“A recomendação que deixo é que essa comissão reivindique ao governo estadual ir mais devagar, pois estamos queimando etapas que terão efeito cascata cujas consequências são imprevisíveis e se tivermos que recuar, não voltaremos para o isolamento, mas para o lockdown e aí os prejuízos econômicos serão muito maiores. E é preciso um outro nível de prevenção, como a ampliação da capacidade do sistema de saúde”. A afirmação foi feita pelo Coordenador Geral da RBCE (Rede Brasileira de Cooperação em Emergências), Dr. Armando De Negri Filho, durante reunião virtual promovida pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa na manhã desta quarta-feira (13). O encontro também contou com a participação dos deputados petistas Pepe Vargas, Valdeci Oliveira, Fernando Marroni, Edegar Oliveira, Zé Nunes e da coordenadora do Departamento de Fiscalização do Conselho Regional de Enfermagem, Cláudia Regina Mastrascusa Espíndola.
O deputado Pepe Vargas observou que quem pode fazer o enfrentamento à crise gerada pela pandemia é o governo federal, que não tem feito quase nada para conter a pandemia, muito menos para ajudar às pessoas que mais dependem dos serviços públicos. Pepe, que é médico, também observou que a China já está enfrentando uma segunda onda, assim como a Alemanha já enfrenta novos casos, depois que começou a flexibilizar. “A discussão sobre uma segunda onda precisa ser feita, pois segundas ondas vão ocorrer e talvez até terceiras ondas. As medidas que estão sendo tomadas não podem ser colocadas apenas a curto prazo. É preciso que fique o alerta e que se pense em medidas a longo prazo”. A terceira questão colocada pelo deputado foi a necessidade de manter a vigilância dos casos na comunidade. “Em são Leopoldo, descobriu-se um trabalhador que trabalhava em Garibaldi e descobriram que havia outros 70 que também trabalhavam no mesmo lugar. Foram testados e se identificou a contaminação. É preciso ter cautela ao pensar na flexibilização”, alertou.
Sobre a capacidade exposta no setor de saúde, Pepe chamou a atenção para o fato de que nem o primeiro nível de contingência hospitalar anunciado pelo governo do Estado está completo, pois depende de entregas que o governo federal precisava ter feito e não fez. Pepe sugeriu ainda que seja feito o contato com a bancada federal para abrir discussão com o Ministério da Saúde para a habilitação de leitos. “Até agora foram habilitados apenas 30 leitos. Temos que levantar essa discussão e também a necessidade de mais recursos para testes”. Outra proposta do parlamentar foi que a comissão ouça o Conselho Estadual de Saúde para saber o que eles têm a dizer. Ao concluir, afirmou que há uma postura do governo do estado de enfrentar a crise, mas está faltando à Secretaria Estadual da Saúde (SES), ouvir outros setores. “Há muitas incertezas. As contribuições trazidas no debate hoje são substantivas, mas não vejo que a secretaria de espaço para isso. Há sempre uma postura defensiva por parte da Secretaria”.
Para o deputado Valdeci Oliveira, apesar das medidas adotadas até aqui pelo governo do Estado, o que preocupa mesmo são os riscos que a flexibilização e a falta de leitos geram. Na região de Santa Maria, exemplificou, o indicador de leitos de UTI é de 1,32 para cada 10 mil pessoas. Além de tudo o crescimento dos casos de dengue tem assustado, pois também demanda o Sistema Único de Saúde. “A proposta que tenho é que o Hospital Regional de Santa Maria seja transformado em um hospital de retaguarda para atender a todos os casos da região”, sustentou. Outro ponto levantado foi a defesa em que o estado implemente também o auxílio emergencial, visto que o governo federal lançou esse apoio, mas as pessoas não estão conseguindo sequer acessar.
A representante do Coren, Claudia Regina Mastracusa, observou que o saldo positivo deixado nesta crise foi de que a contaminação acabou trazendo visibilidade para os profissionais. “Gostaria de pedir o auxílio dos deputados para abraçar nossas pautas históricas como as 30 horas semanais. O reconhecimento é importante, mas precisamos de pessoas que abracem as nossas lutas. Com o Covid-19, os profissionais não podem se desparamentar para descansar então que essas coisas sejam olhadas com carinho”.
A defesa feita por Armando Negri sobre a necessidade de se manter o distanciamento social foi feita com base no que ele chama de “primeiro mandamento da Medicina”, que é de não provocar danos. “Devemos olhar de maneira cuidadosa e não precipitar decisões que nos façam perdermos tudo que acumulamos”. Segundo o especialista, não bastasse a pandemia, o Brasil todo, inclusive a região Sul, enfrenta uma epidemia de Dengue, que também vai gerar aumento da demanda nos hospitais. Além disso, a mortalidade de pessoas maiores de 60 anos, é prenunciada entre os meses de maio a setembro porque o inverno provoca descompensações, o que reflete nas internações. “É um período de alto estresse. Tivemos alguma folga agora por uma retração da própria comunidade que deixou de procurar atendimento, mas que nos próximos meses voltarão a acontecer. Os atendimentos eletivos também foram suspensos, mas precisarão ser retomados e justamente em um ambiente de muita incerteza”, argumentou, defendendo que o ideal é que o pico da pandemia nunca se faça presente. “Não gostaríamos de testar o recurso último da terapia intensiva como solução, portanto deveríamos ter um indicador importante que é de evitar a terapia intensiva”.
Texto: Claiton Stumpf (MTB 9747)