O valor da palavra na política

Raquel Wunsch

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Quando alguém combina algo, ou lhe dá a palavra, e não cumpre com a promessa, é bem desagradável. É natural evitarmos pessoas dissimuladas, descomprometidas e que mudam de ideia a cada segundo, pois a mentira não é algo que queremos próximo de nós e das pessoas que nos cercam. Na vida pública, isso é ainda pior. Trair a palavra é trair a confiança do eleitor, que o escolheu por algum motivo, e trai a própria democracia como um todo.

O surgimento da democracia remonta à Grécia antiga, como uma forma de definir o sistema político existente nas cidades-estados, possuindo um conceito original simples, em que o cidadão tem voz e voto para tudo que acontece, os gastos, as prioridades, sendo que a decisão da maioria impera, desta forma decidindo a coisa pública. Com o crescimento da população e a sociedade se tornando mais complexa, foi criado o sistema de representação, em que as pessoas não mais se reúnem em uma praça para definir tudo em conjunto, mas elegem representantes que o fazem em seu nome e defendem os interesses de seus eleitores. Muda-se o sistema, mas permanece o conceito, todo poder emana do povo. Afinal, democracia exige uma sociedade civil organizada, fiscalizando seu representante para que se mantenha com os mesmos princípios que o cativou e levou ao voto inicialmente.

Quando um representante eleito trai a vontade e o motivo pelos quais seus eleitores o elegeram, está sequestrando a vontade popular se colocando como dono do poder, e não mais representante de seu povo. Este é o caso do governador Eduardo Leite, que acha que deve, unilateralmente, decidir os rumos do Estado, quando a verdade é que sua palavra não vale nada.

Em campanha, dizia que seu diferencial era “ter projeto”, o que na prática significou acabar com o bem público, tirar direito dos gaúchos, privatizar o máximo possível e sucatear o Estado. Dizia que manteria Corsan e Banrisul públicos – duas empresas superavitárias, da mesma forma que a Procergs, responsável pela área de TI do Estado, que protege as informações de todos os gaúchos.

A realidade foi a retirada do plebiscito popular, o que mostra sua pouca preocupação com a opinião dos gaúchos, o encaminhamento da privatização da Corsan, o fatiamento do Banrisul, e a entrega dos dados sensíveis do governo nas mãos de uma empresa privada.

O governador não tem palavra, fala, e ali na frente, desconstitui e nega o que disse. A palavra deve trazer peso, ética e valor, na vida e na política. Isso o governador não tem.

Zé Nunes, Deputado Estadual e Presidente da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da AL RS

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