O Governador Eduardo Leite não reconhece o sofrimento do povo gaúcho

O governo ignora a importância de investir na agricultura familiar e a população que passam fome no RS

Foto Joaquim Moura

Na manhã desta terça-feira (16), organizações do campo e urbanas foram até o Palácio Piratini, na capital gaúcha, reivindicar crédito emergencial para a produção de alimentos e sanar a fome que assola famílias urbanas e rurais. Entre as entidades presentes estavam a União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea-RS), Central Única dos Trabalhadores (CUT) com a Comunidade, Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).

Para o deputado Edegar Pretto o governo gaúcho está de braços cruzados, assim como o governo federal. “Não houve atenção com a produção de alimentos e a extrema pobreza cada vez aumenta mais. Isso não pode mais continuar assim! O estado e o país precisam voltar a viver os tempos que já vivemos antes, com mais oportunidades para todos e todas, sem fome, com mais dignidade. Nosso estado passa por uma crise econômica e de produção de alimentos, até agora não temos nenhuma política pública do governo Eduardo Leite para a agricultura familiar e camponesa. Precisamos de um governo que volte a olhar para o povo trabalhador e setores produtivos”.

“Nesses dois anos de pandemia e seca, a agricultura familiar foi a única a não ser atendida pelo estado. O governo abandonou as políticas públicas da Reforma Agrária, o ministério da agricultura e o INCRA,” pontua Ildo Pereira da Direção Nacional do MST RS.

No início desta manhã foi protocolado, pelas entidades que organizaram o ato, a pauta com as reivindicações dos trabalhadores do campo e dos trabalhadores urbanos. O Chefe de Gabinete da Casa Civil, Jonatan Brönstrup, conversou com alguns representantes sobre as problemáticas apontadas, no entanto não foi dada nenhuma resposta concreta para amenizar ou solucionar as questões apresentadas no documento.

As mais de 1500 pessoas que se fizeram presentes no ato de hoje e as organizações garantem que mesmo assim seguirão pressionando o governo, tanto estadual, quanto federal, para obterem uma resposta frente ao descaso com os agricultores/as.

“Nosso povo sai animado dessa mobilização, pois a unidade dos povos do campo mostrou-se forte e resistente. Esse ato deu a autonomia para as entidades que vêm discutindo essa pauta há mais de dois anos a se organizarem e continuar pressionando. Além disso, faremos uma pressão em cima dos deputados, independente dos partidos” declara, Ildo Pereira.

Nesse ato, além de demarcar as dificuldades enfrentadas pelo campo e cidade, os militantes mostraram a importância da solidariedade. No momento em que a fome atinge um número expressivo da população brasileira, os camponeses compartilham suas produções para ajudar a amenizar a fome de companheiros e companheiras.

Por mais que a ação seja simbólica, as famílias da ocupação Sementes da Mariele Franco, de Sapucaia; Comitê de Combate a Fome e Contra o Vírus da Lomba do Pinheiro, e a Ação Cidadania, receberam alimentos produzidos pelo MST, MPA e Fetraf.

Segue abaixo na íntegra do documento entregue para o Governador Eduardo Leite

Exmo. Sr. Eduardo Leite – Governador do Estado do Rio Grande do Sul

Assunto: Solicitação de Audiência em caráter de urgência para tratar do Crédito Emergencial para a Agricultura Familiar

Excelentíssimo Governador Eduardo Leite; As organizações da Agricultura Familiar, aqui representadas pela UNICAFES-RS (União das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária), FETRAF-RS (Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar), Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul Ltda. (COCEARGS), Movimento Sem Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável/RS (CONSEA), vem dialogando com o governo e apresentando a pauta dos impactos da estiagem, agravados pela pandemia do Covid-19, no que se refere a produção de alimentos, mercados institucionais e o aumento da fome. Lamentavelmente, os interlocutores do governo do estado têm tratado com descaso e irresponsabilidade este tema de grande relevância e urgência.

O tema já é de conhecimento de Vossa Excelência. Necessitamos urgentemente de um programa de crédito emergencial para agricultores familiares na perspectiva da produção de alimentos. Reunimos com o Secretário-Chefe da Casa Civil, Sr. Artur Lemos durante a Expoínter, que se comprometeu em analisar a proposta do PL N°115/2021 – que tramita na Assembleia Legislativa com parecer favorável na CCJ e chamar nova reunião com estas organizações em 15 dias, o que também não aconteceu. Sendo assim, não nos restou outra alternativa que não fosse ocupar as ruas e vir para frente do Palácio Piratini pedir providências.

Não há mais tempo para esperarmos. Agricultores familiares não aguentam mais e muitas famílias estão sendo obrigadas a abandonar as atividades, enquanto ao mesmo tempo, aumenta a fome e a insegurança alimentar e nutricional no campo, mas sobretudo, nas periferias urbanas. Enquanto 0 RS tem a cesta básica mais cara do país, já são mais de 1 milhão de gaúchos em situação de extrema pobreza, vivendo com renda mensal de R$0,00 a R$89,00. O Direito à Alimentação é obrigação do Estado, garantido no 6° artigo da Constituição Federal.

Portanto, Senhor Governador, solicitamos mais uma vez, em caráter de urgência, que Vossa Excelência receba em audiência as representações das entidades que subscrevem para tratar do assunto. “Quem tem fome, tem pressa”!

Fonte: MST/RS