domingo, 24 novembro
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O Norte do Rio Grande do Sul recebeu na manhã desta quarta-feira (1º), em ato virtual, o primeiro lançamento regional da Campanha Máscara Roxa, que permite às mulheres vítimas de violência doméstica fazerem denúncias em farmácias. A atividade foi promovida pelo Comitê Gaúcho ElesPorElas, da ONU Mulheres, e contemplou municípios da Associação da Zona da Produção (Amzop), que envolve 43 cidades.

O ato foi coordenado pelo deputado estadual Edegar Pretto, que coordena o Comitê Gaúcho ElesPorElas. O parlamentar comentou que os casos de violência doméstica aumentaram muito em todo o mundo, em função do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Por esse motivo, a ONU Mulheres recomendou a seus países que constituíssem políticas de enfrentamento a essa realidade envolvendo as farmácias, que são consideradas serviços essenciais e permanecem abertas mesmo em situações de lockdown. Assim, as mulheres podem de forma facilitada denunciar seus agressores.

A Campanha Máscara Roxa também foi motivada pelo aumento de feminicídios no RS. Ao todo, 16 mulheres foram assassinadas por questões de gênero nos meses de abril e maio, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado. Somente em abril, o aumento foi de 66,7% em relação ao mesmo mês do ano passado.

De acordo com o deputado, uma semana após o lançamento, ultrapassou o dobro do número inicial de farmácias com adesão à campanha. Ela começou com 600 unidades, e já são 1.314 de quatro redes envolvidas. De abrangência da Amzop, 19 dos 43 municípios já possuem estabelecimentos participantes. Até o momento, farmácias de cinco municípios já receberam denúncias, em Venâncio Aires, Bento Gonçalves, Casca, Pinhal e Capão da Canoa.

Edegar Pretto destacou que o objetivo do Comitê Gaúcho da ONU Mulheres, com os lançamentos regionais, é envolver cada vez mais o setor privado e a sociedade civil para salvar a vida das mulheres. “A região Norte está desafiada a potencializar a campanha, a conversar com proprietários de farmácias, porque esses estabelecimentos podem prestar um serviço muito importante às mulheres nesse momento, as ajudando a sair da situação de violência”, ressaltou.

Como funciona a campanha 

A Campanha Máscara Roxa permite às mulheres que sofrem violência doméstica fazerem denúncias em farmácias. Todos os estabelecimentos com adesão estão com o selo “Farmácia Amiga das Mulheres”, que serve para que as vítimas as identifiquem. Os atendentes receberam capacitação online para o procedimento e para garantir a segurança da vítima.

Ao chegar na farmácia a mulher deve pedir a máscara roxa, que é a senha para que o atendente saiba que se trata de um pedido de ajuda. O profissional dirá que o produto está em falta e pegará alguns dados para avisá-la quando chegar. Após, o atendente da farmácia passará à Polícia Civil as informações coletadas, via WhatsApp, para que o órgão tome as medidas necessárias.

Edegar Pretto reforçou que qualquer farmácia pode aderir à campanha. Segundo ele, o objetivo é envolver também aquelas que não fazem parte de grandes redes, mas que estão em cidades menores. Interessados devem entrar em contato com o Comitê: 51 991993641 | comite.gaucho.elesporelas@gmail.com

Lançamentos envolvem diversas representações

Também participam do 1º lançamento regional da Campanha Máscara Roxa representantes de órgãos de segurança, governo do Estado, Poder Judiciário e movimentos de mulheres que ajudaram a construir a campanha, além de representantes de farmácias, lideranças locais e representações de instituições e da sociedade.

Gioconda Fianco Pitt, juíza-corregedora do Tribunal de Justiça, disse que há um significativo aumento de medidas protetivas solicitadas, no entanto, também há muitos casos de subnotificação, o que preocupa. Ela acrescentou que é fundamental conscientizar para a importância da denúncia, bem como o engajamento de todas as instituições na Campanha Máscara Roxa.

