A mobilização do deputado foi no Vale do Taquari e Alto da Serra do Botucaraí. Algumas propriedades vivem situação dramática e já perderam 100% das lavouras de milho
O deputado estadual Edegar Pretto (PT) cumpriu roteiro de dois dias (19 e 20) com foco na grave estiagem que atinge o Rio Grande do Sul. A agenda incluiu municípios do Vale do Taquari e Alto da Serra do Botucaraí, para verificar de perto os impactos e perdas dos agricultores. Pretto preside a Frente Parlamentar em Defesa do Crédito Emergencial para Agricultura Familiar, na Assembleia Legislativa, e sempre esteve engajado em apontar soluções para os problemas causados pela falta de chuva no estado.
Outro objetivo da agenda do deputado nas regiões foi dialogar com famílias atingidas e lideranças políticas, reforçando a mobilização pela aprovação do Projeto de Lei 115, que trata de crédito emergencial para o setor da agricultura enfrentar os prejuízos causados pelas últimas estiagens. O PL foi apresentado pela bancada petista ainda no ano passado e já tem parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça. Agora tramita na Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa.
Até o momento, 325 municípios gaúchos já decretaram situação de emergência. Dos 38 municípios do Vale do Taquari, 26 estão com decreto. Já nos 12 municípios do Alto da Serra do Botucaraí, nove decretaram. O cálculo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS) é de que o valor bruto das perdas nas culturas da soja e do milho chegam a R$ 19,7 bilhões, até o momento.
“A situação da estiagem no Vale do Taquari é dramática, como nos demais municípios do estado. Nós viemos trazer solidariedade, mas também reforçar a mobilização para que os governos estadual e federal cumpram com o seu papel e não fiquem ausentes, porque o assunto é de urgência”, ressaltou Pretto.
Durante as visitas em propriedades rurais, o deputado também viu o desespero dos agricultores em relação à falta de energia elétrica na região do Vale do Taquari, fator que agrava ainda mais a situação, pois traz diversos prejuízos para as criações de frangos, suínos e para a produção de leite. Os agricultores reclamam da falta de atenção da RGE, que muitas vezes demora até para atender os consumidores pelo telefone. A falta de agilidade na prestação do serviço de energia e, principalmente, na resolução dos problemas tem deixado os moradores da região sem saber a quem recorrer. Existem famílias de agricultores sem luz desde o último sábado.
A falta de energia elétrica no Vale do Taquari mobilizou Edegar Pretto a solicitar uma audiência com o Ministério Público Estadual. A reunião, que ocorreu nesta quinta (20), em Porto Alegre, reuniu representantes da RGE, da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do RS (Agergs), do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) e agricultores que relataram os problemas e as perdas de produção por falta de abastecimento de energia. O procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, deu 30 dias para que a RGE apresente um plano de investimentos na região do Vale.
Os temas da estiagem e da falta energia elétrica também foram debatidos numa reunião que ocorreu em Encantado com a Associação dos Municípios do Vale Taquari (Amvat). Conforme o presidente da entidade, Sandro Herrmann, que é prefeito de Colinas, os prejuízos em função da estiagem são enormes e a perspectiva é de que ainda continue a dificuldade pela previsão do baixo volume de chuvas nos próximos meses.
“O que nós precisamos hoje é acelerar o auxílio que o estado está se propondo a repassar aos municípios para podermos atender o mais rápido possível essas deficiências nas comunidades. Hoje já falta água para o consumo humano em diversos municípios, além de todo o problema de água para os animais, pois nós temos uma grande produção, tanto de gado leiteiro quanto de gado de engorda, e também suínos e aves. Os municípios estão fazendo o transporte de água de uma comunidade para outra, mas a gente já está com medo que comece a faltar também na região onde está sendo buscada essa água”, alertou Herrmann.
O drama dos agricultores
Na propriedade da família Daltoé, que fica na Linha Garibaldi, interior do município de Encantado, os problemas se multiplicam. As dificuldades que a família já vem enfrentando com a estiagem foram agravadas nesta semana pela falta de energia elétrica, que já dura três dias, situação que se repete com frequência. Para Fátima Daltoé o atendimento da RGE é muito ruim.
