Antigamente, cursar qualquer faculdade era exclusivo para a classe alta, pois requeria um ensino anterior e que a família tivesse condições financeiras de enviar os filhos à capital, mantê-los lá pagando aluguel, alimentação, entre outros custos. A consequência disso é a elitização do acesso ao conhecimento e a evasão de mão-de-obra qualificada das cidades interioranas, pois, ao finalizar os estudos, a maioria das pessoas já não possuía vínculos sociais com sua cidade de origem, dificilmente voltando para aplicar seus conhecimentos lá.
Com a criação da FURG e da UFPel, passa-se a interiorizar o conhecimento, trazendo a possibilidade de acesso a mais pessoas e beneficiando suas localidades. No entanto, foi a partir do grande investimento em educação realizado durante os governos Lula, que importantíssimas instituições como IFSUL e UniPAMPA foram criadas, resultando na democratização e na inserção social equitativa.
As atividades que essas universidades realizam afetam diretamente a vida de milhões de gaúchos, desde o setor empresarial, a saúde da população e seus orçamentos, muitas vezes superiores ao PIB dos municípios, o que reverbera na economia local. A UFPel é credenciada como parte da Embrapii, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, fazendo papel de catalisadora entre empresas que precisam de soluções de produtos, bem como o Centro de Robótica da FURG, considerado um dos principais do país. Ambas as universidades ainda possuem hospitais 100% SUS, oferecendo centenas de leitos e auxiliam no combate ao COVID-19 com pesquisas como a Epicovid-19, plataformas de monitoramento, entre outras contribuições.
A UniPAMPA presta especial atenção à matriz econômica regional, com ênfase na inovação para a agropecuária, aquicultura, apicultura, geração de energias renováveis, entre outros. Além disso, a FURG presta um serviço de excelência na formação continuada de profissionais da educação. Por último, mas não menos importante, o IFSUL está localizado em 14 municípios e conta com uma incubadora empresarial de base tecnológica em Pelotas, fomentando produtos, serviços e ideias originados nos cursos da instituição.
Cada uma das contribuições à sociedade mencionadas passa a correr risco quando o governo federal corta o orçamento da educação em mais de 27% de 2020 para 2021, com perspectivas ainda piores para 2022. Somente para as universidades públicas, o corte foi de 18,2% em 2021 e 8.64% em 2020, prejudicando o pagamento das contas básicas, o Plano Nacional de Assistência Estudantil, bolsas para alunos de graduação e até mesmo inviabilizando o funcionamento de algumas instituições.
As universidades públicas da região sul, especificamente, tiveram cortes de um quinto de seus orçamentos este ano, causando o cancelamento de bolsas, incentivos a pesquisas, investimentos em melhorias e serviços básicos. Já tivemos um governo que investiu milhões para levar educação a todos, que mudava a vida de brasileiros, especialmente os que vivem no interior, muitas vezes os primeiros a cursar um curso superior em suas famílias, agora convivemos com a possibilidade da falência do sistema de educação público do país.
Talvez a explicação seja que o conhecimento é um antídoto poderoso contra o autoritarismo e por isso é tão perigoso para os atuais governantes.
Zé Nunes, deputado estadual (PT)
Presidente da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo da AL RS