sábado, 23 novembro
Reprodução

Dirigindo-se rapidamente para a marca de um milhão de infectados, o Brasil tem 873.963 casos de Covid-19 registrados e 43.585 mortes, de acordo com o último boletim do consórcio de veículos de imprensa, divulgado nesta segunda-feira (15). O país segue à deriva sem um plano de contenção da doença. Em meio à reabertura do comércio em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, especialistas alertam para uma segunda onda de contaminações e um crescimento de mortes.

Um levantamento realizado em conjunto pela Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que o estado de São Paulo pode ter um aumento de de óbitos em 71% em apenas duas semanas. O estado hoje registra 10,6 mil mortes por Covid-19 desde o início da pandemia. Pela projeção, no início de julho, São Paulo poderá ter 24,9 mil óbitos. Em um cenário com adoção de medidas de isolamento social, o estado ainda assim registraria cerca de 5,5 mil mortes até o início do mês. “É muito arriscado flexibilizar a quarentena com tantas incertezas”, afirmou a cientista política Lorena Barberia, professora da USP e coordenadora do grupo, em entrevista ao jornal ‘Folha de S.Paulo‘.

No Rio de Janeiro, a taxa de isolamento caíram para o mais baixo patamar desde o início da pandemia, chegando a 38% na sexta-feira. No fim de semana, bares e restaurantes foram vistos lotados  apesar dos mais de 80 mil casos e 7,6 mil mortos.  “As atividades coletivas dentro de ambientes fechados têm riscos muito maiores do que ao ar livre, explicou a epidemiologista e professora de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Adelia Marçal dos Santos, à ‘ BBC News’. “Essa suspensão de gotículas no ar possibilita até que uma pessoa que está andando no mesmo ambiente, mas distante, seja infectada”, disse dos Santos.

O Distrito Federal também passa por uma explosão de casos da doença. Neste domingo, foram registrados 912 novas infecções e a região agora possui 22.871 contaminados. Durante uma manifestação em Brasília, o ministro da Educação Abraham Weintraub foi multado pelo governador Ibaneis Rocha por não utilizar máscara. Rocha, no entanto, não aplicou multa no presidente Jair Bolsonaro, que já participou de diversas manifestações na cidade sem máscara.

O desastre sanitário no Brasil acendeu um alerta vermelho para os países vizinhos, especialmente os que fazem fronteira com o país, como o Uruguai. Exemplo de sucesso no combate à doença, ao lado da Argentina, o Uruguai registra 23 mortes 848 casos, cerca de mil vezes a menos do que o índice brasileiro. Autoridades de Rivera, que faz fronteira com a cidade gaúcha de Santana do Livramento, estão preocupadas com o aumento da circulação de turistas vindos do lado brasileiro. Livramento teve a cor da bandeira alterada de laranja para vermelho, indicando a necessidade de maior rigidez no controle da circulação de pessoas.

Baixa mortalidade no Uruguai

Mais de 90% dos uruguaios permaneceram em casa, mesmo sem uma adoção oficial de quarentena obrigatória. Com o sucesso no achatamento da curva de contágios, o governo decidiu reabrir shoppings e liberou a volta de aulas presenciais nas escolas. As medidas do presidente Lacalle Pou foram baseadas  em orientações de um amplo grupo de apoio formado por médicos, engenheiros, matemáticos e especialistas em pesquisa estatística.

“Medimos o impacto e os riscos de cada passo que damos porque somos cientes da virulência e da intensidade do contágio do coronavírus”, afirmou o ministro da Saúde Daniel Salinas, em entrevista concedida à BBC News’ no final do mês. O ministro é cauteloso quanto à letalidade do vírus. “Ninguém pode dizer que ganhou essa batalha ou comemorar resultados. Estamos em estado de alerta permanentemente”, disse Salinas.

Sucesso Cubano

Cuba é outro exemplo de êxito no combate à pandemia do coronavírus no mundo. O país tem 2.262 casos e 84 óbitos. Com um dos mais eficazes sistemas de saúde público do mundo, o sucesso cubano baseia-se em testagens, rastreamento de casos e rígido isolamento. Além disso, interrompeu o transporte público, fechou fronteiras e escolas. O governo cubano enviou milhares de médicos para visitas regulares às casas da população para diagnósticos mais precisos da disseminação da pandemia.

“Vamos às casas das pessoas, pois nem todo mundo tem telefone ou celular e, sem entrar, perguntamos se têm sintomas, desconforto, quantas pessoas vivem lá, se há pessoas mais velhas ou se tiveram contato com casos confirmados. Casa por casa. Fazemos isso com toda a população”, explicou a médica Tania González ao portal ‘VilaWeb’.

Cuba deve retomar gradualmente o turismo no país mediante testagem dos viajantes. A data de reabertura das fronteiras ainda não está definida mas não deve demorar, uma vez que pandemia foi controlada há mais de um mês. “O país está preparando a estratégia para a fase de recuperação da covid-19, mas não a aplicaremos até termos certeza de que há um controle seguro da epidemia”, declarou recentemente o presidente Miguel Díaz-Canel.

Exemplo neozelandês

Com uma das mais baixas taxas de mortalidade em decorrência da Covid-19 do planeta, a Nova Zelândia é outro caso de sucesso no enfrentamento da pandemia. Já no início do surto, o governo neozelandês estabeleceu um canal de comunicação direto com a população com uma mensagem clara sobre a necessidade de a população obedecer as medidas de confinamento social. O oposto do que fez o governo brasileiro. “Temos que ser duros e devemos fazer isso [isolamento] cedo”, afirmou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, em março.

Na semana passada, o país anunciou a recuperação do último paciente com coronavírus. O país registrou 1.504 casos e 22 mortes. Livre da doença, a primeira-ministra anunciou a retomada das atividades e o fim do isolamento social.

“Estamos em uma posição mais segura e forte, mas ainda não há um caminho fácil de volta à vida pré-Covid”, disse a primeira-ministra, em entrevista coletiva. “A determinação e o foco que tivemos em nossa resposta à saúde agora serão investidos em nossa recuperação econômica”. O isolamento rígido durou mais de sete semanas.

Fonte: PT na Câmara, com informações da BBC, Folha de S. Paulo e Portal VilaWeb

Compartilhe