É inacreditável o que está acontecendo. A menos de 30 dias da realização do leilão para a venda da empresa, os diretores da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) querem rasgar o Acordo Coletivo dos trabalhadores. Cortaram o bônus alimentação, conquista de décadas da categoria, obtido quando foi trocado por um percentual do INPC, homologado em negociação e beneficiando a CEEE, já que não existe tributação nenhuma e também não entra no cálculo de aposentadoria.
Desde o governo Sartori, os eletricitários estão sem reajuste nos salários e em nenhuma das cláusulas econômicas. Ao contrário, viemos amargando retiradas de conquistas. E o discurso da empresa continua o mesmo: a CEEE está quebrada, com prejuízos….
Mesmo com cortes e sem avanços, a situação só piora. Interessante é que todos os argumentos depõem contra a atual gestão, que se mostra incompetente para gerir a empresa. Mais grave ainda é que distribuiu R$ 104,3 milhões para os acionistas, fato amplamente divulgado na imprensa.
Outro fato grave é que, se essa gestão mantiver a posição de cortar algumas cláusulas do acordo, contribuirá mais uma vez para grandes passivos trabalhistas, tendo em vista que contraria a lei vigente. Assim, deixará para o grupo econômico que vier a comprar a empresa, caso se concretize a venda, uma dívida fabulosa. Desta forma, com esse método de gestão, sem compromisso com o futuro, foram ao longo dos anos deteriorando a CEEE e outras empresas públicas.
Outro absurdo inacreditável é a retirada do Plano de Saúde, num momento dramático de pandemia, quando o RS está sob a bandeira preta do distanciamento controlado. Temos colegas que estão na linha frente, colocando a sua vida e a de seus familiares em risco dobrado pela sua atividade, e mais o perigo da contaminação. Situação gravíssima, desumana, sem o mínimo de sensibilidade, chegando à crueldade.
O pedido do Senergisul foi a prorrogação do acordo, possibilitando aos novos acionistas sentarem na mesa de negociação para conversar sobre o futuro. Na reunião de mediação, o vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT4), desembargador Francisco Rossal de Araújo, sugeriu uma prorrogação da vigência até o dia do leilão. Infelizmente, os representantes do governo do Estado, por meio da PGE, GAE e do diretor da CEEE Gustavo Balbino Dias da Costa, negaram essa possibilidade.
Questionamos se o governador Eduardo Leite tem conhecimento disso, levando-se em conta que não é interessante para ninguém o enfrentamento com uma greve dos eletricitários às vésperas de um leilão.
A sociedade gaúcha precisa saber do que está acontecendo e se apropriar da verdade dos fatos. Você sabia, por exemplo, que a Prefeitura de Pelotas é a maior devedora da CEEE? E que o valor já passa de R$ 195 milhões? É muito fácil falar na mídia em endividamento da CEEE, sem procurar os verdadeiros responsáveis e os seus motivos, para tentar justificar a privatização da empresa e enganar a população, que acabará pagando conta de luz mais cara para aumentar os lucros dos insaciáveis acionistas privados.
Ana Maria Spadari é presidente do Senergisul