sábado, 23 novembro
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“Depois de horas de trabalho, lutando pela vida e vendo a morte de pacientes, perdendo para o vírus, eu saio do hospital e me deparo com uma carreata nas ruas de Porto Alegre pedindo que liberem a circulação das pessoas, além de preocupante foi triste”. O relato foi do médico infectologista Fabiano Ramos que participou de mais uma reunião, ocorrida nesta quinta-feira (18), com os deputados que fazem parte da comissão externa que acompanha a vacinação no estado. O médico está à frente do serviço de Infectologia do Hospital São Lucas, e coordenou na instituição a pesquisa clínica da vacina Coronavac, produzida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Questionado pelo deputado Frederico Antunes (PP), que faz parte da comissão, se as únicas alternativas hoje são o distanciamento e a vacinação, o médico reforçou que só assim poderemos evitar que não se vivencie um processo ainda pior que o apresentado hoje. Segundos ele, a insistência de alguns grupos que negam isso, resistem ao distanciamento e uso de máscara, e criam suas próprias teorias de uma medicação que salva ou de um tratamento precoce, desgasta ainda mais os profissionais de saúde que já estão numa batalha ingrata em decidir quem terá espaço ou não nas UTIs. “Dados errados, decisões erradas de grupos que desinformam a população na busca de tratamentos que não existem, de medicamentos que não funcionam, como a cloroquina, invermectina e outros, só atrapalham a luta pela vida e pelos cuidados que todos devemos ter. Não existe isso, e nem tratamento precoce. A solução é a vacina. Eu não sei o que estes grupos buscam. Isso deixa a gente exausto na capacidade de ajudar”.

O infectologista relatou que no último domingo, depois de mais de 10 horas de trabalho, vendo pessoas morrendo e perdendo pacientes, saiu do plantão e se deparou com uma carreata e buzinas, “ eu sei que as pessoas estão angustiadas com seus empregos e a falta de dinheiro, e isso deve ser respeitado. Porém neste momento, ter esta atitude é condenar a todos ao pior que a doença trás e ainda irá trazer, as pessoas precisam se conscientizar que a única forma de parar o vírus agora, é parar de circular. ”

O coordenador da comissão, deputado Pepe Vargas, lamentou que mais deputados não estivessem ouvindo os relatos do infectologista, “ dentro do ambiente da assembleia temos muitas pessoas que deveriam lhe ouvir para entender melhor a gravidade do momento. ”

Ramos ressaltou que o Brasil precisa acelerar o acesso às vacinas, diversificar os tipos, ampliando o acesso a Coronavac, Oxford, Pfizer e Janssen, “ o que mais preocupa agora são as variantes como a P1, é uma doença diferente, muitos pacientes não respondem ao tratamento da mesma forma que respondiam antes da variante brasileira, a P1 é diferente e pior”, alertou o infectologista.

Na reta final dos trabalhos, a comissão vai ouvir ainda mais infectologistas e profissionais da linha de frente para concluir o relatório que será entregue à secretária estadual da saúde onde vai apontar sugestões e melhorias no processo de vacinação no estado.

Texto: Vânia Lain (MTE 9902)

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