Carla Souto, da Promotoria Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, afirmou que o desafio é incentivar e encorajar as vítimas para que denunciem e rompam o ciclo de violência. Nesse sentido, para ela, a campanha se faz imprescindível. “As mulheres podem estar isoladas, mas não estão sozinhas”.

Liseane Hartmann, defensora pública, argumentou que “o combate à violência doméstica é de responsabilidade de toda a sociedade”. Ela explicou que a campanha proporciona às vítimas uma facilidade de comunicação das agressões, principalmente neste período de isolamento social, em que ocorre um maior contato com o agressor, dificultando o acesso à delegacia.

Bianca Feijó, diretora do departamento de Políticas para Mulheres do RS, lembrou  que muitas vezes a vítima não consegue fazer uma ligação para pedir socorro. Porém, com a campanha, as farmácias se colocam como alternativa. Ele disse que a expectativa é de que a região Norte se engaje e incentive mais farmácias a aderirem. “Quanto mais nós divulgarmos, mais vidas vamos salvar”.

Rafaela Bier, delegada da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Passo Fundo, destacou que, neste contexto de pandemia, “o isolamento social deve ter, mas a violência doméstica não”. Ela frisou a importância da participação da Polícia Civil na Campanha. “Nós seremos o canal entre o atendente de farmácia e a vítima”.

Carlos Aguiar, comandante do 37º Batalhão da Polícia Militar, ressaltou que é muito importante para a instituição também atuar na proteção das mulheres e dar apoio às vítimas de violência, num circuito propiciado inicialmente pela Patrulha Maria da Penha e, agora, pela Campanha Máscara Roxa.

Milton Dias, representando as Associadas, falou sobre alguns motivos que levaram a rede de farmácias a aderir à campanha. “A maioria das pessoas que trabalha nas farmácias são mulheres, elas são praticamente 90% dos nossos atendentes. Além disso, o número maior de clientes também são mulheres”.

Representante das primeiras-damas da região, Verônica Sawaris reforçou que neste momento de pandemia as mulheres estão mais suscetíveis à violência por estarem mais tempo junto aos seus agressores. Também comentou que a região está honrada por ser a primeira a receber o lançamento da campanha. “Certamente, os 43 municípios da Amzop estarão juntos nesta grande iniciativa”.

Já o vereador Leonardo Picolotto, representando a Câmara de Vereadores de São José das Missões, alertou que a sociedade ainda é muito machista e que o fim da violência contra as mulheres deve ser uma luta constante. Destacou ainda que, nesse contexto de isolamento, a campanha é essencial para atingir o objetivo de levar a denúncia de violência doméstica aos órgãos competentes, além de ajudar a dar voz às mulheres.

Outros lançamentos regionais

Conforme o Comitê Gaúcho da ONU Mulheres, até o final de julho serão feitos outros lançamentos regionais da Campanha Máscara Roxa, contemplando as regiões Centro, Celeiro, Sul, Campanha, Planalto Médio, Litoral Norte, Serra, Carbonífera e Metropolitana de Porto Alegre.

Municípios que possuem Farmácias Amigas das Mulheres na região da Amzop

Cerro Grande (Rede Vida);

Constantina (Rede Vida);

Dois Irmãos das Missões (Rede Vida);

Erval Seco (Associadas/Cruz Azul);

Frederico Westphalen (Associadas/Cruz Azul, Farmaclin, Botânica Farma);

Jaboticaba (Associadas/Cruz Azul);

Lajeado do Bugre (Rede Vida);

Nonoai (Rede Vida);

Novo Tiradentes (Rede Vida);

Palmeira das Missões (Associadas/Cruz Azul);

Palmitinho (Rede Vida);

Pontão (Rede Vida);

Rodeio Bonito (Associadas/Cruz Azul e Rede Vida);

Ronda Alta (Rede Vida);

Rondinha (Rede Vida);

São José das Missões (Rede Vida);

Sarandi (Rede Vida);

Seberi (Associadas/Cruz Alta e Rede Vida);

Trindade do Sul (Rede Vida).

Texto: Leandro Molina (MTE 14614)

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