% na produção da maioria das culturas

Na propriedade do agricultor, Ladivo Bernardo Jantsh, que fica na Linha Brasil no município de Paverama, o deputado viu de perto o drama do produtor de leite, que estima perdas de 80% da produção por conta da estiagem. Mesmo com a chegada de um pouco de chuva, as perdas já ocorreram e a expectativa é de recuperação lenta.

“A gente espera o próximo ano. É complicado passar por uma situação dessas, mas sempre temos que ter esperança. O prejuízo é tanto no leite quanto no pasto, porque não tem pastagem. Não tem nada de verde para as vacas. Enquanto não der problema com a qualidade do leite a gente vai levando. Por enquanto é só o município que está nos dando apoio. Temos que ter um pensamento que amanhã a coisa vai melhorar”, diz com esperança.

Hoje, mais de mil famílias vivem da agricultura no pequeno município de cerca de 8,4 mil habitantes e com recursos limitados. Conforme o prefeito em exercício de Paverama, João Edson Moraes, o município está bancando sozinho os prejuízos causados pela seca.

“Nós estamos fazendo a nossa parte e não temos apoio dos governos Estadual e Federal. A demanda é muito grande de falta de água e a gente está se virando como pode. Estamos levando água de trator para as famílias e até para açudes, porque falta oxigênio para os peixes com a água muito baixa. Seria essencial que os governos já tivessem se preocupado com as secas e providenciado cisternas ou destinado verbas. Em alguns locais, o pessoal está cavando com enxada para encontrar água para os animais,  porque o nosso orçamento é pequeno e temos poucas máquinas”, explica.

O secretário de agricultura e meio ambiente de Paverama, Maurício Marques, diz que a situação do município é crítica, com falta de água para consumo humano e para os animais e com a perda na produção tanto de grãos quanto de leite.

“É uma queda muito forte e que pode se agravar pelos próximos meses devido à má qualidade de silagem e a pastagem hoje não existe. As principais atividades aqui são a soja, o milho e a produção leiteira, que são as mais prejudicadas pela estiagem. Além disso, temos criações de aves e suínos, que fazem com que aumente o consumo de energia elétrica, pois os animais sofrem mais com o calor e isso causa, inclusive, perda de peso”, explica Maurício.

O município, que está com situação de emergência decretada, calcula uma perda de cerca de 80% na maioria das culturas. “Nós estamos dando auxílio às famílias dentro do que a gente pode e, principalmente, não podemos deixar faltar água”, alertou.

Venâncio Aires: outra situação dramática

No município de Venâncio Aires, o agricultor Clécio Weber (foto) trabalha com a produção de hortifrutigranjeiros e agroindústria de derivados de cana, culturas que exigem muita água. “Na horta, nos últimos meses nós não colhemos quase nada, porque se não tivermos água para irrigar fica difícil. E o sol quente também judia muito das plantações.” O agricultor familiar, que leva os produtos para vender na feira, viu o seu faturamento cair em 40% nos últimos meses.

“Eu acho que deveriam ter mais políticas públicas voltadas para isso, mas não de corrigir depois que vem o problema, mas sim de prevenção. Ter um programa de irrigação e de incentivo à produção. Por exemplo, a questão da captação de água nas propriedades, deveria ter um recurso específico para isso. O agricultor poderia construir cisternas de água para usar depois. Para nós faria muita diferença, porque para a horta uma cisterna de 40 mil litros de reserva ajudaria bastante, já conseguiríamos produzir bem melhor”, acrescenta Weber.

Para Edegar Pretto, a seca mexeu com a estrutura das famílias, economicamente. “Por falta de acompanhamento e da presença do estado, os nossos agricultores já vêm de uma situação atual difícil e o futuro é sem perspectiva. É hora do Governo do Estado colocar a estrutura pública a serviço desses homens e mulheres que tiram da terra o que é essencial para a nossa vida, que é o alimento.” Segundo ele, se não houver uma participação do Estado com políticas públicas, ocorrerá mais uma vez um esvaziamento do campo, com menos produção de comida e, com reflexo no supermercado para todos os consumidores.

“O nosso projeto, PL 115, que está tramitando na Assembleia Legislativa, é a nossa justificativa para essa situação, porque é um crédito emergencial que propõe que o governo banque os juros para ser um financiamento viável, com um ano de carência e dois anos de prazo. Por que o agricultor precisa de um prazo a mais para plantar, para colher, para fazer a próxima safra, para ter uma condição mais positiva futuramente”, detalhou Pretto.

Texto: Leandro Molina (MTE 14614)

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