domingo, 24 novembro

Uma jovem trabalhadora da fábrica de Calçados Zenglein, em Novo Hamburgo (RS), urinou nas calças após ser impedida de ir ao banheiro quando estava apertada, durante o seu horário de trabalho, no meio da tarde da última quinta-feira (24).

Molhada, a sapateira teve que passar em frente aos colegas até o setor de Recursos Humanos, sofrendo enorme constrangimento e humilhação. Foi dispensada do serviço, tendo que ir a pé para casa, caminhando por cerca de meia hora, quando poderia ter sido levada num veículo da empresa.

“O fato deixou indignadas as suas colegas porque não foi a primeira vez que isso acontece na categoria”, afirma a diretora do Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo e da CUT-RS, Jaqueline Erthal. “O uso do vaso sanitário deveria estar sempre liberado, pois é uma questão de saúde. Além do mais, muitas mulheres sofrem com incontinência urinária”, ressalta.

Saúde no trabalho é qualidade de vida

Na empresa, infelizmente, ainda é preciso “pedir a chave para ir ao banheiro”, como é conhecido o sistema de esteira, onde cada empregada deve esperar a sua vez ou chamar uma auxiliar chamada de “coringa”. “Isso é uma palhaçada. Tudo para não parar a produção e aumentar o lucro do patrão, ignorando a saúde de quem trabalha e a qualidade de vida das pessoas”, critica Jaqueline.

Na manhã de sexta-feira (25), o Sindicato tentou entrar em contato com a fábrica para conversar e pedir esclarecimentos, mas não obteve retorno. À tarde, a assessoria jurídica encaminhou uma notificação extrajudicial, com cópia ao Ministério Público do Trabalho (MPT), para que a empresa se manifestasse.

No sábado (26), o caso foi denunciado na live do Sindicato, que contou com a participação do presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. Para ele, “é uma estupidez, uma visão do tempo de quase escravidão pedir pra ir ao banheiro. É uma questão de saúde do trabalhador e da trabalhadora. A responsabilidade é do empregador. Cabe exigir danos morais”.

Ato de repúdio

Ao meio-dia desta segunda-feira (28), o Sindicato realizou um ato de repúdio, no intervalo do turno, em frente à fábrica, com manifestações de dirigentes sindicais em carro de som, protestando contra essa prática nojenta da empresa, que devia ser coisa do século passado.

“Queremos o fim da chave dos banheiros, respeito e dignidade com as sapateiras e os sapateiros, que com muito orgulho trabalham e garantem a pujança da indústria do calçado no Vale dos Sinos”, destaca Jaqueline.

Estiveram presentes no ato, manifestando apoio e solidariedade à luta da categoria, dirigentes do Sindicato dos Bancários do Vale do Paranhana e do Sindicato dos Municipários de Estância Velha.

Também compareceram o vereador Enio Brizola (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Novo Hamburgo, o ex-prefeito e ex-deputado Tarcísio Zimmermann, o assessor do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT), Ederson Rodrigues, e a representante do Coletivo Elza, Eduarda Milena.

Empresa quer tapar sol com a peneira

Ao final da tarde, a Calçados Zenglein enviou uma resposta à notificação do Sindicato. Em ofício de duas páginas, a empresa tenta minimizar a gravidade do fato, alegando que “foi de uma infelicidade ímpar”. Segundo o texto, “trata-se de caso isolado sem que a empresa pudesse ter evitado”.

“É muita cara de pau querer tapar o sol com a peneira. Vamos levar essa carta ao conhecimento das trabalhadoras e dos trabalhadores para mostrar como os nossos patrões tentam enganar a categoria. Temos que unir nossas forças junto ao Sindicato para defender os nossos direitos e lutar por melhores salários e condições dignas de trabalho”, aponta Jaqueline.

“Estamos juntos com essa categoria de luta, que ajudou a fundar a CUT e nunca deixou de lutar pela dignidade da classe trabalhadora. Basta de humilhação! Saúde no trabalho é direito fundamental”, salienta Amarildo.

Fonte: CUT-RS

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