“A gente liga e fica, às vezes, 30 ou 40 minutos esperando atendimento, aí cai a ligação ou eles desligam, a gente tenta de novo e não consegue, é muito complicado, porque nós dependemos da luz para os frangos e para o leite. Eu acho que o governo tem que fazer alguma coisa para ajudar a gente, porque nós estamos em péssimas condições. A gente não tem vontade de comer, não consegue dormir. Dá vontade de chorar, é desespero. É triste”, desabafou Fátima.
A família precisou comprar um gerador para não ter prejuízos maiores. O companheiro de Fátima, Nilson José Daltoé, disse que os últimos anos têm sido de muita dificuldade, porque com as constantes estiagens não é possível produzir o alimento adequado para as vacas de leite, o que traz prejuízo para a produção. “Estamos enfrentando todas essas dificuldades e ainda a falta de luz. Tudo ajuda para puxar a gente para baixo. A estiagem levou 60% da plantação de milho”, salientou o agricultor.
No município de Doutor Ricardo, o casal José e Ana Rizzi, que mora na localidade de Linha Leopolda, lamenta pelas dificuldades com a falta de água. Os peixes estão morrendo, os açudes secando e o milho não serve nem para silagem porque não tem grão. Desde o mês de novembro sem água, metade da lavoura já secou. O abastecimento de água da família é feito pela prefeitura. A perda do milho é de 100%. “Nós plantamos 10 hectares de milho e iríamos colher cerca de 150 sacos por hectare, um total de 1.500 sacos, deixamos de ganhar R$150 mil”, calculou José. A esposa, Ana, disse que os agricultores estão pedindo socorro. A família vive da criação de suínos e da produção de leite, que são prejudicadas pela falta do milho para a alimentação dos animais.
Um dos municípios mais atingidos pela seca é Fontoura Xavier. A família de Osmar de Oliveira e Marisa Brummelhaus, na comunidade de Canga Quebrada, está sem água para beber. As plantações de milho e feijão tiveram perda de 100%, além de prejuízos na cultura de outros alimentos que produzem para a subsistência da família. Os animais não têm o que comer. Sem o milho, que é a base da alimentação animal, não vão conseguir nem criar galinhas.
Ainda em Fontoura Xavier, Edegar Pretto participou de uma reunião no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município. O encontro teve a presença do ex-prefeito José Flávio Godoy da Rosa, representantes da educação, segurança, vereadores, agricultores e movimentos sociais. O ex-prefeito falou da importância da agricultura familiar para o local, mas que no momento muitas famílias estão sem água para o consumo humano, para banho e para dar aos animais. Para ele, a estiagem colocou a região em situação de calamidade pública.
O presidente do sindicato, João Maciel Pedroso, disse que os agricultores, além da estiagem, enfrentam um custo elevado para produzir e que a agricultura familiar precisa do olhar do Estado sobre a política de preços dos insumos. Disse ainda que a necessidade de um auxílio emergencial é urgente, porque existe o risco da agricultura familiar desaparecer.
Conforme a Emater, no Informe de Evento Adverso n° 01, “Efeitos da Estiagem nas Principais Atividades Agrícolas do Rio Grande do Sul”, são 207 mil propriedades atingidas pela seca e cerca de 10,5 mil famílias com dificuldade de acesso à água no estado. A situação ainda está sendo agravada pela forte onda de calor que se instalou no Rio Grande do Sul, o que resseca ainda mais o solo. Até agora a estiagem atinge os seguintes números de produtores: 90,1 mil de milho; 77,7 mil de soja; 10,9 mil de feijão (1ª safra); 33,3 mil de milho silagem; 11,6 produtores da fruticultura; 4,4 mil produtores de hortaliças; 16,4 mil de fumo; e 23,5 mil produtores de leite.
Texto: Leandro Molina (MTE 14614)