Deputados da bancada do PT questionaram, na tarde desta quarta-feira (18), o presidente do Banrisul, Claudio Coutinho em reunião convocada pela presidência da Assembleia Legislativa sobre o fato relevante do Banrisul Cartões, anunciado ao mercado no mês passado. De acordo com o anúncio, o objetivo é buscar parceiro para levar operação de pagamentos a outros estados. Com esta nova operação, no entanto, o Banrisul pode abrir mão do controle acionário.
Hoje, a Banrisul Cartões representa entre 20% a 25% dos resultados líquidos do banco e é a principal subsidiária do Grupo. A busca é por um sócio que seja capaz de agregar investimentos e compartilhar tecnologia para promover a expansão da empresa dentro do Brasil. O polêmico assunto não é novidade, pois em maio de 2020, o banco contratou a assessoria do banco JP Morgan para explorar novas oportunidades de negócios no segmento de meios de pagamento e adquirência, que é a área de atuação da Banrisul Cartões. Durante a pandemia, no entanto, o assunto das novas operações ficou um pouco em segundo plano. O fato relevante comunicado ao mercado agora autoriza a empresa contatada a avançar na seleção de potenciais investidores, parceiros estratégicos ou sócios, pra agregar investimentos, tecnologia e conhecimento do mercado. O movimento, segundo o presidente, busca fortalecer e proporcionar crescimento à Banrisul Cartões, visando a expansão dos serviços para todo o Brasil. É uma ação bem estruturada para incrementar o potencial de negócio dessa subsidiária e ampliar a sua competitividade. Os recursos que ingressarem nessa nova sociedade serão integralmente investidos na própria empresa para promover a execução de um planejamento estratégico voltado ao crescimento e expansão da empresa.
Para o presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Banrisul Público, deputado Zé Nunes (PT), o problema da Banrisul Cartões não é a falta de capacidade financeira de seu controlador. “Muito pelo contrário. É a incapacidade de expandir suas operações e ganhar maior escala, o que comprova a falta de capacidade de sua administração em montar estratégias que permitam posicionar melhor a empresa para o enfrentamento da concorrência”. Zé Nunes disse que depois do crédito, o Banrisul Cartões é o mais importante negócio do Banco. Entre 2014 e 2020 representou em média 22,9% do lucro líquido total, sendo que em 2020, também fruto do péssimo desempenho do crédito da companhia, chegou a compor cerca de 33,6% do lucro.
Considerando apenas cartões de crédito, o mercado cresceu 58,9% no período. “Esses resultados evidenciam a falta de estratégias e a incapacidade da atual administração em enfrentar a concorrência”, declarou Zé Nunes. O parlamentar lembrou que em 2020 foi realizado um PDV, que retirou 10% do quadro de funcionários do banco. Foram fechadas 14 agências e 25 pontos de atendimento por todo o Estado no último ano. “Isso é um desmonte da capacidade e eficiência do Banrisul. Recentemente passou-se a divulgar os salários dos funcionários, menos da diretoria, sendo que documentos da relação com o investidor indicam aumento na verba para executivos”, criticou.
O líder da bancada petista na Assembleia Legislativa, deputado Pepe Vargas, afirmou que o fato relevante comunicado ao mercado não deixa claro qual é a estratégia da direção do Banco. “O governo do estado tem uma orientação de venda de ativos públicos, uma visão privatista. A ideia de buscar um sócio estratégico agora para o Banrisul Cartões pode descapitalizar o banco e fragilizá-lo”, ponderou Pepe, lembrando que existem muitas dúvidas neste processo. “É preciso mais transparência para entender qual a real intenção do Banco neste processo”.
A importância do Banrisul para o desenvolvimento do Estado foi destacada pelo deputado Jeferson Fernandes que vê com preocupação a atual situação do banco dos gaúchos que tem como uma de suas missões, além de emprestar, trazer recursos para o Estado. Para o parlamentar, a atual gestão do banco apresenta fragilidade, visto que o valor de mercado do Banrisul apresenta redução de 50% desde que Claudio Coutinho assumiu a presidência do banco. “O governo não lhe cobra resultados, não busca dialogar sobre o que está acontecendo? Não tem metas para recuperar a performance do Banco?”, questionou, argumentando que “abrir o Banrisul cartões neste ambiente em que o Banco apresenta fragilidades seria uma decisão temerária”.
Jeferson lembrou ainda que o Banrisul vem perdendo espaço no mercado quanto ao crédito às empresas. No 2º trimestre de 2021, por exemplo, caiu em relação ao primeiro trimestre. “Esta incapacidade de crescer na principal atividade de um Banco que é emprestar não é ruim? O Banrisul está se transformando numa espécie de financeira, que está se virando na base dos consignados. O senhor disse que quando assumiu a presidência, houve reação positiva do mercado de que o Banco iria ser privatizado. O senhor é vocacionado à gestão de bancos privados?”, provocou. O deputado afirmou ainda que o presidente tem se orgulhado do fechamento de agências e da redução de funcionários justamente no momento em que perde com a carteira de crédito. “A meta era 1500 desligamentos. Saíram 900. Qual é a meta? Tem municípios pequenos com uma única agência. É importante esta capacidade do Banco, via funcionários que cumprem papel fundamental, de estar ramificado no RS”, defendeu, dizendo que a impressão que fica é de que há um fatiamento do Banrisul e que a intenção do governo é entregá-lo ao mercado.
O presidente do Banrisul, Claudio Coutinho, disse que PDV foi oferecido para quem já estava para se aposentar e garantiu que não fechou nem fechará agências. Disse que a administração anterior fez o trabalho de puxar a inserção comercial do banco no resto do Brasil. “Acho que como banco digital, podemos expandir para todo o Brasil, mas com a estrutura de agências que temos e com a necessidade de abrir outras, gerou-se muitos custos”, afirmou.
Texto: Claiton Stumpf (MTB 9747)