Marielle, Dilma e Michele Sandri, vítimas de Bolsonaro: apelo às oposições democráticas

Raquel Wunsch

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Foto: Guilherme Santos/Sul21

Tarso Genro (*)  

Pessoas estão morrendo das mesmas causas e pelos mesmos ódios. Por isso ponho ao lado de Dilma e de Marielle, a nossa amiga e companheira Michele Sandri, de 44 anos, que ontem morreu depois de 15 dias de infecção pelo vírus da natureza e do fascismo que ataca a Humanidade e que tem Bolsonaro como seu profeta maldito.

” A Peste”, de Camus, com a infestação dos ratos (animais) distribuindo a morte em Oran, faz uma parábola dos ratos nazistas ocupando a França. Dor, solidariedade, morte e poder, são percorridos pelo gênio de Camus, que enfia finos punhais de luz na nossa consciência para que ela não adormeça.

Em “Morte em Veneza” (Thomas Man) revela que o seu personagem-artista de nome Aschenbach está sufocado pela beleza de um adolescente, que sequer conversa com ele. Era o jovem polaco Tadzio, motivo da sua fixação estética que o aliena do mundo circundante. Tudo ocorre no meio de uma epidemia de cólera, cuja existência sequer é reconhecida pelas autoridades da cidade sitiada pela doença.

A vulgarização da morte erigida pelas tragédias dos desequilíbrios da natureza, combinadas com decisões humanas, não é menos violenta do que as escolhas simbólicas que são feitas por uma parte de um imaginário popular doentio. Quebrar uma placa de rua com o nome de uma mulher assassinada (Marielle) e celebrar a dor – santificando o torturador – como fez Bolsonaro com a tortura da Presidenta Dilma, é um ato de Terror.

É um ato de Terror tão aterrorizante como aquelas tragédias coletivas vistas por Camus e Thomas Mann, já que as obras literárias dos grandes mestres revivem um passado que ainda está aí, mas as lembranças do assassinato de Marielle e da tortura de Dilma prometeram um futuro que já começou. Ele nasceu como uma serpente malferida que guarda todo o seu veneno para o bote final da desumanidade absoluta.

É impossível afastar da responsabilidade moral pelo que está acontecendo no país, das pessoas que sabiam – pelo menos – destes dois fatos simbólicos de Terror: de Marielle e de Dilma e continuaram admirando, votando e apoiando Bolsonaro. O mal é histórico e irredutível a leis morais universais, mas o seu ponto de partida na política é idêntico em todas as épocas: quem descarta a humanidade de um semelhante, desde a Inquisição – seja ele um adverso ou não – é um assassino em potencial e na prática (ou em tese) um Terrorista.

Bolsonaro é um mentiroso compulsivo que odeia pessoas normais e não tolera qualquer divergência com seus conceitos rasos e desumanos sobre a vida, a política, a sexualidade, sobre as mulheres e sobre a própria celebração da alegria de viver. Seus Ministros em regra são toscos, incompetentes e infantis, deliciados com a capacidade de fazer o mal – pensam eles – impunemente. Bolsonaro tem, no seu passado violento, o presente de semeadura e de morte que sempre desejou.

Celso Lafer um tucano que ao contrário de FHC nunca conciliou com Bolsonaro, disse que o “terrorismo pode ser entendido como um conjunto de ações voltadas para provocar o medo – que paralisa – e o horror – que desconcerta – com o objetivo de mudar condutas”. Segundo Celso Lafer temos, então, um Terrorista no poder se as oposições democráticas não se unirem para derrubar pela Lei um Terrorista no poder, quaisquer que sejam suas origens ideológicas, passarão para a História como coniventes com o mal e o seu Profeta. E não terão a oportunidade, como FHC, de sentir um suave mal-estar por cair no conto da “escolha difícil”!

(*) Tarso Genro foi governador do Estado do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil.

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