segunda-feira, 25 novembro
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“Temos orgulho da luta que fizemos”, reforçou o ex-deputado Raul Carrion (PCdoB) em mais uma oitiva da Subcomissão para recuperar conteúdo das denúncias de violação de direitos humanos na ditadura civil militar, realizada na manhã desta quarta-feira (12/08), sob a presidência do deputado estadual Jeferson Fernandes (PT). Ele se referia ao período militar, no qual foi preso político, torturado e obrigado a exilar-se na Argentina e no Chile, em função do ativismo social e político de cunho nacionalista exercido nos movimentos estudantil, social, sindicalista e como dirigente estadual do Partido. “Não queremos ser vistos como os coitadinhos que foram massacrados, e fomos. Mas como aqueles que resistiram àquele terrível Regime”, completou.

Carrion entende que é fundamental denunciar os crimes da Ditadura, identificar as causas e os mandantes. “Foram atos criminosos cometidos por facínoras durante 21 anos. Derrubaram um presidente, rasgaram a Constituição que juraram defender, cassaram governadores, ministros, quase 400 parlamentares, inúmeros juízes, desembargadores e os mandatos e direitos políticos de cerca de 5 mil brasileiros”, detalhou. Ele lembrou, no entanto, que a resistência não era contrária aos militares, mas sim aos “militares golpistas, fascistas e facínoras”, lembrando que o primeiro assassinado pelo Regime no RS foi justamente um militar, o tenente Coronel Alcântara Monteiro, além do “caso das mãos amarradas”, quando um sargento foi morto e encontrado boiando no Rio Jacuí. “Existiam naquela época e ainda existem militares nacionalistas. Cerca de 6.500 deles foram punidos e afastados”, frisou.

Destacou ainda a participação de grupos econômicos no reforço às ações opressivas do Regime, em especial, a partir da Operação Bandeirantes, a Oban, criada para desarticular facções revolucionárias comunistas. Segundo o ex-deputado, a Operação contou com o apoio de empresas como GM, Ford, Ultragaz, com interesses na manutenção do regime militar. “O Jornal Folha de São Paulo chegava a emprestar veículos para encobrir delitos da ditadura”, contou.

O ex-deputado, que presidiu Comissão no Legislativo e participou de outras iniciativas de resgate histórico do período militar, lembrou que entre março e agosto de 1964, foram presas mais de 50 mil pessoas; abertos 5 mil inquéritos, envolvendo 40 mil nomes, sendo indiciados 14 mil destes e 7500 levados a julgamento; 10 mil exilados e 130 banidos perpétuos. Houve intervenção em cerca 1200 sindicatos, 43 federações e 3 confederações. “A Une foi desmantelada, as ligas camponesas também. Censuraram 500 filmes, 450 peças teatrais, 200 livros, 100 revistas, 1000 letras de músicas, 12 novelas, 20 programas de rádio”, enumerou.  Carrion mencionou ainda que, à época, 1800 militares ocuparam cargos no governo federal, estatais, autarquias, além de em grupos privados e empresas, “para fazer tráfico de influências”. “Todo grupo empresarial queria ter um coronel para transitar livre no governo. É uma ilusão achar que na ditadura não havia corrupção. Só não aparecia porque quem denunciasse seria morto, desapareceria”, comentou.

Carrion atribui em muito o poder de intimidação e repressão do Regime ao fato de o Sistema Nacional de Informações (SNI) ter “montado uma máquina de espionagem” no país, com 300 mil informantes e 1 milhão de colaboradores, resultando em mais de 500 mil cidadãos fichados; e à conivência da imprensa. Ele mesmo foi preso, tendo ficado por cerca de dois meses sofrendo torturas no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em Porto Alegre e na sede da Oban, em São Paulo. “Os presos ficavam incomunicáveis, sem contato nem com advogados. Puseram fim ao Habeas Corpus; e a mídia não dizia uma palavra a respeito destas práticas”, criticou.

Raul Carrion destacou ainda o fato de centros clandestinos de tortura terem se multiplicado paralelo aos oficiais: Destacamentos de Operação Interna e Centros de Operações e Defesa Interna (Doi-Codi), Dops, Centro de Informações da Marinha. “Muitos dos que morriam nestas operações eram jogados ao mar, incinerados ou enterrados como indigentes”, lamentou. Para ele, a presença de um governante na atualidade que elogia, defende e só critica a ditadura por ter “matado só 30 mil pessoas”, reforça a relevância de iniciativas como a da Subcomissão. “é contra esta gente que precisamos resgatar a memória do nosso país. Para as novas gerações e para os que se omitiram naquele período”, finalizou.

A Subcomissão ouvirá na próxima quarta-feira (19), Ignêz Maria Serpa Ramminger, ativista política que foi presa e torturada no período ditatorial. No dia 26 de agosto, o convidado é o ex-prefeito de Porto Alegre e ex-deputado estadual Raul Pont.

Texto: Andréa Farias (MTE 10967)

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